Ação judicial do Caso Pityocampa é transferida para Justiça Federal; Processo envolve COOFSAÚDE e a relação estabelecida com o Governo do Estado, Feira de Santana e outros 56 municípios

Caso Pityocampa é transferida da Justiça Estadual para Justiça Federal (JF). Vara criminal federal de Salvador deve ser designada após distribuição da ACPIA.
Caso Pityocampa é transferida da Justiça Estadual para Justiça Federal (JF). Vara criminal federal de Salvador deve ser designada após distribuição da ACPIA.

Fonte do Jornal Grande Bahia (JGB) informou neste domingo (28/07/2019) que o juízo da Vara dos Feitos Relativos a Delitos Praticados por Organizações Criminosas e Lavagem de Dinheiro da Comarca de Salvador declinou a competência para julgamento do processo referente ao Caso Pityocampa, transferindo-o para a Justiça Federal de Salvador (JF).

A ação criminal foi registrada sob o nº 1008369-28.2019.4.01.3300 e encontra-se em fase de distribuição, ainda sem definição da vara e do juiz titular responsável.

Atuação do Ministério Público Federal

Segundo documento encaminhado ao JGB, o procurador da República Fernando Túlio da Silva assumiu a titularidade do processo, representando o Estado na Ação Civil por Ato de Improbidade Administrativa (ACPIA). Entre os réus constam a cooperativa COOFSAÚDE (Cooperativa de Trabalho Ltda.) e pessoas físicas como Haroldo Mardem Dourado Casaes, Eugênio Nascimento Ramalho, José dos Santos Fróes, Lucas Moura Cerqueira, Luís Carlos Lima Sales, Murilo Pinheiro de Cerqueira e Sueli Campos Sobral de Andrade.

No âmbito do MPF, o caso tramita na 5ª Câmara de Coordenação e Revisão, colegiado responsável por supervisionar processos relacionados à corrupção e à improbidade administrativa, conforme a Lei nº 8.429/92. A Câmara também atua em crimes contra a administração pública (arts. 332, 333 e 335 do Código Penal) e em ilícitos de prefeitos e vereadores previstos na Lei de Licitações.

Questões em aberto

Até o momento, não foi possível identificar o motivo da Justiça Estadual para transferir a competência à esfera federal.

Outro ponto não esclarecido refere-se às alterações no rol de acusados: alguns nomes foram suprimidos e outros incluídos na lista de réus, sem que a razão tenha sido detalhada.

Uma apuração conduzida pelo JGB revelou que o processo não consta nem na base da Justiça Federal nem na da Justiça Estadual. Duas hipóteses são consideradas: a primeira, de que o processo esteja em andamento, mas com cadastro restrito apenas ao MPF; a segunda, de que o caso tenha sido colocado em segredo de justiça.

A fonte ouvida acrescentou que novas ações derivadas do Caso Pityocampa devem ser deflagradas em breve. Ainda segundo a mesma fonte, a situação dos réus pouco se alterou desde a fase inicial: dois permanecem em prisão domiciliar, seis seguem custodiados em presídio e um obteve liberdade.

Síntese do Caso Pityocampa

Em 18 de fevereiro de 2018, o Ministério Público da Bahia (MPBA), por meio do GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais), deflagrou, em parceria com a CGU, Receita Federal e PRF, a Operação Pityocampa. O objetivo foi desarticular organização criminosa responsável por desviar recursos milionários da saúde pública de Feira de Santana.

Montante desviado

Segundo o MP, entre os R$ 285,6 milhões repassados pelo Fundo Municipal de Saúde e pela Fundação Hospitalar de Feira de Santana, cerca de R$ 71,6 milhões foram desviados por meio da atuação da COOFSAÚDE. Isso representa aproximadamente 30% dos valores administrados, ou seja, a cada R$ 10 investidos, R$ 3 eram desviados.

Contratos e abrangência

A COOFSAÚDE também atuou em outros 56 municípios baianos e firmou contratos com o Governo do Estado da Bahia. Entre 2007 e 2018, a cooperativa recebeu R$ 909,5 milhões em recursos públicos destinados à saúde, sendo R$ 43,4 milhões oriundos de contratos celebrados com o Estado entre 2013 e 2016.

Embora não haja denúncia formal sobre desvios nesses contratos estaduais, as investigações permanecem em curso e podem gerar novas acusações.

Estrutura criminosa

A denúncia do MP aponta que a organização criminosa tinha dois núcleos principais:

  • Político-administrativo, formado por agentes públicos;
  • Econômico-empresarial, subdividido em dois grupos: um responsável por fraudes licitatórias e lavagem de dinheiro, e outro formado por “laranjas” para operacionalizar o branqueamento de capitais.

Ação penal e CPI arquivada

Em 27 de dezembro de 2018, o MP apresentou a Ação Penal nº 0577821-78.2018.8.05.0001, que tramitava na Vara de Combate ao Crime Organizado da Comarca de Salvador, sob titularidade do juiz Ícaro Almeida Matos.

No Legislativo municipal, o vereador Roberto Tourinho (PV) propôs a criação de uma CPI em 4 de fevereiro de 2019, mas a iniciativa foi arquivada por falta de assinaturas suficientes, por determinação do presidente da Câmara, vereador José Carneiro Rocha (PSDB).

Mudança de competência

Em julho de 2019, a Justiça Estadual transferiu o caso para a Justiça Federal, abrindo um novo capítulo na tramitação judicial. Com isso, o MPF passou a atuar como acusador, em substituição ao Ministério Público Estadual.

A Operação Pityocampa

O que foi

  • Ação da CGU, MPBA, Receita Federal e PRF.
  • Deflagrada em 18/12/2018, em Feira de Santana (BA).
  • Investigação sobre a Coofesaúde, contratada pela Prefeitura desde 2009.

Esquema descoberto

  • Fraudes em licitações da saúde.
  • Superfaturamento e inclusão de custos fictícios.
  • Pagamentos sem comprovação de serviços.
  • Prejuízo estimado: R$ 24 milhões (2016–2017).
  • Desvios totais: + R$ 100 milhões em 3 anos.

 Ação policial

  • 23 mandados de busca e apreensão.
  • 10 prisões temporárias.
  • Bloqueio de bens e quebra de sigilo.
  • Apreensão de dinheiro, veículos de luxo, aeronaves, embarcações, armas e munições.

Envolvidos

  • Núcleos operacional e financeiro já investigados.
  • Próxima etapa: núcleo político, com possível responsabilização de prefeitos e gestores.

Impactos

  • Risco de interrupção de serviços terceirizados na saúde.
  • Possível efeito dominó em outros municípios baianos.
  • Pressão por reformas nos processos de licitação e controle público.

O nome

  • Pityocampa = lagarta-do-pinheiro, praga devastadora.
  • O pinheiro simboliza o cooperativismo.
  • Metáfora: corrupção teria corroído os valores de solidariedade da cooperativa.
Documento informa que Caso Pityocampa foi transferido da Justiça Estadual para Justiça Federal.
Documento informa que Caso Pityocampa foi transferido da Justiça Estadual para Justiça Federal.

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.