Evandro do Nascimento Silva, conhecido como professor Evandro, é natural de João Pessoa, capital da Paraíba. Ele teve a trajetória marcada pela educação pública, tanto no período escolar quanto no ensino superior, ingressando em 1998 na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Conhecido por sua militância nos movimentos estudantil e sindical, Evandro agora se lança na política como pré-candidato a vereador de Feira de Santana nas Eleições 2024 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e concede entrevista exclusiva ao Jornal Grande Bahia (JGB).
Confira a entrevista
Quem é Evandro do Nascimento Silva?
Sou filho de um metalúrgico e de uma costureira, o que me faz pertencer a e lutar pela classe trabalhadora. A educação deu régua e compasso à minha vida. Estudei em escola e universidade pública, e as defendo incondicionalmente. Sou biólogo, professor universitário, atuando na área de ecologia e desenvolvimento sustentável. Tive minha formação política junto à militância nos movimentos estudantil e sindical. Acumulei experiência em gestão pública por ter sido reitor da UEFS de 2015 a 2023.
O que lhe motivou realizar a transição da academia para a política, apresentando pré-candidatura a vereador nas Eleições 2024 de Feira de Santana?
Ano passado [2023], alguns amigos falavam que eu devia me candidatar a cargos eletivos devido à experiência e visibilidade obtida como ex-reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana. Achei isso natural, mas não levei muito a sério. Mas esse ano, fui incentivado a seguir esse caminho, com um convite específico do PSB – Partido Socialista Brasileiro. Aceitei o desafio por acreditar que estamos em um momento crítico na política institucional, com as ameaças aos direitos dos trabalhadores, o ultraconservadorismo, e ataques à democracia. Quem tem compromisso com uma sociedade de direitos e igualdade para todos, políticas públicas para a justiça social e defende a democracia tem a obrigação de disputar e ocupar esses espaços. E foi exatamente por isso que me dispus a lançar a pré-candidatura.
Quais são suas principais críticas à atual representação legislativa na Câmara Municipal de Feira de Santana?
Essa representação atual é resultado de vícios como o clientelismo, o fisiologismo e a força da compra do voto pelo poder econômico. Logo, os compromissos da maioria da câmara não são com o povo, mas com interesses pessoais ou de grupos de poder, pelo poder. Também não vejo uma boa produtividade legislativa de muitos vereadores, que pouco contribuem legislativamente falando. As comissões específicas podem ser mais ativas e propositivas. Nem vou citar os vexames, rusgas, brigas, ofensas e atos sem decoro que, visivelmente, envergonham os feirenses. A população sabe que tem que mudar essa composição vexatória, e aposto que vai mudar.
Como acredita que sua experiência como reitor e professor doutor pode enriquecer o debate público na Câmara Municipal?
A minha vivência da universidade é o debate de pontos de vista e a síntese construtiva de conhecimentos e ações para melhorar a vida e o mundo. Essa é uma grande contribuição que Feira de Santana precisa. Temos que debater e propor leis que melhorem a vida das pessoas na cidade e nos distritos rurais. Uma contribuição crucial seria por leis tecnicamente bem embasadas. Os vereadores escolhidos pelo povo na próxima eleição terão que aprovar os novos Planos Municipais de Educação e de Cultura 2026-2036, o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano 2028-2038. Não temos um Plano de Desenvolvimento Rural e eu gostaria de impulsionar essa discussão. É preciso ter pessoas na Câmara Municipal que contribuam efetivamente para um bom texto dessas leis tão importantes para a cidade.
O senhor escolheu o PSB como legenda. Quais são os valores e objetivos do partido que mais lhe atraíram?
O partido surgiu com o nome de Esquerda Democrática, em 1945, lutando contra o Estado Novo getulista. Se tornou o Partido Socialista Brasileiro em 1947. É um partido que sempre teve no seu programa a defesa da saúde pública, do ensino gratuito, da reforma agrária, do dos direitos trabalhistas, do desenvolvimento nacional sem dependência econômica de potências estrangeiras, e mais recentemente muito envolvimento com a defesa da ciência e as pautas da economia criativa e da sustentabilidade. Está no campo progressista e sempre defendeu a democracia em um país que teve vários períodos autoritários e de exceção. É uma opção que contempla minhas crenças por uma sociedade democrática e socialmente mais justa.
Quais principais pontos pretende abordar como pré-candidato a vereador para promover o desenvolvimento urbano e civilizatório da população de Feira de Santana?
