Caso Faroeste: A Fazenda Estrondo (Condomínio Cachoeira do Estrondo)

O Caso Faroeste é resultado do conjunto de processos judiciais resultantes das investigações deflagradas pela Polícia Federal (PF) no âmbito das diversas fases da ‘Operação Faroeste’, cuja finalidade é apurar suposto esquema de venda de decisões judiciais, formação de quadrilha, grilagem de terras e lavagem de dinheiro que envolve o Poder Judiciário Estadual da Bahia (PJBA) e em outras instituições públicas e privadas. Um dos focos da operação é o Condomínio Agronegócio Fazenda Estrondo, um megaempreendimento que reúne 30 fazendas e ocupa uma área de 444 mil hectares no município de Formosa do Rio Preto, no oeste da Bahia.

A Fazenda Estrondo é considerada uma das maiores produtoras de soja, algodão e milho do Brasil, e conta com a participação de empresas multinacionais como Bunge e Cargill. O empreendimento é acusado de se apropriar ilegalmente de terras públicas e de territórios tradicionalmente ocupados por comunidades geraizeiras, quilombolas e indígenas na região.

O conflito fundiário entre a Fazenda Estrondo e as comunidades locais se arrasta há cerca de 40 anos e já foi considerado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) como um dos maiores casos de grilagem do Brasil. As comunidades denunciam que sofrem violações de direitos humanos, ambientais e culturais por parte do empreendimento, que usa de violência, intimidação e influência política para manter o controle das terras.

Em maio de 2017, as comunidades geraizeiras de Aldeia, Cachoeira, Marinheiro, Arroz, Cacimbinha, Gatos e Mutamba obtiveram uma decisão liminar da Justiça Federal que reconhecia o direito de posse das comunidades sobre 43 mil hectares que tradicionalmente ocupam dentro da área da Fazenda Estrondo. A liminar determinava que o empreendimento retirasse as cercas que impediam o acesso das comunidades aos seus territórios e aos recursos naturais.

No entanto, a liminar nunca foi cumprida pela Fazenda Estrondo, que recorreu da decisão e continuou a exercer pressão sobre as comunidades. Em setembro de 2019, a Polícia Federal (PF) realizou uma operação para cumprir a liminar e retirar as cercas instaladas pelo empreendimento. A operação foi acompanhada por representantes do Ministério Público Federal (MPF), da Defensoria Pública da União (DPU), do Incra, da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

No entanto, logo após a saída das autoridades, as cercas foram recolocadas pela Fazenda Estrondo, que também intensificou as ameaças e os ataques contra as comunidades. Em outubro de 2019, o agricultor Fernando Ferreira Lima foi baleado na perna por agentes da empresa de segurança Estrela Guia, contratada pelo empreendimento. Em novembro do mesmo ano, o líder comunitário José Alves dos Santos foi preso arbitrariamente por policiais militares a mando da Fazenda Estrondo.

Em março de 2020, a Fazenda Estrondo foi alvo da quinta fase da Operação Faroeste, que investiga a venda de decisões judiciais no TJBA para favorecer o empreendimento. A operação resultou na prisão da desembargadora Sandra Inês Moraes Rusciolelli Azevedo e do filho dela, o advogado Vasco Rusciolelli Azevedo, acusados de receber mais de R$ 4 milhões em propina para beneficiar o Grupo Bom Jesus Agropecuária, um dos integrantes do Condomínio Fazenda Estrondo.

Em outubro de 2020, a desembargadora e o filho firmaram um acordo de delação premiada com o MPF, no qual revelaram detalhes do esquema criminoso que envolvia outros magistrados, advogados, empresários e agentes públicos. O acordo foi homologado pelo ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em junho deste ano.

O Caso Faroeste ainda está em andamento e pode ter novos desdobramentos. A PF e a PGR continuam apurando os fatos e podem deflagrar novas fases da operação. O STJ ainda não julgou as denúncias apresentadas pelo MPF contra os investigados. Além disso, há recursos pendentes de análise na corte. O TJBA também instaurou processos administrativos disciplinares contra os magistrados afastados e pode aplicar sanções que vão desde advertência até aposentadoria compulsória.

As comunidades geraizeiras de Formosa do Rio Preto seguem lutando pelo reconhecimento de seus direitos territoriais e pela garantia de sua sobrevivência física e cultural. Elas contam com o apoio de organizações da sociedade civil, como a CPT, a Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais da Bahia (AATR-BA), o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e a Rede Cerrado. Elas também têm participado de audiências públicas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal para denunciar a situação que vivem.

*Caso Faroeste: A Fazenda Estrondo, um latifúndio de 444 mil hectares que ameaça comunidades tradicionais no oeste da Bahia

O que é o Agronegócio Estrondo

O Agronegócio Estrondo, localizado no município de Formosa do Rio Preto, no oeste da Bahia, tem se consolidado como um dos principais polos de produção de grãos e fibras do Brasil. Com vastas extensões de terras agricultáveis e condições climáticas favoráveis, a região se destaca pela mecanização e pela alta produtividade no cultivo de soja, milho e algodão.

Estrutura e Principais Empresas do Empreendimento

O Agronegócio Estrondo abrange diversas propriedades rurais pertencentes a múltiplas empresas, incluindo:

  • Agropecuária Alaska S.A.
  • Agropecuária Canadá S.A.
  • Agropecuária Despertar S.A.
  • Cia. Melhoramentos do Oeste da Bahia
  • Delfin Rio S.A. Crédito Imobiliário

A região também conta com diversas sedes de produção, como Alaska, Algodoeira, Austrália, Canadá e Texas, que operam com tecnologias avançadas para maximizar o rendimento agrícola.

