O Brasil atual é resultado de um processo histórico marcado pela dominação de uma elite que, ao longo dos séculos, manteve o controle do país de forma violenta e excludente. Essa elite, formada por segmentos escravocratas, mercantis, industriais e comerciais, exerceu sua influência em diferentes momentos históricos, desde a Colônia até a Nova República. O fio condutor entre esses períodos é a violência de classe, perpetuada para manter o poder.
A Violência de Classe ao Longo da História
Desde o Brasil Colônia até a Nova República, o poder foi exercido por grupos que se mantinham através da exploração das classes trabalhadoras. A elite escravocrata explorava o trabalho forçado, enquanto as elites mercantil, industrial e comercial ampliavam suas riquezas por meio da violência econômica e política. Esses grupos moldaram o país, impedindo mudanças estruturais que pudessem beneficiar a maioria da população.
Por um breve período, de 2003 a 2016, um partido de base trabalhista e com ideais socialistas assumiu o governo federal, gerando a expectativa de uma mudança de paradigma. No entanto, a elite, que sempre dominou setores importantes da sociedade e da economia, permaneceu atuante nos bastidores, aguardando o momento de retomar o controle do Governo Central.
A Bahia e o Fim de uma Era Oligárquica
Na Bahia, após quatro décadas de domínio do grupo político ligado ao “Magalhismo”, os resultados socioeconômicos e educacionais eram desoladores. O Estado apresentava índices de educação extremamente baixos, com um elevado número de analfabetos. As palafitas, moradias precárias, simbolizavam a desgovernança da capital e as profundas desigualdades sociais.
Durante esse período, a elite local, assim como no cenário nacional, mantinha o poder através do controle político e midiático, perpetuando um sistema de dominação que negava ao povo o direito de escolha. O controle sobre a mídia, em especial pela Rede Globo, foi crucial para a continuidade desse poder, enquanto a população permanecia deseducada e alienada.
O Governo Progressista e Suas Conquistas
A partir da eleição de Jaques Wagner em 2006, seguiu-se um período de transformações significativas na Bahia, em sintonia com as mudanças ocorridas no Brasil sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Durante esses anos, foram implementadas políticas públicas que buscaram reverter o cenário de exclusão e desigualdade.
Entre as principais realizações estão a expansão das universidades estaduais, passando de uma para cinco, e a criação de 32 escolas técnicas. Além disso, 200 mil brasileiros foram enviados para estudar nas melhores universidades do mundo, muitos deles vindos de famílias operárias ou subproletárias da Bahia. A saúde pública também foi recuperada, com a construção de novos hospitais e unidades de saúde, além de um amplo programa de moradia subsidiada.
Recursos financeiros foram direcionados às classes mais pobres, o que, além de estimular a economia local, contribuiu para a redução da criminalidade. No campo da segurança pública, o governo federal construiu presídios federais e destinou verbas para o reaparelhamento das polícias estaduais.
A Persistência das Estruturas de Dominação
Apesar das conquistas desse período, as marcas da dominação colonial e escravocrata ainda estão presentes na psique coletiva do brasileiro. A elite opressora, que detém o poder, continua sendo admirada por grande parte da população, que internaliza os valores dessa classe e acaba por rejeitar alternativas políticas que poderiam promover maior justiça social.
Esse fenômeno, descrito por Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala, revela uma relação de dominação e subserviência que persiste até hoje. A falta de conhecimento político e histórico faz com que muitos brasileiros adotem discursos contra partidos de esquerda, sem compreender as bases conceituais que os diferenciam da direita, como exposto por Norberto Bobbio.
O Papel da Alienação e do Individualismo
A ideologia individualista, que promove a alienação, é central para a manutenção desse estado de coisas. A população, especialmente os segmentos mais pobres, é mantida em um estado de desinformação, alimentada por preconceitos e pelas sombras projetadas pelo sistema capitalista, como ilustra a metáfora da Caverna de Platão.
A adoção acrítica do modelo estadunidense de sociedade, com seu alto índice de encarceramento e exclusão social, contribui para o aprofundamento das desigualdades no Brasil. A criminalidade, que atinge sobretudo as camadas mais pobres, é alimentada pelo tráfico de drogas, em que filhos da classe média desempenham papel central ao financiarem o sistema com o consumo de entorpecentes.
A Guerra e a Exclusão Social
A violência de classe, que antes se manifestava de forma sutil, adota hoje o extermínio como solução para a questão social. No entanto, o capitalismo, ao produzir um exército de excluídos, acaba gerando mais marginalizados do que o sistema é capaz de eliminar.
Essa guerra de classes, no entanto, vai contra os princípios do cristianismo, uma doutrina que, segundo o Papa Francisco, nas encíclicas Laudato Si e Fratelli Tutti, coloca a dignidade humana e o respeito ao meio ambiente no centro das decisões políticas. Infelizmente, muitos dos que se dizem cristãos ignoram esses ensinamentos e seguem líderes religiosos que promovem ideologias vazias, perpetuando a alienação.
Conclusão: O Caminho para a Libertação
O Brasil só poderá superar essa história de dominação violenta quando o povo, coletivamente, tomar as rédeas de seu próprio destino. É preciso construir uma sociedade mais justa, igualitária e solidária, na qual os princípios que libertam das correntes do sistema estejam no centro das decisões políticas. Até que essa revolução ocorra, cabe à sociedade fazer escolhas que retomem a busca por uma verdadeira democracia.
Carlos Augusto, cientista social e jornalista.
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