Uma hemorragia de valores humanos | Por Joaci Góes

Elsimar Metzker Coutinho (Pojuca, 18 de maio de 1930 - São Paulo, 17 de agosto de 2020) foi um cientista, professor, médico ginecologista e personalidade televisiva brasileiro.
Morte Elsimar Metzker Coutinho (1930 - 2020) deixa lacuna intelectual no pensamento brasileiro.

Ao casal amigo de Porto, Ana Rato e Vasco!

Nos últimos anos, a Bahia sofreu a maior concentração de perdas de filhos ilustres de toda a sua história. De fato, em pouco mais de três anos, entre a morte de Waldir Pires e a recentíssima de Luís Viana Neto, a Bahia perdeu, para mencionar, apenas, os que viveram mais de oitenta anos, e compuseram o universo de nossas relações afetivas, Germano Machado, Guilherme Requião Radel, Edivaldo Machado Boaventura,  Mãe Stella, João Carlos Teixeira Gomes, Roberto Santos, Luís Henrique Dias Tavares, Waldir Freitas de Oliveira, Elsimar Coutinho, João Eurico Matta, Édio Souza e Cid Teixeira, objeto de recente e oportuno artigo do escritor Aramis Ribeiro Costa, reclamando uma legítima e necessária homenagem ao grande historiador que encantou gerações de baianos, com a verse do seu saber e memória prodigiosa. É provável que a reclusão coletiva, forçada pela Covid 19, quando Thanatus foi o tema dominante, tenha contribuído para reduzir a percepção coletiva dessa sangria de talentos.

Pensamos que a atual composição de nossa Câmara de Vereadores [Câmara Municipal de Salvador, CMS], o mais antigo parlamento de origem europeia, no Continente Americano, seja uma das melhores de todos os tempos, oportunidade única para corrigirmos a acumulação dos graves erros por omissão e comissão praticados contra nossa memória coletiva, em favor de interesses menores, pessoais uns e meramente paroquiais, outros tantos, a exemplo de substituir consagradas denominações históricas de espaços públicos relevantes por nomes inspirados em motivações subalternas ou grosseiros erros de avaliação. Nesse sentido, a direção do IGHB [Instituto Geográfico e Histórico da Bahia] sugere a criação de uma comissão permanente, formada por integrantes dos partidos que tenham assento em nossa edilidade, para rever a nomenclatura atual, com o propósito de assegurar os toponímicos históricos, ainda que, quando necessário, assegurando a preservação, também, do nome mais recente de que o maior exemplo em nossa cidade seria a manutenção do duplo nome: Rua dos Capitães e Rua Rui Barbosa.

De cara, de pronto e de logo, temos que restaurar a insultuosa substituição do nome de Otávio Mangabeira por o de uma marca de cerveja no Estádio da Fonte Nova. Do mesmo modo, ao ensejo das comemorações do bicentenário do 2 de Julho, data definitiva da independência do Brasil, temos que restaurar, para Dois de Julho, o nome de nosso maior aeroporto, ainda que mantendo, como segundo nome, o do deputado Luís Eduardo Magalhães. Recorde-se o livro da historiadora Lizir Arcanjo Alves, viúva do saudoso e ilustre baiano, também historiador, Jorge Calmon, dedicado, exclusivamente, a ressaltar o valor dessa data histórica no coração dos nossos maiores vultos do Século XIX, empenhados em  expressar o seu regozijo por integrar o povo que arrematou o tão notável feito de consolidar a Independência do Brasil. Sem dúvida, a mais notável dessas manifestações é o poema heroico, Ao Dois de Julho, de Castro Alves, que só se deu por satisfeito na sexta versão de seu processo criativo. A recente substituição do nome do ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros, pelo do notável geógrafo Milton Santos, se inscreve na ótica dessa proposição.

Acreditamos que os vereadores que se dedicarem a essa missão, de tanta importância para compensar a brutal queda do turismo baiano, serão recompensados pelo voto dos baianos.

Por falar em voto, nenhum dos nomes aqui mencionados votou ou votaria em ladrões.

*Joaci Fonseca de Góes, advogado, jornalista, empresário, ex-deputado federal constituinte e presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (IGHB).


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