A Teologia da Libertação é um movimento teológico e pastoral que emergiu na América Latina nas décadas de 1960 e 1970, marcado pela interpretação das escrituras cristãs em resposta às realidades de injustiça social, pobreza e opressão vividas pelos povos latino-americanos. Influenciada por mudanças na Igreja Católica após o Concílio Vaticano II e pela conferência do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano) em Medellín, Colômbia, a Teologia da Libertação busca integrar fé e justiça social, promovendo uma leitura bíblica a partir da perspectiva dos pobres e oprimidos.
O movimento propõe uma visão crítica das estruturas políticas e econômicas, argumentando que estas frequentemente geram desigualdade e marginalizam os mais vulneráveis.
Os teólogos da libertação, como Gustavo Gutiérrez, Leonardo Boff e Jon Sobrino, defendem que a fé cristã implica um compromisso ativo com a transformação social, entendendo que a salvação e a libertação espiritual não podem ser separadas da libertação material e social. A teologia aborda, assim, o conceito de “preferência pelos pobres”, em que a justiça e a solidariedade com os menos favorecidos são vistas como essenciais para a prática cristã.
Entre as principais características dessa abordagem estão o uso de métodos marxistas de análise da sociedade, o apoio aos movimentos populares e a crítica ao capitalismo. Essa visão, por sua vez, gerou tensões com setores conservadores da Igreja Católica e do Vaticano, que, em certos momentos, reprimiram o movimento.
A Teologia da Libertação continua a influenciar movimentos sociais e pastorais em várias partes do mundo, promovendo uma fé que busca, ao mesmo tempo, a transformação espiritual e a justiça social.
Teologia da Libertação no Brasil
No Brasil, a Teologia da Libertação se consolidou em meio ao contexto de ditadura militar (1964-1985), quando a repressão política, as violações de direitos humanos e o aumento da desigualdade intensificaram o clamor por justiça social. Inspirados por líderes como o cardeal Dom Hélder Câmara e o teólogo Leonardo Boff, muitos teólogos, padres, freiras e agentes pastorais encontraram na Teologia da Libertação uma ferramenta para articular a luta contra a opressão e o sofrimento do povo brasileiro.
Com o apoio das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), grupos compostos por leigos que realizavam encontros em pequenas comunidades para refletir sobre as escrituras à luz da realidade social, a Teologia da Libertação no Brasil promoveu uma nova forma de viver a fé cristã, com enfoque em questões como pobreza, exclusão e violência. As CEBs desempenharam um papel fundamental ao se engajarem em ações práticas e mobilizarem suas comunidades em torno de temas como a reforma agrária, os direitos dos trabalhadores, a moradia e a educação. Essas comunidades foram, em muitos casos, locais de resistência à ditadura, onde o povo encontrava apoio espiritual e também orientação para lutar por seus direitos.
A liderança de figuras religiosas notáveis fortaleceu o movimento no Brasil. Dom Hélder Câmara, conhecido como o “bispo vermelho” por seu posicionamento em favor dos pobres e por criticar as injustiças sociais, defendia que a Igreja precisava estar ao lado dos marginalizados. Leonardo Boff, outro nome central no movimento, elaborou uma teologia em que a fé e a busca por justiça estavam intimamente ligadas, enfrentando censura e conflitos com o Vaticano, especialmente durante o papado de João Paulo II e sob a liderança do então cardeal Joseph Ratzinger, que comandava a Congregação para a Doutrina da Fé.
A partir dos anos 1980, a Teologia da Libertação no Brasil passou a colaborar com movimentos sociais e sindicatos, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fortalecendo a causa das populações excluídas e promovendo uma visão de igreja comprometida com o bem comum e a transformação das estruturas injustas da sociedade. A relação com esses movimentos populares consolidou o papel da Teologia da Libertação como um componente importante na luta por direitos e justiça social no Brasil, alinhando-se com outras lutas de minorias e ampliando seu escopo para incluir temas como a ecologia e a diversidade cultural, especialmente a partir da década de 1990.
Embora tenha enfrentado repressão e crítica dentro da própria Igreja, com o Vaticano, liderado pelo Papa Bento XVI (Joseph Aloisius Ratzinger),
que apontou o uso do marxismo como uma ameaça aos princípios cristãos, a Teologia da Libertação continua a inspirar movimentos pastorais no Brasil, especialmente entre os setores mais vulneráveis da sociedade. Hoje, sua influência permanece viva em várias organizações católicas e em iniciativas ecumênicas, e se expandiu para incluir questões contemporâneas como a preservação ambiental e os direitos dos povos indígenas, adaptando-se para responder aos novos desafios sociais e culturais do país.