Caso Faroeste: CNJ determina aposentadoria compulsória da desembargadora do TJBA Sandra Inês Rusciolelli por manter ‘gabinete paralelo’ com o filho para favorecer decisões judiciais

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aposentou compulsoriamente, pela segunda vez, a desembargadora Sandra Inês Moraes Rusciolelli, do Tribunal de Justiça da Bahia, por manter um “gabinete paralelo” com o filho advogado para interferir em decisões judiciais. O caso se insere nos desdobramentos da Operação Faroeste, que apura esquema de corrupção no Judiciário baiano, e reforça as críticas sobre a impunidade disfarçada em sanções administrativas como aposentadoria com vencimentos.
CNJ afasta a desembargadora Sandra Inês, do TJBA, por manter “gabinete paralelo” com o filho para interferir em decisões judiciais. Caso está ligado à Operação Faroeste, que apura corrupção no Judiciário baiano.

Na terça-feira (10/06/2025), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou, por unanimidade, a aposentadoria compulsória da desembargadora Sandra Inês Moraes Rusciolelli, do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA), acusada de instituir um “gabinete paralelo” com o filho, o advogado Vasco Rusciolelli Azevedo, para produzir sentenças judiciais mediante interesses externos à Corte. A penalidade é a mais severa prevista pela Lei Orgânica da Magistratura (Loman).

Decisão do CNJ e fundamentos da penalidade

O julgamento ocorreu durante a sessão plenária do CNJ e teve como base o Processo Administrativo Disciplinar (PAD) nº 0005352-94.2022.2.00.0000, instaurado após o surgimento de indícios de que a magistrada integrava organização voltada à negociação de decisões judiciais, com interferência direta de terceiros sem vínculo formal com o Judiciário.

De acordo com o relator, conselheiro Rodrigo Badaró, Sandra Inês violou os deveres funcionais de independência, imparcialidade e decoro, ao permitir que seu filho tivesse acesso e influência sobre atos jurisdicionais, o que comprometeu a credibilidade institucional da magistratura.

Reincidência e histórico disciplinar

Esta é a segunda aposentadoria compulsória imposta à desembargadora pelo CNJ. A primeira foi decretada em dezembro de 2024, no contexto de outro PAD relacionado à prática de “rachadinha”, por meio da exigência de repasses salariais de servidores nomeados em seu gabinete.

Sandra Inês também é ré em ação penal instaurada pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que acolheu denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, com base em investigações da Operação Faroeste.

Desdobramentos da Operação Faroeste

Desde 2020, a magistrada estava afastada de suas funções por decisão judicial. Ela e seu filho firmaram acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal (MPF), comprometendo-se a revelar detalhes do esquema de venda de sentenças ligado a disputas de terras no oeste baiano.

No entanto, em novembro de 2024, o ministro Og Fernandes, relator da Operação Faroeste no STJ, rescindiu os acordos de delação, após o MPF apontar descumprimento de cláusulas e ausência injustificada dos delatores em audiências. A defesa da desembargadora, à época, alegou que a quebra da confidencialidade partiu das autoridades investigativas, o que teria motivado o pedido de rescisão.

Detalhes do ‘gabinete paralelo’

O CNJ apurou que o “gabinete paralelo” era um mecanismo informal de produção de decisões judiciais orientadas por interesses privados, com a participação direta do filho da desembargadora e de advogados sem relação com o tribunal. O esquema funcionava à margem da estrutura oficial do TJBA, o que, segundo o relator, caracteriza grave infração ética e funcional.

O conselheiro Badaró afirmou que “a magistrada permitiu a ingerência externa nos atos jurisdicionais, comprometendo a independência do Poder Judiciário”. Os conselheiros João Paulo Schoucair e José Rotondano se declararam impedidos e não participaram do julgamento.