Impacto Econômico e Produção Agrícola

A região oeste da Bahia apresenta condições geográficas e climáticas ideais para a mecanização da agricultura, contribuindo para a alta produtividade. O volume de produção da safra de 2014 foi de 7 milhões de toneladas de soja, milho e algodão, representando 4% da produção nacional. Formosa do Rio Preto é responsável por 25% da produção do oeste baiano e ocupa a 27ª posição no PIB do agronegócio nacional, movimentando cerca de R$ 282 milhões.

Localização e Infraestrutura

O Agronegócio Estrondo está localizado na porção sul de Formosa do Rio Preto, um município com 1.625.033 hectares e uma população estimada em 22.528 habitantes (IBGE, 2010). A região faz divisa com os estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, consolidando-se como um importante corredor logístico para a distribuição da produção agrícola.

Capítulo L do Caso Faroeste.
Manchete

Capítulo L do Caso Faroeste: Uma história de facções

É neste contexto que pela primeira vez na história do Brasil uma magistrada de 2º Grau, a desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) Sandra Inês Moraes Rusciolelli Azevedo, se torna delatora e revela

Nascente do Rio Preto, no oeste da Bahia, é ameaçada. A área, maior que a cidade de Recife (PE), está localizada em uma Unidade Estadual de Conservação no Condomínio Agronegócio Fazenda Estrondo, acusado da apropriação ilegal de 444 mil hectares de terras tradicionalmente ocupadas por comunidades geraizeiras.
Manchete

Caso Estrondo: Organizações pedem que Governo da Bahia revogue autorização ilegal para desmatamento de 24.732 hectares no oeste da Bahia; Nascentes do Rio Preto estão sob ameaça de completa degradação

Cinquenta e seis organizações da sociedade civil enviaram, na quarta-feira (01/09/2021), uma carta aberta ao Governador do Estado da Bahia, à Secretaria de Meio Ambiente e a Coordenação de Desenvolvimento Agrário exigindo a revogação da

Criminosos confessos Nelson José Vigolo e Sandra Inês Rusciolelli protagonizam os principais fatos e notícias sobre o Caso Faroeste, durante a segunda semana de julho de 2021.
Manchete

Capítulo XLIII do Caso Faroeste: Criminoso confesso Nelson José Vigolo ataca o TJBA; Associada da ORCRIM, Sandra Inês Rusciolelli tem estrutura da delação revelada na qual são citados dezenas de nomes

A segunda semana de julho de 2021 trouxe fatos novos sobre o Sistema de Corrupção Faroeste. Seis investigados, enquadrados pelo Ministério Público Federal (MPF) como membros de duas Organizações Criminosas (ORCRIM) protagonizaram as notícias deste

Colaboração Premiada, Acordo de Não Persecução Penal e Acordo de Leniência são propostos no âmbito dos processos criminais do Caso Faroeste.
Manchete

Colaboração Premiada, Acordo de Não Persecução Penal e Acordo de Leniência são propostos por três denunciados e duas empresas envolvidas em possíveis atos de corrupção do Caso Faroeste

Segundo relato de fonte do Jornal Grande Bahia (JGB) apresentado nesta quinta-feira (07/01/2020), dois denunciados, um investigado e duas empresas citadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como envolvidas em atos de corrupção do Caso Faroeste

Movimentação da Ação Judicial de Reintegração de Posse pela 2ª Câmara Cível do TJBA, ocorrida em 6 de maio de 2003.
Manchete

Capítulo XIV do Caso Faroeste: A supressão de páginas do Processo de Reintegração de Posse das terras da antiga Fazenda São José e a anulação do falso atestado de óbito de Suzano Ribeiro de Souza

O Capítulo XIII do Caso Faroeste promoveu um corte na narrativa diacrônica sobre o esquema de corrupção envolvendo o processamento e julgamento do conflito fundiário sobre as terras da antiga Fazenda São José, em Formosa

Ex-corregedora nacional de Justiça do CNJ Eliana Calmon avalia desdobramento da prisão de juízes do TJBA. “O que está acontecendo hoje é aquilo que eu já previa que iria acontecer”, diz.
Manchete

Caso Faroeste: Ex-ministra do STJ Eliana Calmon confirma que José Valter é o proprietário das terras da antiga Fazenda São José; Confira entrevista concedida à Mário Kertész

Em entrevista exclusiva concedida nesta quarta-feira (16/12/2020) ao radialista Mário Kertész, da Rádio Metrópole de Salvador, a ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ex-corregedora Nacional de Justiça Eliana Calmon confirma que o empresário

Páginas 1, 47 e 48 da decisão do ministro do STJ Og Fernandes em medida Cautelar Inominada Criminal de n° 26 DF no âmbito do Caso Faroeste.
Manchete

Exclusivo: A decisão do ministro do STJ Og Fernandes que determinou a prisão e afastamento das funções de desembargadores, juiz, secretário de Segurança Pública, ex-chefe do MPBA e servidores

O Jornal Grande Bahia (JGB) reafirma o compromisso público de informar com precisão, coerência e crítica sobre os fatos sociais da vida citadina. É neste contexto que o veículo de comunicação recebe de fontes relatos

Capítulo II do Caso Faroeste 2 | O filho da desembargadora: Reunião no Jaguar, propina durante encontro no motel em Salvador e a troca na faculdade.
Manchete

Capítulo II do Caso Faroeste 2: O encontro entre Júlio César e Vasco Rusciolelli Azevedo; Advogado, filho da desembargadora, recebeu propina oriunda do latifundiário Nelson Vígolo

O Caso Faroeste compreende conjunto das Operações Faroeste, cujo relato possibilita revelar o panorama de dilaceração dos fundamentos do Sistema Estadual de Justiça da Bahia, que resultou na corrupção dos conceitos jurídicos da imparcialidade e

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.