BRICS propõe nova ordem global com foco em paz, clima, IA e reforma da ONU na Declaração do Rio de Janeiro

Descubra os resultados da 17ª Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro. A Declaração Final aborda a busca por uma ordem global justa, compromissos climáticos (Acordo de Paris, COP30), governança da IA e posições sobre conflitos internacionais. Saiba como o BRICS fortalece a cooperação do Sul Global e reage a tensões comerciais.
A Declaração do Rio, divulgada em 06/07/2025, consolida o posicionamento do BRICS por uma nova ordem internacional, mais justa e multipolar. Com foco em paz, reforma institucional, justiça fiscal, clima, inteligência artificial, desenvolvimento humano e cooperação financeira, o documento destaca a atuação coordenada do Sul Global como eixo transformador da governança mundial.

A 17ª Reunião de Cúpula do BRICS, encerrada neste domingo (06/07/2025) no Rio de Janeiro, resultou na Declaração Final, que sublinha a relevância do Sul Global como agente de transformações positivas frente a desafios internacionais. O documento aborda tensões geopolíticas, desaceleração econômica e questões migratórias, buscando uma ordem internacional mais justa, sustentável, inclusiva e representativa. O grupo também reafirmou seu compromisso com o Acordo de Paris e expressou total apoio à COP30, a ser realizada no Brasil.

A Declaração do Rio de Janeiro: Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável, composta por 126 pontos em cinco tópicos, delineia a posição do bloco em relação a temas cruciais. Além dos 11 membros permanentes (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia), o encontro contou com a participação de dez países parceiros. Juntos, os membros permanentes do BRICS representam 39% da economia mundial, 48,5% da população global e 23% do comércio internacional.

Posições do BRICS sobre Conflitos Internacionais e Gastos Militares

O BRICS expressou preocupação com os conflitos globais e o aumento dos gastos militares, defendendo uma abordagem multilateral. O documento condenou os ataques militares contra o Irã, membro do bloco, ocorridos a partir de 13 de junho de 2025, e solicitou um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. O grupo pediu a retirada completa das forças israelenses da Faixa de Gaza e do Território Palestino Ocupado, a libertação de reféns e a garantia de acesso contínuo à ajuda humanitária.

Em relação ao conflito entre Ucrânia e Rússia, a declaração manifesta expectativa por um acordo de paz sustentável, reconhecendo propostas de mediação como a Iniciativa Africana de Paz. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua fala na cúpula, reiterou a condenação do Brasil à invasão da Ucrânia. O bloco também condenou ataques contra infraestruturas civis na Rússia em maio e junho de 2025. A preocupação com o aumento dos gastos militares globais foi reiterada, com o bloco defendendo o redirecionamento de recursos para o desenvolvimento dos países em desenvolvimento.

Bloco propõe reforma da ONU e condena sanções unilaterais

A Declaração do Rio defende a reforma do Conselho de Segurança da ONU, com inclusão de países da América Latina, África e Ásia entre os membros permanentes. O texto também condena o uso de sanções econômicas unilaterais, classificadas como medidas que violam o direito internacional e comprometem os direitos humanos. A defesa de uma ordem internacional multipolar é reiterada com foco na necessidade de mecanismos multilaterais adaptados às novas realidades geopolíticas.

BRICS repudia ataques a Gaza, Irã, Ucrânia e territórios africanos

Em termos geopolíticos, o BRICS condena os ataques israelenses à Faixa de Gaza, exige a retirada de Israel dos territórios palestinos ocupados e reafirma apoio à solução de dois Estados. O grupo também se manifesta contra os ataques militares ao Irã, ocorridos em junho, e condena a escalada da guerra na Ucrânia, reafirmando a necessidade de soluções diplomáticas com base no direito internacional.

O documento também faz referência às crises no Líbano, Síria, Haiti e Sudão, destacando o apoio a soluções lideradas por atores locais, com mediação internacional pacífica. Destaca-se o apoio à União Africana como pilar para a paz no continente.

