A Dívida Pública Federal (DPF) atingiu R$ 8,253 trilhões em outubro, segundo dados divulgados pelo Tesouro Nacional nesta quinta-feira (27/11/2025). O valor representa alta de 1,62% em relação a setembro, impulsionada sobretudo pela emissão líquida de títulos vinculados à taxa Selic, em um cenário de juros básicos elevados e volatilidade internacional.
A DPF já havia ultrapassado a marca histórica dos R$ 8 trilhões em agosto, e as projeções do Plano Anual de Financiamento (PAF) indicam que o estoque pode encerrar o ano entre R$ 8,5 trilhões e R$ 8,8 trilhões. O avanço reflete um ambiente de juros altos, demanda crescente por títulos pós-fixados e pressões do mercado.
A Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) passou de R$ 7,82 trilhões para R$ 7,948 trilhões, alta de 0,31%. Em outubro, as emissões superaram os resgates em R$ 41,38 bilhões, sobretudo em papéis atrelados à Selic. A esse movimento somou-se a apropriação de R$ 85,23 bilhões em juros, resultado direto da taxa básica de 15% ao ano.
A apropriação de juros — crescimento automático do estoque pela incidência da taxa contratada — segue pressionando a dívida. Com o mercado operando sob expectativas de menor risco nos títulos pós-fixados, o Tesouro ampliou sua oferta nesse tipo de papel.
Avanço da dívida externa e impacto do câmbio
A Dívida Pública Federal externa (DPFe) também cresceu, avançando 1,17% e atingindo R$ 305,06 bilhões. A valorização de 1,24% do dólar em outubro, em meio às tensões comerciais entre Estados Unidos e China no governo Trump, foi o principal fator de pressão.
Esse comportamento cambial afeta diretamente a parcela da dívida corrigida por variação do dólar, composta tanto por antigos títulos internos indexados à moeda quanto pela dívida externa tradicional.
Colchão da dívida volta a subir e reforça liquidez do Tesouro
Depois da queda observada em setembro, o colchão de liquidez — reserva usada para atravessar momentos de instabilidade ou concentração de vencimentos — voltou a crescer. Passou de R$ 1,032 trilhão para R$ 1,048 trilhão.
Atualmente, essa reserva cobre 8,81 meses de vencimentos da dívida pública. Para os próximos 12 meses, o Tesouro estima o vencimento de R$ 1,434 trilhão em títulos, reforçando a necessidade de manutenção de um volume seguro de liquidez.
O aumento do colchão está diretamente associado à emissão líquida positiva no mês, que superou o volume de resgates e reforçou a capacidade de gerenciamento da dívida.
Composição da dívida: Selic ganha espaço e prefixados recuam
A estrutura da DPF apresentou mudanças relevantes entre setembro e outubro, seguindo a tendência de maior procura por títulos pós-fixados. As variações foram as seguintes:
- Selic: de 47,47% para 48,19%
- Inflação: de 26,81% para 26,68%
- Prefixados: de 22,02% para 21,44%
- Câmbio: de 3,7% para 3,68%
As projeções do PAF indicam que a participação dos títulos atrelados à Selic deve encerrar 2025 entre 48% e 52%, movimento coerente com a atual política monetária. Títulos prefixados, considerados mais previsíveis para o Tesouro, perderam espaço em um momento de volatilidade e demanda por juros mais altos.
A aversão a prefixados ocorre porque, em cenários instáveis, investidores exigem taxas elevadas, encarecendo a rolagem da dívida e pressionando o planejamento fiscal.
Prazo médio e perfil dos detentores
O prazo médio da DPF variou de 4,16 para 4,14 anos. Embora a oscilação seja pequena, prazos mais longos indicam maior confiança dos investidores na capacidade de pagamento do governo.
Em relação aos detentores da dívida interna, a composição permanece concentrada em grandes investidores institucionais:
- Instituições financeiras: 32,21%
- Fundos de pensão: 22,97%
- Fundos de investimento: 21,21%
- Estrangeiros (não residentes): 10,46%
- Demais grupos: 13,2%
A participação de estrangeiros cresceu levemente em relação a setembro, quando estava em 10,19%, apesar da maior tensão nos mercados. Em comparação anual, o volume se aproxima dos níveis mais altos desde 2018.
O peso dos juros elevados e o risco de concentração na Selic
A escalada da Dívida Pública Federal em outubro reforça a pressão estrutural imposta pela combinação de juros elevados, demanda crescente por títulos pós-fixados e um cenário externo marcado por incertezas. A predominância dos papéis atrelados à Selic atende ao apetite do mercado, mas aumenta a sensibilidade da dívida às decisões de política monetária e reduz a previsibilidade fiscal.
O recuo dos títulos prefixados revela uma fragilidade operacional: em momentos de estresse, o Tesouro perde capacidade de travar custos futuros e fica mais exposto a oscilações de curto prazo. Embora o colchão de liquidez robusto garanta segurança temporária, a trajetória de médio prazo depende de estabilidade macroeconômica, credibilidade fiscal e aumento da confiança do investidor — condições que ainda enfrentam desafios.
Principais dados da Dívida Pública da União
Estoque da dívida
- DPF: R$ 8,253 trilhões
- Alta mensal: 1,62%
- Projeção PAF 2025: R$ 8,5 a R$ 8,8 trilhões
DPMFi (dívida interna)
- Setembro: R$ 7,82 trilhões
- Outubro: R$ 7,948 trilhões
- Emissão líquida: R$ 41,38 bilhões
- Apropriação de juros: R$ 85,23 bilhões
DPFe (dívida externa)
- Setembro: R$ 301,53 bilhões
- Outubro: R$ 305,06 bilhões
- Alta do dólar: 1,24%
Colchão de liquidez
- Valor: R$ 1,048 trilhão
- Cobertura: 8,81 meses
- Vencimentos próximos 12 meses: R$ 1,434 trilhão
Composição da DPF
- Selic: 48,19%
- Inflação: 26,68%
- Prefixados: 21,44%
- Câmbio: 3,68%
Detentores da dívida
- Instituições financeiras: 32,21%
- Fundos de pensão: 22,97%
- Fundos de investimento: 21,21%
- Estrangeiros: 10,46%
-
Outros: 13,2%
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