João Martins da Silva Júnior: o pensamento de uma liderança no agronegócio brasileiro e os desafios do setor

Presidente da CNA, João Martins da Silva Júnior, reflete sobre a sustentabilidade do agronegócio, gestão de recursos hídricos e as dificuldades enfrentadas pelo Brasil em crises econômicas em artigos e entrevista concedidos ao Estadão, entre 2015 e 2021.
Presidente da CNA, João Martins da Silva Júnior, reflete sobre a sustentabilidade do agronegócio, gestão de recursos hídricos e as dificuldades enfrentadas pelo Brasil em crises econômicas em artigos e entrevista concedidos ao Estadão, entre 2015 e 2021.

João Martins da Silva Júnior, natural de Feira de Santana, é um dos principais nomes do agronegócio brasileiro. Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) desde 2015, Martins ampliou seu mandato até 2024, período em que consolidou sua liderança no setor. Sua trajetória é marcada por uma sólida conexão com a agricultura desde os tempos em que trabalhava com seu pai, João Martins da Silva, em Feira de Santana, no interior da Bahia. Sob sua gestão, a CNA se tornou uma voz essencial na defesa dos interesses dos produtores rurais e no enfrentamento dos desafios ambientais, econômicos e sociais que permeiam o campo.

Além de liderar a CNA, Martins também expressa suas visões em artigos e entrevistas. Três de seus textos publicados no jornal O Estado de São Paulo entre 2015 e 2018 e uma entrevista concedida em 2021 delineiam sua análise sobre os desafios do agronegócio e o papel estratégico que o setor desempenha na economia do país. Os conteúdos foram reeditados pelo jornalista e cientista social Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia (JGB), objetivando compreender e documentar a visão do proeminente empresário feirense sobre o agronegócio brasileiro.

Sustentabilidade e Gestão de Recursos Hídricos no Agronegócio

Em seu artigo intitulado “Água e Agronegócio”, publicado em 21 de março de 2015, João Martins explora a relação entre a produção agrícola e o consumo de água, respondendo às críticas de que a agropecuária seria um dos principais vilões da crise hídrica no Brasil. Ele argumenta que a maior parte da água utilizada no setor agropecuário provém das chuvas, minimizando o impacto da irrigação no uso dos recursos hídricos.

“Não há produção de alimentos sem consumo de água, assim como não há ser humano que exista sem consumo de água e de alimentos”, escreve Martins, ressaltando a banalidade dessa verdade frequentemente ignorada.

Martins também destaca que as tecnologias para melhorar a captação e o uso de água no setor agrícola, como barragens, miniaçudes e técnicas de irrigação sustentável, já estão em uso desde os anos 1990. Segundo ele, esses sistemas foram implementados em parceria com instituições de pesquisa, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), promovendo sustentabilidade e ajudando a revitalizar o ciclo hidrológico em várias regiões do país, especialmente no Nordeste.

Ele aponta ainda a contribuição significativa do setor no combate ao desperdício de água e na modernização das técnicas de produção. “A agropecuária brasileira não esperou a crise da água para agir”, afirma, frisando que a agricultura brasileira está na vanguarda mundial em termos de eficiência e sustentabilidade. Para Martins, o setor tem se antecipado às demandas ambientais e isso reforça seu compromisso com a sustentabilidade.

O Papel do Agronegócio no Contexto Econômico Brasileiro

No artigo “O que está faltando ao Brasil”, publicado em 16 de junho de 2016, Martins analisa a crise econômica e moral que afetou o Brasil nos anos anteriores, destacando a importância da estabilidade política e econômica para o desenvolvimento do país. Ele atribui parte dessa crise à desintegração do sistema político e à incapacidade de algumas lideranças em enfrentar os problemas fiscais do Brasil.

Para Martins, o setor produtivo, incluindo o agronegócio, desempenhou um papel crucial ao apoiar movimentos cívicos e ao ajudar o país a superar esse período conturbado. No entanto, ele salienta que o caminho para a recuperação econômica ainda é longo e árduo, especialmente em termos de medidas fiscais e legislativas necessárias para restaurar a confiança e o equilíbrio no país.

“O esgotamento da capacidade fiscal do Estado, que é o responsável pela recessão econômica e a alta inflação, só pode ser corrigido por medidas legislativas e emendas constitucionais”, diz ele, ressaltando a urgência de reformas que impactam diretamente o setor produtivo.

Martins também alerta para a falta de liderança política capaz de formular agendas transformadoras, capazes de tirar o Brasil do impasse econômico e social. Para ele, a agropecuária está no centro dessa recuperação, mas depende de um ambiente político estável e de decisões que promovam o crescimento sustentável.

A Contribuição do Agronegócio para a Economia e a Sociedade

Em seu terceiro artigo, “A Agropecuária Precisa Pedir Desculpas?”, publicado em 19 de janeiro de 2018, João Martins responde às críticas direcionadas ao agronegócio brasileiro, especialmente no que diz respeito ao impacto ambiental e às alegações de privilégio político. Ele desafia essas críticas, argumentando que o setor agropecuário é um dos menos subsidiados do mundo e que, na verdade, tem desempenhado um papel essencial na estabilização da economia, inclusive ao ajudar a conter a inflação no Brasil.

Martins explica que a deflação nos preços dos alimentos em 2017, um dos fatores que mantiveram a inflação baixa, foi diretamente influenciada pela alta produtividade da agropecuária. No entanto, ele aponta o paradoxo desse sucesso: enquanto os consumidores se beneficiam de preços mais baixos, os produtores enfrentam margens apertadas e dificuldades econômicas.

“Os custos da produção – salários, combustíveis, fertilizantes, defensivos – seguiram subindo e os preços declinantes dos produtos significam prejuízo para agricultores e pecuaristas”, observa.

