Mineradoras em Goiás obtêm financiamento dos EUA e ampliam disputa global por terras raras

Apoio do banco estatal americano DFC reforça interesse estratégico e impacta negociações do Brasil sobre minerais críticos.
Apoio do banco estatal americano DFC reforça interesse estratégico e impacta negociações do Brasil sobre minerais críticos.

O financiamento de mineradoras que atuam em Goiás pelo banco estatal norte-americano DFC ampliou a presença dos Estados Unidos na cadeia de suprimento de terras raras no Brasil, mesmo sem a formalização de um acordo governamental bilateral. A movimentação envolve as empresas Serra Verde e Aclara, com projetos considerados avançados no estado, e ocorre em um contexto de disputa internacional por minerais estratégicos.

Segundo informações publicadas pela imprensa nacional, os contratos firmados podem assegurar prioridade de acesso à produção brasileira pelos EUA, ao mesmo tempo em que reduzem o poder de barganha do Brasil em negociações futuras sobre agregação de valor e industrialização interna.

Financiamento da Serra Verde amplia produção em Goiás

A Serra Verde, atualmente única produtora de terras raras em operação no país, anunciou a obtenção de um empréstimo de US$ 465 milhões, equivalente a mais de R$ 2,5 bilhões, junto ao DFC. Os recursos serão destinados à expansão da mina localizada em Goiás, ampliando a capacidade produtiva da empresa.

Embora os termos contratuais não tenham sido tornados públicos, especialistas ouvidos pela imprensa avaliam que há compromissos de direcionamento de parte da produção ao mercado norte-americano. A mineradora também ajustou contratos com compradores chineses para permitir o fornecimento a clientes ocidentais, em meio à concentração do refino global na China e na Malásia.

Projeto da Aclara prevê refino nos Estados Unidos

A Aclara, que também desenvolve um projeto de terras raras em Goiás, recebeu US$ 5 milhões do DFC para a conclusão de estudos de viabilidade. A empresa informou que pretende construir uma refinaria nos Estados Unidos até 2028, destinada ao processamento do concentrado extraído no Brasil.

De acordo com a companhia, a unidade poderá suprir mais de 75% da demanda norte-americana por terras raras pesadas, utilizadas principalmente na produção de veículos elétricos. A decisão de realizar o refino fora do território brasileiro contraria a posição do governo federal, que defende a agregação de valor no país como condição central para acordos sobre minerais críticos.

Impactos para o Brasil e a geopolítica dos minerais críticos

Apesar de a Aclara afirmar que o financiamento não impõe obrigação de envio da produção aos EUA, a estratégia adotada reforça a dependência externa no processamento e mantém as negociações bilaterais sem avanços concretos. O Brasil busca consolidar uma política que fortaleça a industrialização doméstica e aumente sua participação na cadeia global.

Experiências internacionais indicam caminhos distintos. Os Estados Unidos firmaram recentemente acordos bilionários com a Austrália para fortalecer o processamento de minerais críticos. Analistas avaliam, contudo, que o modelo brasileiro de mineração aberta ao capital estrangeiro permite a entrada de investimentos mesmo sem pactos governamentais formais.

Disputa global e redução da dependência da China

O interesse norte-americano em projetos no Brasil está inserido em uma estratégia mais ampla de reduzir a dependência da China, responsável por cerca de 60% da extração global e 90% do refino de terras raras. Iniciativas semelhantes já foram observadas em acordos com países africanos, como a República Democrática do Congo.

Esses movimentos evidenciam a intensificação da disputa global por cadeias de suprimento alternativas, nas quais o Brasil ocupa posição relevante devido à disponibilidade de recursos minerais estratégicos e à estabilidade institucional do setor.

*Com informações da Sputnik News.


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