“Quem tem que ganhar com a Petrobras é o povo brasileiro, que a criou”, diz ex-presidente Lula em defesa da estatal e de uma adequada política de preços para os combustíveis

Lula: Os acionistas merecem ganhar alguma coisa, mas quem tem que ganhar com a Petrobras é o povo brasileiro, que é o criador da Petrobras.
Lula: Os acionistas merecem ganhar alguma coisa, mas quem tem que ganhar com a Petrobras é o povo brasileiro, que é o criador da Petrobras.

O povo brasileiro sofre hoje com uma inflação descontrolada e com a fome porque Jair Bolsonaro se recusa a fazer o que deveria como presidente da República, denunciou o ex-presidente Lula (PT) nesta terça-feira (30/11/2021), em entrevista à Rádio Gaúcha (assista à íntegra abaixo). O ex-presidente explicou como grande parte da inflação que corrói a renda dos trabalhadores e deixa muita gente sem ter o que comer é resultado direto das escolhas feitas pelo atual presidente e sua equipe, que não governam para a população, mas para interesses estrangeiros.

“Cinquenta por cento da inflação hoje está subordinada aos preços controlados pelo governo. Portanto, o governo tem muita responsabilidade pela inflação, pelo preço da energia, pelo preço do gás, pelo preço da gasolina, pelo preço do óleo diesel”, disse Lula, denunciando, por exemplo, a política de preços da Petrobras, que cobra em dólar pelo combustível produzido dentro do país.

“Olha o preço da gasolina. Não tem explicação a Petrobras manter preço internacional num país que é autossuficiente. Não tem sentido o Brasil tentar distribuir este ano mais de US$ 65 bilhões de dividendos para os acionistas minoritários em detrimento do povo brasileiro. Que estupidez é essa?”, indagou Lula, lembrando que, em seu governo e no de Dilma Rousseff, a política era outra e respeitava os interesses nacionais.

“Essa política de preços não é uma obrigação internacional, é uma decisão da Petrobras. E o problema é que o Bolsonaro não governa o Brasil. Vou dizer uma coisa: qualquer pessoa séria que ganhar as eleições em 2022 não vai manter essa política de paridade de preço internacional do petróleo. Não é razoável, não é respeitoso com os homens e as mulheres deste país, com as pessoas que trabalham no seu caminhão, no seu carro. Os acionistas merecem ganhar alguma coisa, mas quem tem que ganhar com a Petrobras é o povo brasileiro, que é o criador da Petrobras”, completou.

Da mesma forma, a inflação dos alimentos está ligada tanto ao alto preço dos combustíveis, que encarece o frete, quanto à inação de Bolsonaro, prosseguiu Lula. “O problema que você vê na questão do alimento é que você tem uma parcela menor das pessoas comprando e, por conta da seca em algumas regiões e da falta de financiamento em outras, cai um pouco a produção agrícola. E o que nós temos que fazer é incentivar a agricultura familiar, é colocar mais dinheiro, é fazer mais financiamento”, disse Lula, lembrando que, em 2008, quando o Brasil foi ameaçado por uma possível crise de produção, seu governo lançou o programa Mais Alimentos, que incentivou os pequenos e médios agricultores a não deixar a escassez ocorrer.

“A crise acontece para você resolver. Para que existe o médico? Não é para fazer consulta, é para curar as pessoas, é para dar o remédio certo. Para que serve um presidente da República? Para resolver as crises. E como você resolve as crises? Se você não sabe, consulta o povo que o povo sabe. Por isso no meu governo eu fiz 74 conferências nacionais para decidir as políticas públicas que nós íamos colocar em prática neste país. Portanto, a única coisa que eu posso dizer é que o povo vai voltar a governar este país”, afirmou o ex-presidente.

Lava Jato e Teto de Gastos

O grande problema é que Bolsonaro segue o plano da Lava Jato, do ex-juiz Sergio Moro, do Departamento de Estado americano e dos que patrocinaram o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff, que tinham, entre seus objetivos, “subordinar o Brasil aos interesses das multinacionais que estavam preparadas para destruir a indústria de engenharia no Brasil, a indústria naval, a indústria de óleo e gás e, ainda, tentar fazer um acordo de US$ 3,8 bilhões dos quais uma parte ia para (o ex-procurador Deltan) Dallagnol criar uma fundação”.

Uma das formas de subordinar o Brasil, apontou Lula, foi implementar o Teto de Gastos, proposta aprovada no governo Temer que busca impedir o Estado brasileiro de investir como deve. “O Teto de Gastos só pode ser aprovado em um país em que o presidente da República não tem autoridade moral para decidir o que fazer e como investir e onde investir. Você não pode ter uma lei que impede você de fazer investimento quando é necessário fazer investimento”, argumentou Lula, lembrando que, em 2008, o Brasil foi o último a entrar e o primeiro a sair da crise graças aos investimentos feitos pelo governo, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

“Não existe como governar este país ou qualquer país do mundo se o governo não tiver capacidade de ser o indutor do desenvolvimento. Na União Europeia, agora, eles colocaram 760 bilhões de euros para salvar a economia. O Biden cansa de anunciar, todo dia, trilhões e trilhões. Esse é o papel do Estado. Mas qual é o papel do Bolsonaro? Diminuir o Bolsa Família, quando, na verdade, este país precisa de mais política de inclusão social, porque a fome voltou forte, o desemprego voltou forte e a massa salarial caiu de forma assustadora”, acrescentou.

Lula também desmentiu o argumento de que investimentos por parte do Estado significam irresponsabilidade fiscal. Quando governou, o PT nunca deixou de investir e nunca agiu de forma irresponsável com as contas públicas. “Vou lhe dizer o que é responsabilidade fiscal. Fui presidente durante oito anos. Quando cheguei à Presidência, nós tínhamos uma dívida pública interna de 60% do PIB. Quando a Dilma terminou o mandato, ela estava em 32% do PIB. Nós fomos o único país do G-20 que, durante o período em que governamos o país, fizemos superávit primário. Responsabilidade é algo que você traz nos seus compromissos políticos”, ensinou.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.