PT deve perder entre os evangélicos e só 10% do eleitorado está em disputa em 2026, aponta Felipe Nunes, da Quaest

Em entrevista, diretor da Quaest avalia cenário eleitoral de 2026, destaca queda da fidelidade ideológica e enfatiza o papel estratégico dos eleitores indecisos nos maiores colégios eleitorais.

Quarta-feira, 23/04/2025 – O cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, uma das principais empresas de pesquisa do país, avaliou em entrevista à Thiago Prado — publicada na quarta-feira (23/04/205) no jornal O Globo — que o cenário para as eleições de 2026 será de alta polarização, com espaço reduzido para reviravoltas. Segundo ele, apenas 10% do eleitorado nacional permanece em disputa real, concentrado em quatro colégios estratégicos: São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Nunes destaca que, apesar da queda na aprovação do governo Lula, não há, por ora, alternativas viáveis suficientemente conhecidas pela população. O PT, segundo ele, perderá apoio entre os evangélicos, enquanto o antipetismo se manterá forte nas camadas mais ricas da sociedade.

O esgotamento da lógica da gratidão eleitoral

De acordo com Felipe Nunes, a ideia de que benefícios sociais garantem apoio eleitoral automático está superada. Em suas palavras, o eleitorado brasileiro “amadureceu” e passou a encarar políticas públicas como obrigações básicas do Estado, e não como favores políticos.

O pesquisador observa ainda que o governo Lula enfrenta descrédito em sua narrativa de retomada econômica e social, citando promessas não cumpridas e decisões contraditórias, como as idas e vindas sobre taxações de produtos e o uso do Pix.

Disputa se dará entre quem tem menor rejeição

Felipe Nunes sustenta que a eleição de 2026 repetirá o confronto entre um candidato petista e um nome antipetista. Porém, vencerá quem tiver menor rejeição junto aos eleitores que migraram do PSDB para o PT em 2022, um segmento de centro identificado como liberal-social.

Esse grupo representa apenas 10% do eleitorado, mas é considerado decisivo. Segundo o analista, o voto desses eleitores será determinado pela capacidade dos candidatos de gerar confiança e apresentar uma agenda convincente de segurança, economia e reformas.

Rejeição evangélica ao PT é consolidada

Nunes foi enfático ao afirmar que o PT não reconquistará os evangélicos, grupo que representa uma fatia significativa e influente do eleitorado brasileiro. Para ele, esse segmento já está consolidado no campo antipetista, o que reduz a margem de crescimento do partido na base religiosa.

Nomes competitivos à direita

Entre os nomes apontados como mais competitivos do campo antipetista, Nunes destaca:

  • Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo;

  • Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais;

  • Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás, com viabilidade limitada por questões internas no partido.

Segundo ele, Tarcísio e Zema reúnem características-chave: baixos índices de rejeição, forte presença nos maiores colégios eleitorais e discurso alinhado ao antipetismo.

O papel do “outsider” e o risco de superficialidade

Nunes reconhece que há demanda por candidatos “outsiders”, mas ressalta que não basta ser novo ou desconhecido para conquistar o eleitorado. Cita como exemplo positivo Romeu Zema, e como contraponto negativo, Pablo Marçal, que perdeu força na reta final da disputa paulistana de 2022.

Segurança pública como tema central

A segurança pública será uma das pautas dominantes em 2026, segundo Nunes. Para ele, o eleitor percebe que o problema da violência ultrapassa a competência estadual e exige respostas legislativas nacionais mais rigorosas. Isso explica, segundo ele, por que governadores ainda mantêm boa imagem mesmo com altos índices de violência.

Desafios para a esquerda e sucessão no pós-Lula

Nunes destaca que, além do desgaste do governo atual, a esquerda enfrenta o desafio de renovar suas lideranças. Cita como nomes promissores:

  • Camilo Santana (PT), atual ministro da Educação;

  • Fernando Haddad (PT), ministro da Fazenda;

  • João Campos (PSB), prefeito do Recife;

  • Eduardo Paes (PSD), prefeito do Rio de Janeiro.

Esses nomes, segundo ele, têm capacidade de dialogar com o centro e construir pontes fora da polarização tradicional.

O impacto da percepção econômica

Outro fator relevante, segundo o diretor da Quaest, é a desconexão entre os índices macroeconômicos e a percepção real da população. Mesmo com indicadores como o PIB e o Caged apresentando bons resultados, o sentimento das pessoas sobre a economia continua negativo, o que compromete a narrativa de sucesso econômico do governo.

Fake news e o “voto invisível”

Ao comentar o impacto das fake news, Nunes relativiza seu poder de convencimento: “elas reforçam crenças pré-existentes, mas não mudam opinião”. Em relação ao chamado “voto invisível” — quando eleitores omitem suas preferências —, afirma que o fenômeno é antigo e tende a ser minimizado com métodos mais modernos de coleta de dados.

Minoria estratégica

A entrevista de Felipe Nunes reforça que a eleição presidencial de 2026 será novamente decidida por uma minoria estratégica, altamente volátil e concentrada nos principais centros urbanos do país. O quadro aponta para um embate altamente polarizado, em que rejeição, credibilidade e percepção econômica serão fatores decisivos.

Cenário Eleitoral 2026

  • Apenas 10% do eleitorado está em disputa real.

  • Disputa será entre candidato petista e candidato antipetista.

  • Eleição será decidida por swing voters nos seguintes colégios eleitorais:

    • São Paulo (capital)

    • Salvador

    • Rio de Janeiro (capital)

    • Estado de Minas Gerais

  • Lula lidera simulações por ausência de alternativas oposicionistas viáveis no momento.

Comportamento do Eleitorado

  • Fim da gratidão eleitoral por benefícios sociais.

  • 70% dos eleitores não têm medo de perder benefícios, independentemente do governo.

  • Crescente descrédito nas promessas governamentais.

  • Percepção negativa da economia mesmo com bons índices formais.

  • O eleitor vê ações públicas como obrigações, e não como conquistas.

Segmentações de Eleitorado

  • Evangélicos: apoio ao PT é irreversivelmente perdido.

  • Liberais sociais (ex-eleitores do PSDB): segmento chave dos 10% em disputa.

  • Classe média desiludida: tende à abstenção ou ao voto de protesto.

Rejeição e Popularidade

  • O que define a vitória: menor rejeição no grupo estratégico.

  • Segurança pública é tema de maior preocupação dos eleitores.

  • Governadores continuam bem avaliados mesmo com altos índices de violência.

Candidatos e Potenciais Nomes

Direita / Antipetismo

  • Tarcísio de Freitas (Republicanos) – governador de SP.

  • Romeu Zema (Novo) – governador de MG.

  • Ronaldo Caiado (União Brasil) – governador de GO.

  • Ratinho Jr. (PSD) – menor projeção por rejeição mais alta.

Esquerda / Pós-Lula

  • Camilo Santana (PT) – ministro da Educação.

  • Fernando Haddad (PT) – ministro da Fazenda.

  • João Campos (PSB) – prefeito do Recife.

  • Eduardo Paes (PSD) – prefeito do Rio de Janeiro.

Ideias Estratégicas para o Governo

  • Reforma ministerial com nomes jovens para oxigenar o governo.

  • Plano de saúde popular de até R$ 100 – proposta de Padilha em discussão.

  • Melhoria da comunicação para reforçar imagem e gerar confiança.

Análise Metodológica e Perceptiva

  • Fake news reforçam crenças, mas não convencem.

  • Voto invisível” existe, mas é minimizado com métodos anônimos.

  • Desejabilidade social ainda impacta respostas em temas sensíveis.


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