Não eram bolos de festas. Nem tão pouco de noiva, cheio de corações, bonequinhos e de puro açúcar.
Sabemos de que era feito: era de puro amor! Era daqueles em que o preparo se confundia com rituais cheios de lições de criatividade e inspiração. Elementos fundamentais para uma vida mais doce!
Na mesa provençal, todos os detalhes estavam à vista, de forma bucólica e bela: a grande bacia esmaltada, colher de pau, batedor e prato fundo para as clara, açúcar, ovos branquinhos, farinha, fermento, manteiga, pitada de sal, raspas de limão e a essência de baunilha, em meio a tantas outras essências de dedicação, amor e afeto.
Era suave perceber como o bolo crescia ao seu olhar, em suas mãos, em seu coração! Não haviam complicações no fazer da massa, enquanto sua irmã Dora caprichava nas claras.
No decorrer do ritual, a harmonia e o silêncio se retratavam naquele momento cheio de concentração. Barulhos e inquietações não combinavam com aquele ritual de prazer e paz e, ainda por cima, poderiam desandar os ovos.
Mais um pouco, saia do forno toda a felicidade, mesmo que por instantes agredida por palito fino, no intuito de saber se a massa estava firme, porém leve!
Precisava sair perfeito, como todo o cenário que foi posto à mesa. Para decorar: promessas perdidas, lembranças distantes, memórias afetivas, saudades latentes. Saber a receita é fácil! Difícil era fazer igualzinho a Ela!
Hoje seria dia de bolo! E seria bolo de aniversário de mãe. Aquele bolo que não decepciona no recheio. Aquele bolo sem demora de ser cortado, mesmo com todas as recomendações de que quente dá dor de barriga. Aquele bolo que nunca solava, sempre crescente como o seu materno amor. Aquele bolo que rendia pedaços para os seus, para os vizinhos e ainda surpreendia quando, depois de dias, surgia algum pedaço guardado: sabe-se lá pra quem. Aquele bolo que após anos ainda incendeia a memória olfativa. Aquele bolo que hoje custaria menos do que o número de velas de seus anos, mas que é uma das lembranças mais belas da minha vida. Parabéns, minha mãe!
Em homenagem às mães que ritualizam suas receitas de amor.
*Ana Maria Mendes Sampaio, doutoranda e Mestra em Educação pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Pós-Graduada em Política do Planejamento Pedagógico: Currículo, Avaliação e Didática – UNEB – Universidade do Estado da Bahia. Licenciada em Pedagogia – UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8951345429657611

Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




