Reportagem de José Marques, — publicada no jornal Folha de S.Paulo — revela que na quinta-feira (29/05/2025), vieram a público informações constantes de relatório da Polícia Federal (PF) que indicam relação de confiança e intimidade entre o ex-assessor de gabinete do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Márcio José Toledo Pinto, e o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, apontado como operador de um suposto esquema de venda de decisões judiciais na corte superior.

Segundo a análise, incluída nos autos da Operação Sisamnes e sob sigilo, há indícios de tentativa de obstrução das investigações por parte de Toledo, com deleção de mensagens e arquivos de mídia considerados relevantes, inclusive envolvendo outros investigados, como o ex-chefe de gabinete da ministra Isabel Gallotti, Daimler Alberto de Campos.

Histórico do servidor e atuação nos gabinetes

Márcio Toledo exerceu funções nos gabinetes das ministras Nancy Andrighi e Isabel Gallotti, que não são alvos da investigação. Foi afastado inicialmente por decisão administrativa do STJ e, posteriormente, por decisão judicial do Supremo Tribunal Federal (STF).

A investigação, conduzida sob a relatoria do ministro Cristiano Zanin, do STF, examina a atuação de servidores e intermediários na suposta manipulação de decisões judiciais e vazamento de informações sigilosas.

Elementos encontrados no celular e vínculos com Andreson Gonçalves

O celular de Márcio Toledo revelou:

Mensagens com menções diretas ao lobista, inclusive com envio de fotos de um resort no Paraná que, embora não esteja formalmente em nome de Andreson, seria de sua propriedade;
Trocas de mensagens com a esposa, em que Toledo se refere a familiares de Andreson com familiaridade;
Comprovantes de depósitos de R$ 115 mil, realizados em 2023 da empresa Florais Transportes Ltda., de Andreson, para a empresa Marvan Logística, pertencente à esposa de Toledo;
Indícios de mensagens deletadas com contatos identificados como “Flamenguista” (associado a Andreson), Mirian Ribeiro Gonçalves (esposa de Andreson) e funcionário da Florais Transportes.

Esses dados reforçam a tese da PF de que havia uma relação pessoal e operacional contínua entre os dois investigados.

Investigações paralelas e outras frentes de apuração

O relatório também indica interferência em processos internos do STJ, com alterações e exclusões de minutas em tempo hábil suficiente para evitar rastreamento por outros usuários.

Dentre os nomes que aparecem nas conversas analisadas pela PF está Daimler Alberto de Campos, então chefe de gabinete da ministra Gallotti, citado por Andreson como destinatário de cobranças financeiras. A defesa de Daimler nega qualquer irregularidade.

O STJ confirmou a existência de três processos administrativos em curso, sendo dois processos disciplinares e uma sindicância investigativa, com o objetivo de apurar responsabilidades de servidores envolvidos.

Posicionamento das partes

Defesa de Márcio Toledo: declarou que se manifestará apenas nos autos.
Defesa de Andreson Gonçalves: afirmou que, devido à gravidade do caso, respeitará o sigilo judicial e não comentará fora do processo.
STJ: destacou que o servidor está formalmente afastado por decisão do STF e que acompanha a apuração interna dos fatos.