Editorial: Encontro entre ex-presidente Lula e governador Rui Costa é marcado por solidariedade à população da Bahia afetada pelas chuvas e enchentes, e perspectiva das Eleições 2022

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Rui Costa (PT) mantiveram encontro nesta sexta-feira (14/01/2022).
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Rui Costa (PT) mantiveram encontro nesta sexta-feira (14/01/2022).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pré-candidato à presidência da República, manteve encontro nesta sexta-feira (14/01/2022) com Rui Costa, governador da Bahia. Durante a reunião, os dois debateram a situação das 850.445 pessoas, residentes em 177 municípios, afetadas por chuvas e enchentes que ocorreram em novembro e dezembro de 2021 na Bahia.

Além do debate sobre a situação de emergência e da degradação do sistema rodoviário e de infraestrutura dos municípios, o encontro foi marcado pela perspectiva das Eleições 2022.

A disputa

O candidato do PT na Bahia

Pesquisas de opinião consolidam o ex-presidente Lula na liderança do pleito de 2022 e isso deve ocasionar um efeito catalisador de forças políticas em apoio à candidatura do petista, haja vista que o segundo nome a pontuar na pesquisa, o do extremista de direita Jair Bolsonaro (PL), presidente da República, estar estacionado em segundo lugar, sem indicador de crescimento, enquanto os demais candidatos — Sérgio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT), João Dória (PSDB) e a senadora Simone Tebet (MDB) — não apresentam, ou somam no conjunto, intenção de voto capaz de levar a disputa para o segundo turno.

Na Bahia, o cenário de polarização eleitoral se repete, com o ex-governador e senador da República Jaques Wagner (PT) sendo convocado pelo partido para disputar a sucessão de Rui Costa e concluir o projeto petista de gestão pública para a Bahia.

Oposição e prestidigitação

A oposição é feita pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto (DEM, União Brasil). Ele lidera as pesquisas de opinião pelo partido de direita Democratas. A liderança do partido de direita ocorreu em dois, dos quatro últimos pleitos, e a candidatura petista, impulsionada pelo êxito das gestões e pelo apoio do carismático líder trabalhista Lula reverteu e venceu as quatro últimas eleições, sendo a primeira em 2006, com a posse de Jaques Wagner em 1º de janeiro de 2007.

Em 2006, 2010 e 2014 o Democratas lançou o ex-governador Paulo Souto como candidato ao governo da Bahia. Na eleição de 2018, o partido apresentou a candidatura do ex-prefeito José Ronaldo.

Em todos os quatro pleitos o PT saiu vitorioso. Mas é a primeira vez que um descendente do senador Antônio Carlos Magalhães (ACM, †1927 — ★2007), apoiador do Golpe de Estado Civil-Militar (Ditadura Militar no Brasil de 1964 a 1985), lança candidatura majoritária estadual.

Em 2018, ACM Neto, no comando da Prefeitura de Salvador, manteve a pré-candidatura até a data limite. Mas, com o resultado das pesquisas de intenção de voto apontando para uma fragorosa derrota em primeiro turno, ele recuou e convidou o prefeito de Feira de Santana, segunda cidade mais população da Bahia, a deixar o governo municipal e apresentar candidatura majoritária estadual pelo DEM.

ACM Neto, por assim dizer, terá os próprios demônios a enfrentar nas Eleições 2022. Ele apoiou o Golpe Jurídico-Parlamentar de 2016, que depôs o mandato democrático da presidente Dilma Rousseff, primeira mulher eleita e reeleita para o cargo na história republicana do Brasil.

No plano nacional, a assunção de governos de direita e extrema-direita, primeiro, com Michel Temer (MDB) e depois, com Jair Bolsonaro (PSL), custaram caro ao desenvolvimento socioeconômico da população da Bahia.

A antiga fórmula do “Toinho Malvadeza” foi sentida pela população e, como em todo processo de restrição econômica, cumulado com política neoliberal e ultraliberal, o segmento em maior estado de vulnerabilidade social sentiu o peso das forças do atraso socioeconômico retomarem o poder da República.

ACM Neto foi um prócer destes dois desgovernos, que incríveis retrocessos legaram ao Brasil contemporâneo. Como ele vai realizar a prestidigitação para fazer desaparecer a corresponsabilidade pelos atos dos Governos Temer e Bolsonaro é algo que o tempo vai revelar. Sem isso, a derrota no pleito de 2022 é quase certa, haja vista o menoscabo que a população nutre com relação aos desgovernos nacionais de direita e extrema-direita.

Rui Costa e o PT da Bahia, possibilidades

Fato é que a aliança liderada pelo PT da Bahia, em conjunto com partidos de esquerda — PCdoB e PSB — conjugado com líderes conservadores do PP, com o vice-governador João Leão e PSD, com o senador Otto Alencar, criou um ambiente de estabilidade política que resultou em incrível progresso na infraestrutura e na organização estatal da Bahia, com significativos ganhos sociais. Esse êxito pode ser confirmado com os elevados índices de aprovação da gestão de Rui Costa.

Ocorre que o mandato de Otto Alencar encerra em 2022, João Leão não pode concorrer pela terceira vez como vice-governador e Rui Costa é apontado com ampla possibilidade de se tornar senador.

A chapa majoritária de 2022 tem espaço para três nomes. Um, foi definido, o de Jaques Wagner como candidato ao governo da Bahia, enquanto outros dois cargos permanecem em disputa.

Nos bastidores, existem os que defendem que Rui Costa permaneça até o último dia de governo e repita o gesto de Jaques Wagner, em 2014. Caso Lula seja eleito presidente da República, Rui Costa seria indicado como ministro de uma pasta com volume de recursos para investir e projetar a imagem pessoal como nome nacional do Partido dos Trabalhadores.

Otto Alencar seria candidato a vice-governador e poderia vir a ocupar uma secretaria estadual com capacidade e recurso para investir nos municípios. Enquanto João Leão seria candidato ao Senado.

O processo de diálogo e convencimento está em curso.

Na primeira vez que foi eleito governador, Jaques Wagner conseguiu aglutinar amplo conjunto de partidos em torno do projeto petista de poder para a Bahia. A aliança se manteve mais ou menos inalterada e continua ampla sob a liderança do exitoso governo de Rui Costa.

O desafio de Jaques Wagner é mostrar que ser novo e inovador não significa ser mais jovem, e que a experiência acumulada como líder sindical, deputado, ministro, governador e senador são predicados que apontam para uma gestão estável capaz de concluir o incrível processo de transformação da infraestrutura estadual em curso na Bahia, ao passo que novas ideias sobre segmentos econômicos de tecnologia, a exemplo da blockchain, indústrias ligadas ao setor de energias sustentáveis e renováveis, e do desenvolvimento da indústria de semicondutores devem ser incorporadas à matriz produtiva da Bahia, ao passo que novas formas de gestão econômica que acabem com os supersalários de servidores públicos estaduais da Bahia, a exemplo do que ocorre no Ministério Público (MPBA), possibilitem que mais recursos estatais sejam dirigidos para políticas sociais e de infraestrutura.

*Carlos Augusto, jornalista e cientista social, é diretor do Jornal Grande Bahia.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.