Domingo, 13/04/2025 – Em nova ofensiva no contexto da guerra comercial entre Estados Unidos e China, o governo norte-americano anunciou a imposição de tarifa geral de 10% sobre importações de todos os países e tarifa específica de 145% para produtos vindos da China. A medida representa um dos maiores aumentos tarifários já registrados no comércio bilateral entre as duas maiores economias do mundo.
O objetivo declarado da ação é reduzir o déficit comercial com Pequim, que em 2024 alcançou cerca de €264 bilhões, conforme dados citados pela BBC. Enquanto os EUA importaram cerca de €393 bilhões em produtos chineses, exportaram apenas €129 bilhões.
Contudo, o impacto da medida vai além da esfera econômica bilateral e atinge diretamente as cadeias de suprimento globais, especialmente aquelas ligadas à indústria de tecnologia, como smartphones, computadores, chips, semicondutores e veículos elétricos.
A cadeia de suprimentos da Apple: um caso emblemático
A Apple Inc., uma das principais afetadas pela nova tarifa, ilustra a magnitude e a interdependência do sistema produtivo contemporâneo. O iPhone 15, líder de vendas em 2024, é o resultado de um processo que envolve:
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Desenvolvimento de hardware e software nos EUA
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Fabricação de processadores em Taiwan
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Testes e embalagem nas Filipinas
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Montagem final na China, Índia ou Vietnã
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Suprimento mineral de mais de 43 países
Em 2023, a Apple operou com mais de 380 fornecedores localizados em mais de 50 países, segundo seu relatório de cadeia de valor. A China permanece como o principal polo de montagem e fornecimento de componentes, mas outros países asiáticos, como Taiwan, Coreia do Sul, Japão, Índia e Vietnã, também possuem papel estratégico.
Além disso, um iPhone utiliza mais de 60 minerais, como lítio, cobalto, estanho e ouro, provenientes de minas e refinarias espalhadas pelo globo. Muitas dessas matérias-primas são adquiridas de fornecedores que, por sua vez, terceirizam outras etapas do processo, o que torna a cadeia produtiva opaca e difícil de rastrear em sua totalidade.
Impactos econômicos: aumento de preços e incerteza nos lucros
As novas tarifas obrigam as empresas norte-americanas a recalcular seus custos operacionais e estratégias logísticas. Analistas consultados por veículos como The Wall Street Journal e Reuters apontam que o aumento nos preços dos produtos pode variar entre 10% e 50%, a depender da empresa e da estrutura de sua cadeia de suprimentos.
O analista financeiro Dan Ives, da Wedbush Securities, comparou o cenário a uma “tempestade de preços da categoria cinco”, fazendo referência ao maior grau de intensidade dos furacões. Ele destaca que a tarifa de 145% é comparável a “virar um barco de cabeça para baixo no oceano, sem coletes salva-vidas”, deixando empresas como Apple, Nvidia, Microsoft e AMD expostas a riscos sem precedentes.
Nesse contexto, as companhias têm duas alternativas principais:
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Repassar os custos ao consumidor final, elevando o preço dos produtos;
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Absorver as perdas na margem de lucro, comprometendo seus resultados financeiros.
Há também a possibilidade de reorganização das cadeias produtivas ou migração de processos para países aliados dos EUA, como Índia, Vietnã ou México. A Apple, por exemplo, já fretou aviões com produtos fabricados na Índia, em uma tentativa de minimizar o impacto imediato das tarifas.
Reações internacionais e retaliação da China
Em resposta às novas medidas de Washington, o governo chinês anunciou tarifas de 84% sobre chips e semicondutores produzidos nos EUA, o que impacta diretamente empresas como a Qualcomm, fornecedora de componentes para fabricantes asiáticas como a Xiaomi.
A Xiaomi, terceira maior vendedora de smartphones na Europa, utiliza chips americanos em diversos modelos. Com a elevação das tarifas, os custos de produção aumentam substancialmente, e a empresa pode enfrentar dificuldades para manter sua competitividade em mercados globais.
No momento, as grandes empresas de tecnologia adotam postura cautelosa, sem pronunciamentos oficiais sobre as consequências das tarifas. Segundo fontes da indústria, há mobilização nos bastidores para pressionar o Congresso dos EUA a reconsiderar os termos das tarifas.
Consequências para o mercado europeu e o consumidor final
As implicações da medida também são sentidas fora dos Estados Unidos. Na Europa, onde os preços dos produtos da Apple já são superiores aos praticados nos EUA, uma nova onda de reajustes pode agravar o cenário de inflação tecnológica.
