PF descobre o preço da propina por sentença no STJ

A Polícia Federal identificou um esquema de corrupção no STJ envolvendo o assessor Márcio Toledo Pinto e o lobista Andreson Gonçalves. Foram descobertas 45 transferências financeiras totalizando R$ 4 milhões entre 2021 e 2023. A investigação aponta lavagem de dinheiro e vazamento de informações sigilosas. O STJ abriu procedimentos internos, enquanto as conexões com a Operação Faroeste indicam corrupção sistêmica no Judiciário.
Polícia Federal investiga propina de R$ 4 milhões no STJ e vazamento de informações sigilosas. Corrupção sistêmica no Judiciário é exposta.

Reportagem de Aguirre Talento e Mateus Coutinho — publicada nesta quarta-feira (12/03/2025) no UOL — revela que a Polícia Federal (PF) identificou evidências de que o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves realizou transferências financeiras totalizando R$ 4 milhões como suposta propina destinada a Márcio Toledo Pinto, assessor do Superior Tribunal de Justiça (STJ). As informações constam em relatório enviado pela PF ao ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do processo.

A investigação da PF aponta que as transferências ocorreram entre maio de 2021 e dezembro de 2023, feitas pela empresa Florais Transportes, pertencente ao lobista, para a Marvan Logística, de propriedade da esposa do assessor. Os valores variaram entre R$ 1 mil e R$ 250 mil, totalizando 45 operações financeiras.

A investigação da PF aponta que as transferências ocorreram através de esquemas complexos para ocultar a origem ilícita do dinheiro, configurando crime de lavagem de dinheiro.

“Analisando os dados bancários da empresa Florais Transportes, foram identificadas diversas transferências para a empresa Marvan Logística, o que aparentemente confirma os atos de corrupção praticados pelo servidor Márcio Toledo, intermediados pelo lobista Andreson”, afirma o documento enviado ao ministro Cristiano Zanin, relator do caso no STF.

Gabinetes envolvidos e vazamento de informações

Antes de seu afastamento, Toledo Pinto trabalhou diretamente nos gabinetes das ministras Nancy Andrighi e Isabel Gallotti, onde teria facilitado o acesso antecipado do lobista Andreson Gonçalves a informações sigilosas relacionadas a decisões judiciais. Segundo a PF, em pelo menos 13 processos judiciais houve vazamentos de minutas ainda em fase de elaboração. A investigação também revelou que parte dos pagamentos coincide temporalmente com o vazamento dessas informações privilegiadas.

Empresa sem funcionários levanta suspeita

Um ponto relevante da investigação refere-se à empresa Marvan Logística, criada em 2021. Apesar de movimentar valores significativos, a companhia não possui funcionários registrados nem atividade operacional conhecida, situação que fortalece as suspeitas de sua utilização como fachada para a movimentação irregular dos recursos, configurando a prática de lavagem de dinheiro.

Defesa dos acusados

A defesa de Márcio Toledo Pinto informou que não comentaria as acusações até o momento. Já os representantes do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, preso desde novembro de 2024 sob suspeitas de corrupção ativa e lavagem de dinheiro, não forneceram esclarecimentos adicionais sobre as transações investigadas.

STJ realiza investigações internas

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) informou que abriu procedimentos internos para investigar as suspeitas de corrupção e vazamento de informações sigilosas relacionadas aos gabinetes das ministras Nancy Andrighi e Isabel Gallotti. Segundo o tribunal, foram instaurados dois processos administrativos disciplinares e uma sindicância investigativa, todos mantidos sob sigilo. Márcio Toledo Pinto foi afastado das funções preventivamente até a conclusão das apurações internas.

Investigações avançam sobre outros gabinetes

A PF também investiga suspeitas relacionadas aos gabinetes dos ministros Moura Ribeiro e Og Fernandes. No gabinete do ministro Og Fernandes, há indícios de que seu ex-chefe de gabinete, Rodrigo Falcão, teria participado de irregularidades semelhantes. A PF informou ainda que novas linhas de investigação poderão ser abertas com base nos dados obtidos até o momento.

Posicionamento das ministras do STJ

Procuradas pela reportagem do site UOL, as ministras Nancy Andrighi e Isabel Gallotti não se manifestaram sobre o assunto até o momento.

