Capítulo I do Caso BRT: A crise na mobilidade da população de Feira de Santana resultante do desplanejamento e da ineficiência na fiscalização

Exemplo sintomático da ineficiência do planejamento da mobilidade populacional de Feira de Santana, passarela em frente ao Shopping Cidade das Compras (Centro Comercial Popular) obstruiu calçada e obriga que pessoas transitem pelo meio da rua.
Exemplo sintomático da ineficiência do planejamento da mobilidade populacional de Feira de Santana, passarela em frente ao Shopping Cidade das Compras (Centro Comercial Popular) obstruiu calçada e obriga que pessoas transitem pelo meio da rua.

Feira de Santana, uma das cidades mais populosas do interior da Bahia, enfrenta uma crise significativa em sua mobilidade urbana. A situação, que se arrasta há anos, é marcada por um sistema de transporte público considerado caro, ineficiente e desconfortável para a população. Essa realidade é resultado de um conjunto de fatores que incluem desplanejamento, falta de fiscalização eficaz e decisões políticas que visam mais aos interesses eleitorais do que ao bem-estar da população.

Desplanejamento: Uma Década de Omissões

Ao longo das últimas duas décadas, a cidade tem sofrido com a ausência de um planejamento urbano que contemple as necessidades de mobilidade de sua população crescente. As gestões municipais, desde 2001, sob a liderança de José Ronaldo (DEM), Tarcízio Pimenta (DEM e PDT) e Colbert Martins Filho (MDB), não conseguiram implementar um projeto de mobilidade sustentável e eficiente. O resultado é um sistema viário desorganizado, sem ciclovias suficientes, com calçadas em condições precárias e um transporte público que não atende às demandas dos cidadãos.

A Passarela do Shopping Cidade das Compras: Um Símbolo de Falhas no Planejamento

Um exemplo claro da falta de planejamento pode ser visto na passarela construída em frente ao Shopping Cidade das Compras, também conhecido como Centro Comercial Popular. A estrutura, em vez de facilitar a mobilidade dos pedestres, obstruiu a calçada, obrigando os transeuntes a caminhar pela rua, expondo-os ao risco de acidentes. Este caso é apenas um dos muitos que ilustram como a ausência de uma visão de longo prazo e a falta de fiscalização adequada contribuem para a crise na mobilidade urbana da cidade.

Decisões Políticas e Seus Impactos na Mobilidade

As decisões políticas tomadas ao longo desses 20 anos também desempenharam um papel crucial na crise da mobilidade. Muitas dessas decisões foram motivadas por interesses eleitorais, visando acomodar grupos com demandas conflitantes, mas que não resultaram em melhorias concretas para a mobilidade da população. O exemplo mais notório é a adoção do Sistema BRT (Bus Rapid Transit) em março de 2014 pela gestão de José Ronaldo. Embora tenha sido apresentado como uma solução para os problemas de transporte público, o BRT falhou em alcançar seus objetivos, devido a deficiências no planejamento, na execução e na gestão das rotas.

Sistema BRT: Expectativas Frustradas

O BRT foi concebido como uma solução moderna para o transporte público em Feira de Santana, prometendo eficiência e rapidez no deslocamento dos cidadãos. No entanto, a realidade mostrou-se distante das promessas. As rotas implantadas não atenderam de forma adequada às necessidades da população, resultando em um baixo número de passageiros e, consequentemente, em uma operação custosa para o município. A ineficiência do BRT, somada à falta de integração com outros modais de transporte e à ausência de melhorias na infraestrutura viária, contribuiu para agravar a crise na mobilidade urbana.

Impactos na Qualidade de Vida e na Economia Local

A crise na mobilidade urbana não afeta apenas o transporte público, mas tem repercussões diretas na qualidade de vida dos moradores e na economia local. A falta de um sistema de transporte eficiente aumenta o tempo de deslocamento, reduzindo a produtividade e gerando estresse entre os trabalhadores. Além disso, a precariedade das calçadas e a ausência de ciclovias seguras desincentivam o uso de meios de transporte alternativos, como bicicletas e caminhadas, que poderiam aliviar a pressão sobre o sistema viário. Esse cenário resulta em um trânsito cada vez mais congestionado e na deterioração da qualidade do ar, afetando a saúde pública e o meio ambiente.

Regulação do Uso do Solo e Degradação Urbana

A crise na mobilidade urbana de Feira de Santana também está intimamente ligada à regulação do uso do solo, ou à falta dela. A ocupação desordenada de espaços públicos, como praças e calçadas, por atividades comerciais informais, como o caso da passarela em frente ao Shopping Cidade das Compras, é um reflexo da ausência de uma política clara e eficiente de uso do solo. Essa desordem contribui para a degradação da infraestrutura urbana e dificulta a implementação de um sistema de mobilidade eficaz e seguro.

Responsabilidade e Fiscalização: Um Déficit na Gestão Pública

Outro fator que contribui para a crise na mobilidade urbana é a falta de fiscalização eficiente por parte do poder público. A inércia dos órgãos municipais em monitorar e regular o uso do solo, bem como em garantir a manutenção adequada da infraestrutura viária, resulta em uma cidade onde as normas de urbanismo são frequentemente ignoradas. A falta de ação por parte do poder público cria um ambiente propício para o crescimento de problemas que, se tratados de forma preventiva, poderiam ter sido mitigados ou evitados.

Desafios e Perspectivas para a Mobilidade em Feira de Santana

A crise na mobilidade urbana de Feira de Santana é um reflexo de duas décadas de desplanejamento, ineficiência na fiscalização e decisões políticas que não priorizaram as necessidades da população. A implementação do Sistema BRT, embora promissora, não foi suficiente para resolver os problemas estruturais do transporte público e acabou por evidenciar ainda mais as falhas na gestão da mobilidade. Para que Feira de Santana possa superar esses desafios, é necessário um compromisso real com o planejamento urbano de longo prazo, que inclua a requalificação das calçadas, a criação de ciclovias, a organização do sistema viário e a implementação de uma fiscalização rigorosa e constante.

*Carlos Augusto, jornalista e cientista social.

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