Domingo, 18/05/2025 – Em artigo publicado, em março de 2025, na revista Finanças e Desenvolvimento do site do Fundo Monetário Internacional (FMI), sob o título “Desfecho da Alemanha“, o economista Christoph B. Rosenberg, ex-diretor adjunto do Departamento de Comunicações do FMI, analisa criticamente o livro “Kaput: O Fim do Milagre Alemão”, de Wolfgang Münchau, publicado em 2024 pela editora Swift Press, em Londres.
A obra oferece um diagnóstico contundente sobre o declínio do modelo econômico alemão, outrora celebrado como exemplo de sucesso do pós-guerra. Segundo Rosenberg, Münchau – veterano comentarista econômico do Financial Times – descreve com clareza os erros estratégicos, excessos de conservadorismo e decisões políticas que minaram a sustentabilidade do crescimento alemão nas últimas três décadas.
Um modelo esgotado: os pilares do neomercantilismo alemão
No centro da crítica está a obsessão nacional com um modelo econômico neomercantilista, centrado em exportações de alta qualidade, especialmente nos setores de automóveis, produtos químicos e equipamentos industriais. Conforme destacado por Rosenberg, essa estratégia consolidou-se com a cumplicidade de políticos, grandes corporações, sindicatos, bancos e meios de comunicação.
Münchau mostra que a dependência das exportações, a resistência à inovação digital e a relutância em adotar tecnologias emergentes – como veículos elétricos e redes de fibra óptica – têm raízes profundas no ethos alemão do pós-Segunda Guerra. Trata-se de uma cultura marcada pelo conceito de “Besitzstandswahrung”, isto é, o desejo de preservar conquistas anteriores em detrimento da adaptação ao futuro.
Crítica à falta de visão macroeconômica
Rosenberg, no entanto, aponta uma lacuna significativa na análise de Münchau: a ausência de uma abordagem macroeconômica mais robusta. Segundo ele, o autor negligencia o papel da alta taxa de poupança nacional e dos superávits em conta corrente como componentes centrais da disfunção atual. O comportamento conservador das famílias alemãs, que privilegiam a poupança ao consumo, força as empresas a exportar e impede a dinamização do mercado interno.
Além disso, a política fiscal excessivamente rígida, que impede investimentos públicos necessários em infraestrutura e digitalização, e o sistema bancário fechado, que canaliza recursos para aplicações externas de risco, agravam ainda mais os problemas estruturais.
Falta de propostas concretas
Outro ponto criticado por Rosenberg é a ausência de propostas pragmáticas por parte de Münchau para reverter o quadro. A única sugestão concreta – uma maior integração do mercado de capitais europeu – surge no epílogo e é prontamente descartada pelo próprio autor como irrealista.
Rosenberg observa que o livro abre caminhos para uma agenda de reformas viável, que incluiria a revisão do freio constitucional à dívida, apoio a startups e digitalização acelerada da economia alemã. Contudo, Münchau opta por encerrar sua análise em tom pessimista, deixando ao leitor a impressão de um país paralisado por sua própria tradição.
Entre o declínio e a esperança
Apesar do tom crítico e do diagnóstico sombrio, o artigo ressalta que há sinais de resiliência na economia alemã, como o sucesso de empresas não-manufatureiras, a exemplo da SAP, e a possibilidade de retorno de talentos expatriados. A contribuição de Münchau, ainda que incompleta sob a ótica macroeconômica, estimula um debate necessário sobre a viabilidade do modelo alemão em uma era pós-globalização.
Biografia do economista Christoph B. Rosenberg
Christoph B. Rosenberg é um economista alemão de destaque, com ampla trajetória em instituições multilaterais, políticas econômicas internacionais e análises sobre finanças públicas e macroeconomia. Servidor de carreira do Fundo Monetário Internacional (FMI), atuou como diretor adjunto do Departamento de Comunicações da entidade, onde desempenhou papel central na formulação e divulgação das posições institucionais do Fundo junto à comunidade internacional, governos e imprensa especializada.
Formado em Economia na Alemanha, Rosenberg obteve pós-graduação em universidades europeias e norte-americanas, com foco em economia internacional, finanças públicas e políticas de estabilização macroeconômica. Ao longo de sua carreira no FMI, ocupou funções técnicas e de liderança em diversos departamentos, incluindo missões em países emergentes e desenvolvidos, com ênfase na Europa Oriental, Europa Central e Ásia Central, especialmente durante e após a crise financeira global de 2008.