Além disso, enquanto a Apple lidera o mercado de smartphones nos EUA, na Europa ela ocupa o segundo lugar, atrás da Samsung. Uma eventual perda de competitividade nos preços pode favorecer marcas concorrentes, especialmente as que possuem maior autonomia produtiva fora da China, como a coreana Samsung e a indiana Lava.
Contexto geopolítico: desacoplamento produtivo e nova ordem tecnológica
A medida adotada pelo governo norte-americano está inserida em uma estratégia mais ampla de reindustrialização e desacoplamento da China, iniciada durante o governo Trump e intensificada por Biden. O objetivo central é reduzir a dependência industrial dos EUA em relação à Ásia, especialmente em setores estratégicos como tecnologia, energia e defesa.
Contudo, especialistas alertam que uma reconfiguração completa das cadeias produtivas exigirá anos de investimento, requalificação de mão de obra e subsídios estatais massivos — além de negociações com aliados comerciais. Enquanto isso, os custos recaem sobre empresas e consumidores, especialmente em setores como eletrônicos, automotivo e telecomunicações.
Apple antecipa envio de 1,5 milhão de iPhones da Índia aos EUA diante de tarifas de Trump
Aumento de tarifas comerciais impulsiona estratégia logística da Apple para garantir estoques e evitar impactos nos preços dos aparelhos no mercado norte-americano
Salvador, sexta-feira, 11/04/2025 – A Apple intensificou o transporte aéreo de iPhones da Índia para os Estados Unidos, antecipando-se à entrada em vigor de tarifas adicionais sobre a importação de eletrônicos, impostas pelo governo norte-americano. A medida envolve o envio de aproximadamente 1,5 milhão de unidades dos aparelhos, o equivalente a 600 toneladas de carga, distribuídas em seis voos fretados desde março deste ano.
Estratégia logística acelerada para mitigar impactos tributários
Diante do novo pacote tarifário decretado pelo presidente Donald Trump, que elevou para 54% as taxas de importação sobre smartphones, a empresa norte-americana adotou medidas emergenciais para garantir a oferta dos produtos no mercado interno sem repasse imediato dos aumentos ao consumidor.
Segundo informações divulgadas pela agência Reuters, a Apple negociou com autoridades aeroportuárias indianas a redução do tempo de liberação alfandegária de 30 horas para 6 horas no aeroporto de Chennai, no estado de Tamil Nadu, estratégia semelhante àquela adotada em grandes centros logísticos chineses.
Cada jato de carga utilizado possui capacidade média de 100 toneladas, permitindo o transporte de grandes quantidades de aparelhos em curto intervalo. A carga transportada corresponde, em peso, à estimativa de 350 gramas por unidade, incluindo embalagem e acessórios.
Aumento da produção e operação dominical na Foxconn Índia
Com a escalada nas exportações, a Apple e sua principal fornecedora, Foxconn, também decidiram ampliar a produção local com a implantação de um novo turno aos domingos na unidade fabril de Chennai. A planta, que já produziu cerca de 20 milhões de iPhones em 2024, agora passa a operar em tempo integral, inclusive no dia tradicional de repouso semanal.
Além da Foxconn, a Tata Electronics também figura entre os principais fornecedores da Apple na Índia, país que abriga atualmente três fábricas em operação e duas em construção, reforçando a estratégia de diversificação da cadeia produtiva para fora da China.
Participação indiana na cadeia de suprimentos cresce com apoio do governo Modi
Estima-se que 20% das importações de iPhones pelos EUA atualmente sejam oriundas da Índia, segundo dados da Counterpoint Research, enquanto a China ainda responde pela maior parte. A Apple, no entanto, passou os últimos oito meses estruturando uma cadeia de logística aduaneira rápida, com apoio do governo do primeiro-ministro Narendra Modi.
O impacto da nova estratégia já é perceptível. Os envios da Foxconn da Índia para os Estados Unidos somaram US$ 770 milhões em janeiro e US$ 643 milhões em fevereiro, de acordo com registros alfandegários. Esses valores representam crescimento expressivo em comparação com o intervalo de US$ 110 a US$ 331 milhões registrados nos quatro meses anteriores.
Cerca de 85% das cargas aéreas foram distribuídas entre os aeroportos de Chicago, Los Angeles, Nova Iorque e São Francisco, evidenciando a prioridade da empresa em manter a distribuição nos principais polos de consumo dos EUA.
Reação às tarifas: iPhone 16 Pro Max pode ultrapassar US$ 2.300
Com o aumento das tarifas para produtos chineses de 54% para 125%, analistas da Rosenblatt Securities estimam que o preço final de um iPhone 16 Pro Max (modelo topo de linha) pode subir de US$ 1.599 para até US$ 2.300, caso importado diretamente da China. Este cenário impulsiona a migração da produção para a Índia e outras regiões com menor incidência tarifária.
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