Contexto jurídico e institucional

A aposentadoria compulsória com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço, embora a mais grave sanção administrativa, não impede o prosseguimento das ações penais ou cíveis em curso. A Operação Faroeste segue como um dos principais casos de combate à corrupção no Judiciário brasileiro, com desdobramentos que atingem membros do TJBA, advogados, empresários e agentes políticos.

Pedido de manifestação da defesa

Até o fechamento desta reportagem, a defesa da desembargadora não havia se manifestado. O espaço segue aberto para posicionamento.

Linha do Tempo – Caso Sandra Inês Moraes Rusciolelli

2020

  • Março: Desembargadora Sandra Inês é afastada cautelarmente do cargo por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no contexto da Operação Faroeste, que investiga venda de sentenças relacionadas a grilagem de terras no oeste da Bahia.

  • Abril: Sandra Inês e seu filho, Vasco Rusciolelli Azevedo, firmam acordo de delação premiada com o MPF, revelando nomes de magistrados, advogados e lobistas envolvidos no esquema.

Dezembro de 2024

  • O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aplica pena de aposentadoria compulsória à magistrada pela prática de “rachadinha”, com exigência de repasse salarial de servidores do seu gabinete no TJBA.

Novembro de 2024

  • O STJ rescinde o acordo de colaboração premiada de Sandra Inês e de seu filho, a pedido do relator ministro Og Fernandes, após manifestação do MPF, que alegou descumprimento de cláusulas e ausência injustificada dos delatores em audiências.

  • A Corte Especial do STJ recebe denúncia contra a desembargadora e a torna ré por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, com base na delação frustrada e provas adicionais da Faroeste.

10 de junho de 2025

  • O Plenário do CNJ, por unanimidade, julga procedente o PAD nº 0005352-94.2022.2.00.0000, instaurado por conta da atuação de um “gabinete paralelo” em seu gabinete oficial no TJBA.

  • A magistrada é novamente punida com aposentadoria compulsória, agora por permitir a ingerência do filho advogado na formulação de decisões judiciais e por integrar organização voltada à negociação de sentenças.

Magistrados punidos no contexto da Operação Faroeste

Nome do Magistrado Cargo no TJBA Penalidade aplicada pelo CNJ ou STJ Data da decisão Situação atual
Sandra Inês Moraes Rusciolelli Desembargadora Aposentadoria compulsória (duas vezes) Dez/2024 e Jun/2025 Ré no STJ, fora das funções desde 2020
Maria do Socorro Barreto Santiago Ex-presidente do TJBA Afastada por ordem do STJ; presa preventivamente Nov/2019 Ré por corrupção
Gesivaldo Britto Ex-presidente do TJBA Afastado pelo STJ; citado em delações Nov/2019 Investigado, não retornou ao cargo
José Olegário Monção Caldas Desembargador Afastado pelo STJ Nov/2019 Investigado, não punido até o momento
Maria da Graça Osório Pimentel Desembargadora Citada em delação; investigada 2020–2022 Aposentadoria voluntária
Sérgio Humberto Sampaio Guimarães Juiz de Direito Prisão preventiva; afastamento cautelar pelo CNJ Nov/2019 Réu e afastado

Observação: A lista inclui os principais nomes citados nos documentos da Operação Faroeste, mas o número total de envolvidos é superior, incluindo advogados, servidores e empresários.

¨Com informações do UOL e Estadão.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aposentou compulsoriamente, pela segunda vez, a desembargadora Sandra Inês Moraes Rusciolelli, do Tribunal de Justiça da Bahia, por manter um “gabinete paralelo” com o filho advogado para interferir em decisões judiciais. O caso se insere nos desdobramentos da Operação Faroeste, que apura esquema de corrupção no Judiciário baiano, e reforça as críticas sobre a impunidade disfarçada em sanções administrativas como aposentadoria com vencimentos.
CNJ afasta a desembargadora Sandra Inês, do TJBA, por manter “gabinete paralelo” com o filho para interferir em decisões judiciais. Caso está ligado à Operação Faroeste, que apura corrupção no Judiciário baiano.

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