Ele ainda rebate a ideia de que o agronegócio precisa constantemente se justificar perante a sociedade. Para ele, o setor contribui de forma significativa para a geração de empregos, crescimento econômico e segurança alimentar, tanto no Brasil quanto no exterior.

“Espero que daqui para a frente nem o presidente do Banco Central precise mais pedir desculpas pela inflação baixa nem os produtores rurais precisem pedir desculpas pelo bem que realizam”, conclui Martins, sinalizando que é hora de o Brasil reconhecer o valor do agronegócio e de suas contribuições.

Apoio do agronegócio a Jair Bolsonaro em 2018 foi uma “questão de momento”, diz João Martins em entrevista

Em 8 de dezembro de 2021 (quarta-feira), o presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), João Martins da Silva Júnior, em entrevista coletiva editada por André Shalders e publicada no Jornal O Estado de S,Paulo (Estadão), afirmou que o apoio dado pelo agronegócio ao então candidato Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 foi circunstancial e pode não se repetir em 2022. De acordo com Martins, as manifestações de apoio ocorridas no pleito anterior refletiram um momento específico, sugerindo que a posição do setor em relação ao próximo processo eleitoral permanece indefinida.

“Eu acho que foi uma questão de momento”, declarou Martins durante entrevista coletiva, ao explicar o apoio de parte do agronegócio ao presidente Bolsonaro em 2018. O dirigente ressaltou que, em sua gestão, a CNA tem mantido uma postura apolítica, que será mantida no próximo ano eleitoral. Ele reiterou que a entidade irá apresentar demandas do setor a todos os candidatos à Presidência, buscando alinhamento com as pautas do agronegócio independentemente de partidos ou ideologias. Segundo ele, o foco da CNA está na solução de problemas estruturais, como o escoamento da produção e a infraestrutura do país.

A Confederação Nacional da Agricultura, principal entidade de representação do agronegócio no Brasil, é tradicionalmente liderada por grandes produtores rurais. Antes de João Martins, a CNA foi presidida por Kátia Abreu, senadora pelo Tocantins (Progressistas), entre 2008 e 2015. Desde então, a instituição se mantém como um ator fundamental nas negociações políticas e econômicas que envolvem o setor.

Martins esclareceu que a ligação da CNA com o governo Bolsonaro se dá em torno de pautas específicas e interesses setoriais, sem envolvimento com ideologias partidárias. “Nossa ligação não é de política partidária, é política classista”, afirmou. O presidente da CNA destacou que as principais demandas da entidade incluem melhorias na infraestrutura e a reformulação de leis que impactam o setor agropecuário. Nesse contexto, ele mencionou a atuação da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que exerce papel fundamental na mediação de questões legislativas no Congresso.

Nos últimos meses, o agronegócio tem enfrentado desafios econômicos significativos. No terceiro trimestre de 2021, o desempenho do setor agropecuário registrou queda de 8%, o que impactou diretamente o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Além disso, a suspensão das importações de carne bovina brasileira pela China, principal destino das exportações do produto, resultou em uma retração de 43% nas vendas externas em outubro.

A divisão dentro do setor ficou particularmente evidente durante as manifestações de 7 de setembro de 2021, convocadas pelo, à época presidente Jair Bolsonaro. Enquanto parte do agronegócio apoiou a realização dos atos, outra parcela criticou duramente os protestos. Em um episódio que ganhou grande repercussão nas redes sociais, o cantor sertanejo Sérgio Reis, acompanhado de representantes da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), convocou caminhoneiros e produtores para paralisar o país. O movimento pedia, entre outras demandas, a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o retorno do voto impresso nas eleições de 2022.

A Aprosoja, presidida por Antonio Galvan, apoiou os atos, gerando divisões dentro do setor. Blairo Maggi, ex-ministro da Agricultura e um dos maiores produtores de soja do país, criticou publicamente a posição da entidade. Maggi defendeu que a Aprosoja deveria manter seu foco nas pautas setoriais, sem se envolver em manifestações de cunho político-partidário. Outros líderes do agronegócio também se posicionaram contra o envolvimento do setor nos protestos.

A visão de futuro e a esperança de um setor moderno e sustentável

Ao longo de sua liderança na CNA, João Martins se posicionou como defensor de um agronegócio moderno e inovador, que valoriza o uso eficiente dos recursos naturais e o papel da ciência na melhoria da produção agrícola. Para ele, a agropecuária brasileira não é apenas uma fonte de riqueza para o país, mas um modelo que deve ser exportado e celebrado em todo o mundo.

A liderança de João Martins da Silva Júnior na CNA reflete seu compromisso com a modernização do setor agropecuário, a defesa de práticas sustentáveis e a promoção de um diálogo construtivo entre os diversos atores da economia brasileira. Para ele, o agronegócio já se consolidou como uma força motriz da economia nacional, mas o sucesso do setor depende de uma gestão equilibrada dos recursos naturais e de um ambiente político que favoreça o desenvolvimento econômico sustentável.

Com uma visão pragmática e pautada pela experiência no campo, Martins acredita que a integração entre inovação, sustentabilidade e empreendedorismo continuará a ser o caminho para o crescimento do agronegócio. Suas reflexões não apenas reforçam a importância do setor para o Brasil, mas também alertam para a necessidade de políticas públicas que garantam sua continuidade como pilar da economia nacional.

Os artigos e a entrevista com João Martins da Silva Júnior

Em 21/03/2015, Água e agronegócio

Em 16/06/2016, O que está faltando ao Brasil

Em 19/01/2018, A agropecuária precisa pedir desculpas?,

Em 08/12/2021, Apoio do agronegócio a Bolsonaro em 2018 foi ‘questão de momento’, diz presidente da CNA

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