A educação pública certamente será um ponto forte da campanha, até porque sou educador. Quero pautar as questões da sustentabilidade, que não tratam só de meio ambiente. Sustentabilidade hoje é o futuro, a vida das cidades e das pessoas integradas em um mundo socialmente, economicamente, culturalmente e ambientalmente saudável. Saúde e educação de qualidade, oportunidades iguais e respeito às mulheres, às comunidades tradicionais (Feita tem quilombolas) e à diversidade, combate ao racismo e a todas as formas de discriminação, mobilidade urbana eficiente, uso de energias renováveis, redução da pobreza e da fome, produção agrícola através de métodos ecológicos, governança com transparência e participação popular… tudo isso é sustentabilidade. Em Feira de Santana, para esses aspectos da vida da população, só vemos retrocessos e atraso. A cidade não tem autoestima de tanto abandono. Não dá mais!!! Feira de Santana precisa estar em sintonia com os avanços que o mundo está trilhando.
Como avalia as pré-candidaturas de José Ronaldo (União Brasil), Pablo Roberto (PSDB) e José Cerqueira Neto (Zé Neto, PT) ao executivo municipal, e qual é a sua opinião sobre o apoio do PSB ao candidato do PT?
José Ronaldo ser prefeito, mais uma vez, é o futuro repetir o passado. E é uma repetição ruim. Seis mandatos do seu grupo político, sendo quatro dele. Então, ele tem responsabilidade total sobre o crescimento desordenado da cidade, com alagamentos, com péssimo trânsito, péssima mobilidade, educação com indicadores de avaliação ruins e estagnados, um modelo de assistência à saúde primária que só tem cobertura para atendimento de 70% da população, e muitos outros problemas. Ele é o velho, o atraso, a mesmice que já mostrou que vem, vai, volta, e só faz Feira parar no tempo. Pablo Roberto tem mandatos legislativos e cargo de secretário no currículo, é um nome legítimo e se colocou no processo. E Zé Neto? Bem, ele tem décadas de trabalho por Feira de Santana como parlamentar. Ama Feira de Santana. Na área da saúde, ele dedica tempo e até muitos recursos de suas emendas para hospitais da cidade. Busca obras para a cidade. E está construindo uma frente de partidos para trazer um novo projeto para Feira de Santana sair dessa estagnação que dura 24 anos. O PSB se propõe a apoiar Zé Neto por saber que um governo desse bloco político será mais democrático e ouvirá e fará mais pelos interesses do povo, sobretudo os excluídos, invisibilizados e silenciados nessa forma coronelista de fazer política que domina a cidade.
Quais são, na sua opinião, os pontos positivos e negativos das gestões do prefeito Colbert Martins?
Não posso pensar em pontos positivos isoladamente, pois o conjunto da obra é tão negativo que anula qualquer possível acerto. A história julgará o conjunto da obra.
Como avalia a atuação dos governos Lula e Jerônimo Rodrigues em relação às necessidades e ao desenvolvimento de Feira de Santana?
Desde 2007, exceto nos governos Temer e Bolsonaro, tivemos a coincidência de estarem nos governos estadual e federal agentes políticos do PT que não olhavam e agora não olham de que partido é o prefeito de uma cidade para investir nela. Por que Feira de Santana não atraiu mais investimentos? Ora, os governos municipais, nesse período, eram mais afeitos à picuinha política do que à busca de diálogos por melhorias para a cidade, nos últimos anos piorou ainda mais. A população precisa colocar na prefeitura um governante que tenha relações harmônicas com as outras esferas de governo. Lula e Jerônimo gostam de Feira de Santana. Investimentos já estão acontecendo na cidade com um prefeito que sempre tensiona a relação, imagine com um prefeito que seja aliado deles. Essa é visão que o povo tem que pegar.
Qual é a sua visão sobre a importância da sustentabilidade e da inovação tecnológica para o desenvolvimento de Feira de Santana?
Sobre a sustentabilidade, acho que Feira precisa ter a seguinte visão: Até 2050, Feira de Santana se consolidará como uma cidade sustentável e resiliente, de um modo democrático e inclusivo, com desenvolvimento de baixo carbono, priorizando justiça climática e socioambiental. Quanto à inovação, sabemos que inovar é gerar novas ideias, e transformar essas ideias em novos caminhos para a vida real das pessoas, das empresas, das instituições e dos governos. Reciclar o lixo e criar uma cadeia produtiva, emprego e renda a partir dos resíduos reciclados é inovação. Criar uma feira ou entreposto para produtos da economia solidária e agricultura familiar é inovação social. Mas claro, a tecnologia está aí para melhorar a vida da cidade. Defendo que o governo municipal crie um órgão que seja um laboratório da cidade para o planejamento e monitoramento da cidade com auxílio de geotecnologias, ciência de dados, estações de monitoramento (do trânsito, conforto térmico, poluição do ar, riscos de alagamento, mapa da insegurança, vetores de endemias, qualidade da água de lagoas e rios, uso e ordenamento do solo, etc.) na forma de um sistema inteligente e integrado. E avançar na dimensão do governo digital, que se traduz em oferecer serviços em plataformas digitais com processos mais eficientes, transparentes e com toda informação de interesse público totalmente acessível aos cidadãos.
