Quando Lula assumiu o poder esperava-se que Bolsonaro fosse para o ostracismo, acompanhado dos inúmeros processos a que responde e do inquérito do fim do mundo, cuja duração é imprevisível, pelo menos até as próximas eleições. A “herança maldita” deixada pelo ex-presidente, na mente dos petistas, seria esquecida com a realização dos grandes projetos prometidos por Lula, alguns iniciados no “ano da reconstrução”, ou seja, em 2023.
Para 2024, o Planalto tinha como plano deixar Bolsonaro como uma triste lembrança do passado, sem perspectiva de ressurreição, pelo menos a curto prazo. Entretanto, isso não foi possível devido ao complexo de inferioridade de Lula, que não perde uma oportunidade de citar o nome do seu desafeto em suas falas. A “questão Bolsonaro” tornou-se, então, o objetivo predominante do lulismo e do STF.
Em quase todos os discursos do petista ele não cansa de lembrar o seu adversário, projetando-o nas mais diversas situações, principalmente nas redes sociais. Essa obsessão não é de agora. Ciro Gomes disse, em certa ocasião, que Lula era o responsável por “fundar e ressuscitar o Bolsonarismo no Brasil. Segundo Ciro, “Bolsonaro ajuda, porque é um bruto, um grosseiro, um fascista etc., mas quem fundou o bolsonarismo e o ressuscitou, para servir de espantalho e não deixar que o Brasil se liberte disso se chama Luiz Inácio Lula da Silva”.
Pelo visto, Ciro foi profético. De tanto lembrar o nome do seu adversário em suas falas, Lula solidificou o personagem e o seu movimento como uma força política, capaz de derrotar o PT e seus aliados em qualquer eleição. A disputa entre os apoiadores de Bolsonaro e os de Lula se tornou tão forte que a política ficou polarizada entres os dois. Entretanto, o resultado do primeiro turno das eleições mostrou que o Centrão evitou essa polarização com competência, conforme demonstram os números: PSD e MDB conquistaram, respectivamente, 888 e 863 prefeituras, sendo os dois maiores vencedores do pleito. O PP vem logo atrás, com 752 cidades, enquanto o União Brasil ficou com 590. Mesmo participando do governo, os quatro partidos possuem uma identificação maior com a direita, principalmente o PP e o União Brasil — assim como fizeram no governo Bolsonaro e em administrações anteriores.
Já o PT elegeu apenas dois prefeitos no primeiro turno, sendo que, nos dois casos, tratou-se de prefeitas que tentavam a reeleição: Marília Campos em Contagem (MG), e Margarida Salomão, em Juiz de Fora, também em Minas Gerais. Enquanto isso, o PL elegeu o maior número de prefeitos nas 103 maiores cidades do país, conquistando 10 prefeituras. Partidos de centro-direita como o PP (7), PSD (5), MDB (5) e Republicanos (4) também conseguiram eleger prefeitos no primeiro turno, aguardando, com perspectivas de vitória, o segundo turno para adicionar mais representantes no Executivo municipal.
O PL ainda é o partido com mais candidatos no segundo turno, disputando 24 prefeituras. O partido de Bolsonaro tem 13 candidatos que foram para o segundo turno à frente de seus adversários, enquanto a legenda de Lula tem apenas cinco candidatos nessas circunstâncias. O resultado dessas eleições mostrou que Ciro Gomes estava certo quando disse que Lula ressuscitou o Bolsonarismo. As eleições municipais demonstraram a força desse movimento a nível municipal. Antes (2020), o grupo político do ex-presidente se encontrava disperso em várias legendas, já que o próprio Bolsonaro estava sem partido. Foi somente no fim de 2021 que o ex-presidente se filiou ao PL e deu início ao processo de “profissionalização” na política.
Hoje o PL integra aquela parcela de partidos que não tem ideologia política clara, a não ser a defesa dos seus próprios interesses. O Centrão costuma transitar entre os governos de direita ou de esquerda oferecendo seu apoio em troca de cargos, e como Bolsonaro já disse que era Centrão, ele sairá como o grande vencedor, juntamente com o Centrão, lídimo representante da velha política. O bloco, hoje, conta com cerca de 220 parlamentares prontos para usar toda a estrutura estatal para se manter no poder. Eles precisam disso, e vão fazer de tudo para defender o status quo. O conglomerado de legendas abrange ainda os partidos Progressistas, Republicanos, Solidariedade e PTB, além de parlamentares do PSD, DEM, MDB, PROS e PSC. Isso significa que -confirmada a vitória do Centrão no segundo turno-, Lula só terminará o mandato se tiver o seu apoio.
*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.
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