Presidente Lula defende o BRICS como alternativa ao sistema multilateral tradicional e propõe reforma estrutural da governança global

BRICS é apresentado pelo presidente Lula como nova via para o multilateralismo e reequilíbrio de poder global.

Durante a 17ª Cúpula do BRICS, realizada nesta segunda-feira (07/07/2025), no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o bloco como alternativa real à atual estrutura geopolítica internacional. Em discurso enfático, Lula afirmou que o BRICS representa “um novo jeito de fazer o multilateralismo sobreviver no mundo” e criticou a arquitetura vigente, marcada, segundo ele, pela tutela das potências tradicionais e pelo esvaziamento da soberania dos países em desenvolvimento.

Ao destacar a ampliação do bloco para 11 países membros e mais de 10 parceiros, Lula classificou o BRICS como um instrumento de reorganização global baseado em igualdade, paz, desenvolvimento sustentável e participação social.

Lula propõe reforma da ONU e critica inoperância do multilateralismo tradicional

Lula foi incisivo ao declarar que “o mundo não está mais em 1945” e que a Organização das Nações Unidas (ONU), especialmente o Conselho de Segurança, não reflete a nova correlação de forças globais. Para o presidente brasileiro, a presença exclusiva de potências nucleares no Conselho compromete a neutralidade da ONU diante de conflitos, como o da Ucrânia, e bloqueia soluções diplomáticas.

A ONU deveria coordenar os esforços de paz, mas três membros permanentes do Conselho de Segurança estão diretamente envolvidos em guerras. Isso inviabiliza qualquer ação multilateral eficaz”, criticou Lula.

Críticas ao FMI e defesa de um novo sistema financeiro internacional

Em sua fala, o presidente também criticou o modelo de atuação do Fundo Monetário Internacional (FMI), acusando a instituição de impor políticas de austeridade que aprofundam desigualdades e inviabilizam o desenvolvimento dos países mais pobres.

Queremos um FMI que invista no progresso, e não que empurre países à falência”, afirmou Lula. “O Banco do BRICS pode servir de modelo para um sistema de financiamento mais justo e voltado à infraestrutura, saúde e energia.”

Lula reitera necessidade de transações em moedas locais

O presidente defendeu a criação de mecanismos que reduzam a dependência do dólar em transações comerciais entre países do bloco. Como exemplo, citou acordos com a Argentina e a China que já permitem operações em moedas locais. Lula argumentou que não há fundamento jurídico que obrigue o uso do dólar como moeda padrão internacional.

Inteligência artificial e soberania digital

Lula alertou para o risco de concentração tecnológica em poucas empresas e países, defendendo que o acesso à inteligência artificial deve ser democratizado. Segundo ele, o BRICS deve liderar a discussão global sobre soberania digital e compartilhamento de tecnologias emergentes, especialmente no Sul Global.

Justiça climática, saúde e COP30

Na plenária sobre “Meio Ambiente, COP30 e Saúde Global”, Lula destacou que a justiça climática deve estar vinculada ao combate à fome, às desigualdades e à pobreza. Afirmou que não há saúde pública sem investimento em saneamento, moradia, alimentação e educação, e defendeu a retomada do protagonismo da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O presidente anunciou o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que será apresentado oficialmente na COP30, em novembro, em Belém (PA). O fundo visa remunerar serviços ecossistêmicos e proteger territórios indígenas e populações tradicionais.

Declaração Final e apoio à reforma da governança global

A Declaração dos Líderes do BRICS, divulgada ao final do encontro, reafirma a defesa de uma governança global mais inclusiva, com maior participação de países do Sul Global. A China e a Rússia manifestaram apoio à ampliação do Conselho de Segurança da ONU, com a inclusão do Brasil e da Índia como membros permanentes.

Dados e representatividade do BRICS

  • Países membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

  • População total: 48% da população mundial.

  • PIB global: 40%.

  • Comércio internacional: 21,6% do total global.

  • Corrente de comércio do Brasil com o BRICS em 2024: US$ 210 bilhões.

  • Exportações brasileiras ao BRICS em 2024: US$ 121 bilhões.

  • Importações brasileiras do BRICS: US$ 88 bilhões.

  • Investimentos do bloco no Brasil (2024): cerca de US$ 51 bilhões.

  • Superávit da balança comercial (jan-jun/2025): US$ 10,4 bilhões.


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