Quais são suas propostas para melhorar a infraestrutura urbana e rural, considerando as necessidades de mobilidade, saneamento e habitação?
A infraestrutura urbana precisa ser orientada para oferecer soluções para a mobilidade urbana. Não tem uma receita, o problema é complexo, mas tem que ser discutido com a sociedade. Precisa urgentemente requalificar a pavimentação das ruas. É o básico. Alguém já notou o quanto trepida um carro nas ruas da cidade? É preciso investir em áreas verdes e requalificação das lagoas, construir e dar manutenção a equipamentos de lazer e cultura, e tornar a cidade mais acolhedora e desfrutável para a população. Na infraestrutura rural, quando damos voz às pessoas que moram nos distritos, a principal reivindicação é por boas estradas. Tem que ser prioridade. Sobre habitação, a cidade tem que rever o modelo de expansão horizontal com predomínio de residências de um pavimento, o qual piora a mobilidade urbana. O transporte público não tem como ir mais longe para atender os novos territórios ocupados fora do anel de contorno. Aí, predomina para a classe média o automóvel individual, congestionando as ruas, ou o transporte clandestino para os pobres. Redes de saneamento são inexistentes em novos bairros mais distantes. E se forem construídas, ficarão mais extensas e caras ao erário público. Temos que mudar o padrão para a expansão da habitação com base numa verticalização bem planejada, integrada com áreas verdes e drenagem mitigando efeitos das mudanças climáticas, e fazer o zoneamento de atividades nos bairros em expansão fora do anel de contorno. Do contrário, continuará o crescimento urbano sem sustentabilidade.
Você pretende atuar para garantir maior transparência e participação popular na gestão pública municipal?
Essa transparência é mais que necessária como luta de qualquer parlamentar. É a defesa dos interesses de toda a sociedade. Quanto custa um mandato de um vereador aos cofres públicos? Qual é o número de faltas dos vereadores às sessões da Câmara Municipal? Ninguém sabe. E se permite saber. No executivo municipal, não há uma política de dados abertos à população. A falta de transparência não é um defeito desse grupo político que se apoderou da cidade. É parte de um projeto de alienação, dominação, controle e poder, que se alimenta da ignorância da sociedade quanto à gestão do que é público, e, em última instância, do povo.
Qual a sua avaliação da educação pública municipal?
A gestão da educação pública municipal não é satisfatória. É verdade que tem havido investimentos em reformas e construção de escolas. Mas, na essência, temos indicadores ruins. Não houve ampliação satisfatória da educação em tempo integral, não há vagas suficientes em creches para amparar as necessidades de mães trabalhadoras. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica nos anos finais do Ensino Fundamental foi 4,2 em 2021. Feira de Santana ocupa a posição 141 no IDEB entre 417 municípios baianos. Nem todas as escolas têm cuidadores para alunos em tempo integral de 2 a 5 anos, ou monitores para alunos com Transtorno do Espectro Autista. Outras não têm o professor para a turma regular. As famílias são humilhadas com a orientação de que deixem seus filhos em casa por falta de professor ou de cuidador. Os alunos matriculados na escola pública de Feira de Santana são majoritariamente pretos e pobres, muitos são filhos de mães solteiras, estão em famílias vulnerabilizadas. Sem aulas, sem aprendizagem, sem formação de um ser humano integral não há futuro para grande parte dessas crianças. Esta escola é excludente. Conheço muitas professoras e muitos professores da rede municipal que são competentes, mas são desvalorizados e isso desmotiva. Eu ainda canto a pedra de que tanto desmando e degradação da educação pública tenha a finalidade de, em breve, proporem a terceirização da gestão das escolas. Já vimos esse filme na saúde municipal e ele não está tendo um final feliz.
+ Sobre o professor Evandro
Evandro do Nascimento Silva possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Paraíba (1995), mestrado em Ciências Biológicas (Zoologia) pela mesma instituição (1997) e doutorado em Recursos Naturais e Meio Ambiente pela University of Michigan (2007). Atualmente, é Professor Titular da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Sua experiência abrange a área de Ecologia, com ênfase em Agroecologia, interações predador-presa, modelagem de sistemas complexos e estudos sobre biodiversidade na Mata Atlântica, especialmente focados em formigas. Além disso, é Editor Associado do periódico Sociobiology e de 2015 a 2018 ocupou o cargo de reitor da UEFS.
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