Antes de integrar o alto escalão do Departamento de Comunicações, Christoph Rosenberg liderou trabalhos em programas de assistência técnica, análise de sustentabilidade fiscal e reestruturação de dívidas soberanas. Foi um dos principais responsáveis por relatórios técnicos e comunicados de políticas do FMI sobre a zona do euro, além de colaborar com governos nacionais em reformas estruturais voltadas à estabilidade monetária e crescimento sustentável.
Além de sua atuação no FMI, é autor de artigos acadêmicos, análises em publicações como Foreign Affairs e IMF Working Papers, com destaque para temas como a crise do euro, o papel dos superávits externos na economia alemã e os desafios das políticas fiscais na era pós-globalização.
Em sua produção intelectual mais recente, Rosenberg tem se dedicado à crítica dos modelos econômicos conservadores predominantes em países como a Alemanha, articulando uma visão que combina ortodoxia fiscal com a necessidade de inovação e modernização da política econômica, sobretudo diante de contextos de desaceleração estrutural. Seu artigo “Desfecho da Alemanha”, publicado em março de 2025 na revista Foreign Affairs, analisa o declínio do modelo neomercantilista alemão à luz do livro Kaput: O Fim do Milagre Alemão, de Wolfgang Münchau, sendo amplamente citado em debates econômicos sobre o futuro da Europa.
Atualmente, Christoph B. Rosenberg colabora com centros de pesquisa, think tanks e universidades, mantendo-se como uma voz influente no debate econômico global.
Biografia de Wolfgang Münchau
Wolfgang Münchau é um economista, jornalista e autor alemão de renome internacional, amplamente reconhecido por suas análises críticas sobre a economia europeia e global. Especialista em macroeconomia, integração europeia e políticas fiscais, Münchau consolidou-se como uma das vozes mais influentes do jornalismo econômico nas últimas décadas, especialmente por sua atuação como colunista e editor associado do Financial Times e por suas contribuições à imprensa especializada na Alemanha e no Reino Unido.
Graduado em Matemática e Jornalismo pela Universidade de Bonn, com especialização em Economia pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido, Wolfgang Münchau iniciou sua carreira como repórter econômico, atuando em veículos de prestígio, como a Frankfurter Allgemeine Zeitung. Posteriormente, ingressou no Financial Times, onde assumiu a editoria da seção europeia e, mais tarde, tornou-se colunista sênior, com foco nas transformações econômicas da União Europeia, crises financeiras e políticas monetárias do Banco Central Europeu (BCE).
Ao longo de sua trajetória, Münchau notabilizou-se por adotar uma abordagem crítica e independente, frequentemente questionando os pressupostos convencionais do mainstream econômico europeu, sobretudo a rigidez fiscal da Alemanha, o funcionamento da zona do euro, e os efeitos sociais e estruturais das políticas de austeridade. É cofundador e diretor do portal de análise política e econômica Eurointelligence, plataforma dedicada à cobertura técnica e crítica dos assuntos europeus.
Em 2024, publicou o livro “Kaput: O Fim do Milagre Alemão” (Kaput: The End of the German Economic Miracle), pela editora Swift Press, no qual examina as causas do declínio econômico estrutural da Alemanha. A obra denuncia o esgotamento do modelo neomercantilista baseado em exportações, a estagnação da inovação tecnológica, o atraso digital e a paralisia provocada pelo conservadorismo fiscal. Münchau articula, com base em experiências e análises de bastidores, como a política, o empresariado e a mídia alemã colaboraram para preservar um modelo já anacrônico diante da nova ordem econômica global.
Apesar da contundência crítica, Münchau é também conhecido por seu rigor analítico e capacidade de traduzir temas econômicos complexos em linguagem acessível, mantendo forte presença em debates públicos e acadêmicos. Suas análises influenciam formuladores de políticas, jornalistas, economistas e investidores que buscam compreender as dinâmicas estruturais da economia europeia.
Wolfgang Münchau reside entre Londres e Bruxelas, e segue ativo como comentarista político-econômico, conferencista e consultor independente.
Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