Síntese dos fatos

Supostamente Envolvidos:

  • Andreson de Oliveira Gonçalves (Lobista)
  • Márcio Toledo Pinto (Assessor do STJ)
  • Esposa de Márcio Toledo Pinto (Proprietária da Marvan Logística)
  • Possíveis membros dos gabinetes das ministras do STJ: Nancy Andrighi e Isabel Gallotti

Valores das Transferências:

  • Total: R$ 4 milhões
  • Quantidade de transações: 45 transferências
  • Valores individuais: entre R$ 1 mil e R$ 250 mil

Período das transferências:

  • Entre maio de 2021 e dezembro de 2023

Empresas envolvidas:

  • Florais Transportes (Empresa do lobista Andreson)
  • Marvan Logística (Empresa da esposa do assessor Márcio Toledo Pinto, sem funcionários registrados, suspeita de ser fachada)

Crimes investigados:

  • Corrupção ativa e passiva
  • Lavagem de dinheiro
  • Vazamento de informações privilegiadas

Gabinetes do STJ sob investigação:

  • Ministra Nancy Andrighi
  • Ministra Isabel Gallotti
  • Ministro Og Fernandes (apuração adicional)
  • Ministro Moura Ribeiro (apuração adicional)

Ações internas no STJ:

  • Dois processos administrativos disciplinares em andamento
  • Uma sindicância investigativa aberta
  • Afastamento preventivo de Márcio Toledo Pinto

Vazamentos identificados:

  • Pelo menos 13 processos judiciais com vazamento de informações sigilosas

Posicionamentos oficiais:

  • Defesa de Márcio Toledo Pinto: não se manifestou
  • Defesa do lobista Andreson: Não respondeu aos questionamentos
  • Ministras Nancy Andrighi e Isabel Gallotti não se manifestaram até o momento

Os Casos Venditio Sententiae e Faroeste expõem corrupção sistêmica

O escândalo “Venditio Sententiae” revelou um esquema de corrupção no Superior Tribunal de Justiça (STJ), envolvendo servidores que facilitavam sentenças judiciais favoráveis mediante pagamento de propinas. As investigações foram desencadeadas após o assassinato do advogado Roberto Zampieri, que possuía provas vinculando o lobista Andreson Oliveira Gonçalves a autoridades judiciais e empresariais.

Como ocorreu a descoberta do esquema

Após o assassinato de Zampieri, a Polícia Federal (PF) iniciou investigações detalhadas. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) identificou movimentações financeiras suspeitas, apontando depósitos de R$ 2,625 milhões relacionados ao motorista João Batista Silva e à empresa Florais Transportes, controlada pelo lobista Gonçalves. Esses recursos são suspeitos de ligação direta com corrupção e lavagem de dinheiro.

Extensão das investigações

As autoridades identificaram irregularidades em 14 processos no STJ, o que resultou em pedidos de prisão de um lobista e afastamento de cinco servidores da Corte. Não está descartado o envolvimento direto de ministros do STJ no esquema criminoso.

Além da Polícia Federal, investigam o caso:

  • Procuradoria-Geral da República (PGR)
  • Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
  • Supremo Tribunal Federal (STF)
  • O próprio Superior Tribunal de Justiça (STJ)

Conexões com a Operação Faroeste

As investigações referentes ao Caso Venditio Sententiae identificaram conexões significativas com a Operação Faroeste, responsável pelo desmantelamento de um esquema similar de corrupção no Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA), voltado à prática sistemática de grilagem de terras e outros casos. Entre os investigados está Rodrigo Falcão, chefe de gabinete do ministro Og Fernandes, sob suspeita de ter vazado informações privilegiadas para a organização criminosa supostamente liderada por Gonçalves. Destaca-se o fato de Og Fernandes atuar como relator principal dos processos judiciais relacionados ao Caso Faroeste no âmbito do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A escala gradativa e geométrica da corrupção observada reforça o conceito definido pelo cientista social e jornalista Carlos Augusto como “Sistema Faroeste de Corrupção no Judiciário“. Tal cenário aponta, em tese, para a existência de uma Cleptocracia Autocrática Judicial no Brasil, caracterizada pelo uso indevido e sistemático de funções judiciais para obtenção ilícita de vantagens pessoais e patrimoniais.

Reações oficiais

Em nota oficial, o STJ afirmou seu compromisso com o Estado de Direito e ressaltou que os magistrados atuam com imparcialidade. Contudo, o escândalo abala a confiança pública no Judiciário brasileiro, levantando questões sobre privilégios, impunidade e possível instrumentalização política e econômica da Justiça.

Urgência de reformas estruturais

Especialistas ressaltam que os casos Venditio Sententiae e Faroeste demonstram a necessidade urgente de reformas estruturais no Judiciário brasileiro. Tais reformas visam restabelecer a confiança na integridade das instituições judiciais e garantir a imparcialidade e o equilíbrio republicano.

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