O novo poder mundial | Por Luiz Holanda

União Asiática desafia hegemonia dos EUA.
União Asiática desafia hegemonia dos EUA.

China, Rússia, Irã e Coreia do Norte resolveram criar a União Asiática (UA) para fazer frente aos Estados Unidos, que comanda, tanto do ponto de vista militar quanto comercial, a União Europeia (EU). Deu certo, pois a Rússia e o Irã contornaram com sucesso as sanções internacionais promovidas pelos Estados Unidos e seus aliados.  As vendas externas do petróleo iraniano chegaram a US$ 35,8 bilhões no primeiro trimestre deste ano (seu nível mais alto em seis anos), segundo dados da própria China.

Em abril, quando o Irã lançou drones e mísseis em represália ao assassinato de um general iraniano na Síria, houve novos apelos por sanções mais rigorosas contra o país, mas os métodos comerciais utilizados pela China (destino de 80% das exportações iraniana), conseguiram superar todas as sanções.

Com a Rússia deu-se o mesmo. Após a invasão à Ucrânia, os Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e outras nações aliadas proibiram as importações de petróleo russo e as exportações de produtos de alta tecnologia. Era justamente o que a China queria, pois, a partir daí, solidificou-se ainda mais essa importante parceria, cujo comércio entre os dois parceiros atingiu um nível recorde em 2022, chegando a 190 bilhões de dólares, 30% a mais em relação ao ano anterior. Registre-se que quase metade de todas as receitas anuais do governo russo vem do petróleo e gás, e as vendas para os países da União Europeia despencaram com as sanções. Nesse mesmo ano a Rússia exportou duas vezes mais gás de cozinha e 50% a mais de gás natural para a China do que no ano anterior.

A cooperação entre os dois países se fortaleceu também em termos de segurança, pois a fronteira da China com a Rússia é de 4 mil quilômetros, além das divisas com outras ex-repúblicas soviéticas sob a influência de Moscou, como o Cazaquistão, o Quirguistão e o Tajiquistão. Estrategicamente, Pequim não quer instabilidade em suas fronteiras. Do ponto e vista militar, a China alcançou grandes progressos nos últimos 20 anos. Com orçamentos elevados e novas tecnologias, alcançou os Estados Unidos, ao ponto de ameaçá-lo em caso de uma guerra. Isso também aconteceu com a Corea do Norte, cuja relação entre os dois países vem desde 1950, quando as tropas chinesas foram em auxílio do aliado na Guerra da Corea. A China considera a estabilidade na península coreana como seu principal interesse, como  uma espécie de barreira entre o território chinês e a Corea do Sul, que abriga cerca de 29.000 soldados norte-americanos.

A Organização para a Cooperação de Xangai (SCO) demonstrou que os países nominados estão inseridos na geopolítica chinese, fazendo parte de um leque de ações que a China vem realizando para consolidar sua liderança na eurásia, além do aprofundamento das parcerias estratégica entre esses países, desenvolvendo cooperações político-econômicas e militares. A SCO passou a ser um organismo de diálogo na Ásia Central, principalmente quanto a resolução de conflitos.

A SCO é fruto de um acordo celebrado em 1966, quando o Cazaquistão, China, Rússia e Tajiquistão fundaram os Cinco de Shangai, embora sua criação só se tenha dado em 2017, com a entrada do Uzbequistão, a Índia e o Paquistão. Desde que chegou ao poder, Xi Jinping estabeleceu como objetivo a hegemonia da China na Ásia Oriental; isso em todos os campos, consolidando o poder regional chinês e garantindo seu cesso aos Oceanos Pacífico e Índico. O espaço marítimo, chamado Mar da china, é vital para Pequim, tanto que assumiu o controle de sua parte meridional, declarando que se trata de um mar interior sob autoridade chinesa.

Pequim construiu sete ilhas artificiais para abrigar instalações militares capazes de atingir, inclusive, os Estados Unidos. As incertezas geopolíticas levam a China a querer suplantar os Estados Unidos nos campos econômico e militar, memo diante das dificuldades em adquirir importações maciças de componentes eletrônicos diante das sanções impostas por Washington. A China pretende superar seu atraso na alta tecnologia começando com a inteligência artificial e o ramo de semicondutores. O número de patentes internacionais solicitadas pela China não para de aumentar.

A China quer dominar o mundo, mas, para isso, vai ter de acabar com o poder atual dos Estados Unidos, cristalizado num brutal desequilíbrio de forças.

*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.