A primavera da esperança | Por Luiz Holanda

Em 1959, Juscelino Kubitschek visitava as obras da Praça dos Três Poderes, Brasília.
Em 1959, Juscelino Kubitschek visitava as obras da Praça dos Três Poderes, Brasília.

Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK) governou o Brasil de 1956 a 1961. Durante seu mandato conquistamos -pela primeira vez-, a Copa do Mundo. A indústria automobilística acelerava a industrialização, enquanto o brasileiro recebia o maior salário mínimo da História. O carro chefe da economia era o Estado. Apesar de ser um homem pacífico, Juscelino enfrentou diversas crises, inclusive a tentativa de um golpe para impedir a sua posse.

Durante seu governo o país sofreu duas rebeliões militares e várias CPIs no Congresso. Seu sucessor, Jânio Quadros, foi eleito prometendo acabar com a inflação e passar o país a limpo. Para dar ênfase às suas promessas demagógicas usou como símbolo uma vassoura. Não aguentando as pressões, renunciou ao governo, deixando o país numa crise sem precedentes. Imaginou voltar ao poder nos braços dos militares, que tinham certas reservas em relação ao vice-presidente.

Passada a crise, Jango tomou posse, mas teve de deixar o governo em razão do golpe de 1964.  Segundo o historiador Marco Antonio Villa, JK era a melhor lembrança para promover a paz social e o desenvolvimento do país. Daí a necessidade de afastá-lo da vida pública, cassando o seu mandato. JK foi exilado e sofreu uma infinidade de injustiças e humilhações.

Ao assumir o governo após o golpe que culminou no suicídio de Getúlio Vargas, sofreu oito tentativas de golpe e algumas greves. Mesmo assim, interiorizou o país e mudou nossa matriz energética para a hidroelétrica. Construiu Furnas e fez o Brasil crescer 8,1% ao ano. A produção industrial cresceu 80% no período e a indústria de transformação 186% em Kw, derivados do petróleo, aço, carros e caminhões.

Quando assumiu o governo o país tinha 800 km de estradas asfaltadas com 14000 km de rodovias. Asfaltou quase todas. Tirou a Petrobrás do papel e nos deixou autossuficientes em petróleo e derivados. Rompeu com o FMI e aumentou nossa renda per capita em cerca de 23%, ampliando o mercado interno com uma arrojada política de crédito ao consumidor. Ao deixar o governo, o salário mínimo estava no maior nível real de sua história. Construiu Brasília e entregou um país pacificado ao seu sucessor.

Outro mineiro, atualmente esquecido, um dia será lembrado como Juscelino. Trata-se de Itamar Franco, que, com apenas dois anos de mandato, salvou a democracia recém reconquistada, modificou o sistema financeiro, criou o real e acabou com a correção monetária da ditadura, dominando a hiperinflação, que já durava uma década. Itamar promoveu o maior crescimento do PIB pós redemocratização, de 5% em média, e colocou o Mercosul para funcionar.

Além disso, fez uma minirreforma tributária com a criação de uma nova alíquota do IR para altos salários, revogada por Fernando Henrique Cardoso. Privatizou a CSN e apoiou FHC como seu sucessor, decisão essa da qual se arrependeu publicamente. Depois de JK e Itamar, o Brasil nunca mais teve  uma primavera de esperança.

Luiz Holanda é advogado e professor universitário


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