Cooperação internacional em tributação, comércio, infraestrutura e moedas locais

O bloco propõe avançar em uma governança tributária global justa e progressiva, combater a evasão fiscal e regulamentar fluxos financeiros ilícitos. Também endossa reformas na Organização Mundial do Comércio (OMC) e incentiva o desenvolvimento de plataformas de pagamentos digitais, sistemas de comércio multimoeda e meios de pagamento transfronteiriços com o uso de moedas locais, como parte da estratégia de autonomia financeira.

No setor de infraestrutura, os países reforçaram o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que já aprovou US$ 40 bilhões em projetos e incentiva operações com moedas locais.

Cooperação Econômica e Fiscal

No âmbito da cooperação financeira, o BRICS buscará promover um sistema tributário internacional mais equitativo e transparente. O objetivo é aprofundar a coordenação entre autoridades tributárias, aumentar a arrecadação doméstica, assegurar uma justa alocação dos direitos de tributação e combater a evasão fiscal e fluxos financeiros ilícitos.

O documento também ressalta a importância de promover o engajamento do setor privado e simplificar operações empresariais, com foco no apoio a micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) por meio de serviços e plataformas digitais.

Clima, biodiversidade e transição energética em destaque: apoio à COP30

A Declaração do Rio reafirma o compromisso com o Acordo de Paris e com a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Os países apoiam a presidência brasileira da COP30, a ser realizada em Belém (PA), e defendem o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, proposta brasileira para financiar a conservação de biomas tropicais.

O bloco também destaca o papel dos BRICS na transição energética, citando os investimentos crescentes em energias renováveis, biocombustíveis e tecnologias limpas.

Regulação global da inteligência artificial

Sobre inteligência artificial (IA), a declaração defende uma governança multilateral e inclusiva, com base na legislação soberana dos Estados e sob coordenação das Nações Unidas. O BRICS apoia a criação de um Painel Científico Internacional sobre IA, nos moldes do IPCC, e de um Diálogo Global sobre Inteligência Artificial, com foco em segurança, acesso igualitário e fortalecimento das capacidades dos países em desenvolvimento.

Desenvolvimento humano e enfrentamento das desigualdades

A Declaração dedica uma seção ao desenvolvimento humano, social e cultural, com ênfase no combate à fome, à pobreza, às doenças socialmente determinadas e na promoção da igualdade de gênero, da educação digital inclusiva e do empreendedorismo feminino. Três documentos adicionais foram aprovados: uma parceria para eliminação de doenças sociais, uma declaração sobre IA e outra sobre finanças climáticas.

Reação dos Estados Unidos e contexto internacional

Durante a cúpula, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou o alinhamento dos países ao BRICS e ameaçou tarifas de 10% sobre os produtos importados de nações que endossem a plataforma do bloco. A declaração de Trump foi amplamente criticada por especialistas e vista como tentativa de manter a hegemonia econômica dos EUA.

Lula defende reforma do FMI e regulação da IA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião da Cúpula, defendeu a revisão das cotas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e criticou o uso da inteligência artificial como ferramenta geopolítica. Segundo Lula, é preciso estabelecer uma infraestrutura digital soberana, combater o protecionismo disfarçado de regulação ambiental e garantir que a IA beneficie também os países em desenvolvimento, sob regras claras e equitativas.

Reconfiguração institucional e diplomática

A Declaração do Rio representa um marco na articulação do Sul Global por uma nova arquitetura internacional. A firmeza dos BRICS em temas como paz, clima, justiça fiscal e regulação da IA indica uma tentativa de reconfiguração institucional e diplomática frente ao declínio da hegemonia ocidental. Contudo, a implementação efetiva das propostas ainda depende de ação coordenada e persistente entre os Estados membros, especialmente diante da resistência de potências tradicionais e dos conflitos geopolíticos em curso.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.