Em entrevista concedida na manhã de quinta-feira (17/07/2025), à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou a postura do Brasil de buscar soluções diplomáticas e comerciais pautadas pela negociação, pelo respeito à soberania nacional e pelos princípios do multilateralismo. A declaração ocorre em meio à imposição de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, determinada unilateralmente pelo presidente Donald Trump.
Ao longo de aproximadamente trinta minutos de entrevista, Lula abordou diversos temas de interesse internacional, como as relações comerciais Brasil-EUA, a atuação dos BRICS, as guerras em Gaza e na Ucrânia, a governança das Nações Unidas, o desmatamento na Amazônia e os preparativos para a COP30.
Tarifa de 50% dos EUA: “Surpresa e ausência de resposta diplomática”
Lula declarou que a imposição da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros surpreendeu o governo brasileiro tanto pela forma quanto pelo conteúdo. Segundo o presidente, o Brasil havia enviado uma proposta formal aos EUA em 16 de maio, após dez rodadas de negociação, mas a resposta veio apenas em forma de anúncio público, sem retorno oficial.
“Falta multilateralismo na cabeça do presidente Trump”, afirmou Lula, criticando o tom unilateral da decisão norte-americana.
Críticas a distorções e defesa do comércio justo
O presidente contestou três alegações principais da nota divulgada por Trump:
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Independência do Judiciário brasileiro, negando que o Executivo influencie decisões judiciais;
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Déficit comercial, afirmando que os EUA tiveram superávit de US$ 410 bilhões com o Brasil nos últimos 15 anos;
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Tributação de big techs, defendendo que essa é uma atribuição soberana do governo brasileiro.
“Se houver desacordo, abre-se negociação. É assim que funciona o comércio mundial”, destacou.
Caminhos diplomáticos e medidas legais
Lula reiterou que o Brasil continuará apostando na via diplomática, mas também está preparado para adotar medidas jurídicas e comerciais. Dentre as opções citadas, estão:
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Recurso à Organização Mundial do Comércio (OMC);
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Atuação multilateral com outros países afetados;
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Aplicação da Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional.
Soberania e realismo nas relações internacionais
O presidente foi enfático ao afirmar que o Brasil não aceita ser refém dos Estados Unidos, embora valorize a parceria econômica e política entre os dois países.
“Eu não sou um presidente progressista, eu sou o presidente do Brasil. E Trump é o presidente dos Estados Unidos. Devemos sentar e conversar”, ponderou Lula.
BRICS e diversificação de mercados
Lula ressaltou a importância de fortalecer o comércio com os países do BRICS, que atualmente representam 40% do comércio internacional e 25% do PIB global. O presidente também destacou a criação de 379 novos mercados para produtos brasileiros nos últimos dois anos e meio, e a busca por acordos com:
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União Europeia;
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Países do ASEAN;
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México e América Latina.
Meio ambiente e COP30 na Amazônia
Lula reafirmou que o Brasil lidera os esforços pelo clima, apontando a redução de 50% no desmatamento da Amazônia e a meta de desmatamento zero até 2030. Convidou Donald Trump para comparecer à COP30, que será realizada no coração da Amazônia.
“Quero ver quem está dizendo a verdade sobre clima”, provocou, referindo-se ao descumprimento da promessa dos países ricos de destinar US$ 100 bilhões anuais aos países em desenvolvimento, feita em 2009.
Defesa da paz e crítica à ausência de governança global
O presidente reafirmou que o Brasil atua pela paz na Ucrânia, em Gaza e na África, e não apoia guerras. Criticou o papel do Conselho de Segurança da ONU, cujos membros permanentes são, segundo ele, os principais fomentadores de conflitos armados.
“Falta governança global. Precisamos de representação da América Latina, da África e do Oriente Médio. A ONU está defasada”, defendeu.
Conflitos em Gaza e na Ucrânia
Lula criticou diretamente Benjamin Netanyahu, por ignorar resoluções da ONU e do próprio governo dos EUA, e afirmou que somente com um interlocutor confiável será possível encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia.
“Trump poderia exercer um papel decisivo pela paz, em vez de vender armas”, declarou.
Confira vídeo
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