Tarifa de 50% dos EUA: Alckmin lidera reação, indústria pede diálogo e presidente Lula aciona lei de retaliação comercial

Vice-presidente Geraldo Alckmin lidera reuniões com representantes da indústria e do agronegócio para coordenar resposta às tarifas de 50% anunciadas por Donald Trump. Governo brasileiro aciona Lei de Reciprocidade Econômica e articula solução diplomática.
Governo Lula reúne setores estratégicos e cria comitê interministerial para responder à tarifa de 50% imposta pelos EUA; Alckmin lidera negociações e indústria defende solução diplomática.

Na terça-feira (15/07/2025), o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, coordenou reuniões com lideranças dos setores industrial e agropecuário, em reação ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre todas as importações brasileiras a partir de 1º de agosto.

Durante os encontros, representantes do setor produtivo relataram efeitos imediatos sobre contratos em vigor e cadeias logísticas internacionais. Em resposta, o governo brasileiro adotou uma estratégia diplomática, evitando retaliações precipitadas e acionando a Lei da Reciprocidade Econômica, regulamentada no mesmo dia.

O comitê interministerial, responsável por avaliar os impactos da medida e propor ações coordenadas, é presidido por Alckmin e integrado por representantes dos ministérios da Casa Civil, Fazenda e Relações Exteriores. A Secretaria-Executiva do MDIC será responsável pela articulação das deliberações. A primeira reunião contou com a participação de empresas e entidades estratégicas, entre elas Embraer, Weg, Tupy, Instituto Aço Brasil, Fiesp, Abimaq, Abicalçados, ABAL, ABIT, IBÁ, ABIMCI, Sindipeças, Sindifer, Centrorochas, Abrafe e RIMA.

Objetivos imediatos: ouvir, avaliar e reagir com moderação

O foco inicial do comitê é ouvir os setores impactados, avaliar os danos econômicos e elaborar propostas de contramedidas legais e proporcionais, com respaldo na Lei nº 15.122/2025, que regulamenta a chamada Lei da Reciprocidade Econômica. Essa legislação autoriza a suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de direitos de propriedade intelectual, em resposta a sanções injustificadas que afetem a competitividade internacional do país.

Alckmin reforça posição negociadora e aponta prejuízo bilateral

Alckmin destacou que, em um momento de recorde histórico de fluxo comercial bilateral, a decisão dos EUA é “incompreensível”. De janeiro a junho de 2025, as exportações dos EUA para o Brasil cresceram 11,48%, enquanto as do Brasil para os EUA subiram 4,37%. “É um momento em que os EUA vendem ao Brasil quase três vezes mais do que nós exportamos. Estaremos unidos para reverter essa decisão com diálogo e firmeza”, disse.

Motivação política da tarifa agrava tensão institucional

A medida do governo norte-americano tem sido interpretada como uma resposta indireta ao Supremo Tribunal Federal (STF), que conduz o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Em artigo publicado no New York Times, o Advogado-Geral da União, Jorge Messias, rejeitou qualquer tentativa de ingerência externa no Judiciário brasileiro e reforçou que os processos em curso são conduzidos dentro da legalidade constitucional.

Messias também argumentou que o uso de barreiras tarifárias como retaliação política viola os princípios do comércio internacional, gerando insegurança jurídica e comprometendo a estabilidade nas relações bilaterais.

Setores produtivos solicitam prorrogação da vigência e exclusão de perecíveis

Associações do setor agroindustrial, como Abiec, Abrafrutas e CitrusBR, apresentaram ao governo federal uma série de reivindicações. Entre os pontos mais destacados, estão:

  • Prorrogação da vigência da tarifa para garantir o escoamento de cargas já contratadas;

  • Exclusão de produtos perecíveis da nova alíquota, como frutas, carnes e pescados;

  • Manutenção de canais de diálogo com o setor privado norte-americano.

A Abipesca relatou o cancelamento de embarques de 58 contêineres com 1.160 toneladas de pescados, e a Abrafrutas alertou para o risco de colapso no mercado interno com o retorno de 2.500 contêineres de manga destinados aos EUA.

Comitê interministerial estrutura resposta oficial à medida unilateral

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva instituiu o Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, previsto na Lei nº 15.122/25, que regula mecanismos de reciprocidade econômica. O comitê tem por objetivo avaliar o impacto da tarifa de 50% e propor medidas de resposta, como:

  • Suspensão de concessões comerciais e investimentos;

  • Restrição de direitos de propriedade intelectual;

  • Adoção de contramedidas proporcionais.

A primeira reunião do comitê ocorreu na terça-feira (15), com representantes da indústria, seguida por um encontro com líderes do agronegócio.

Entidades da indústria pedem previsibilidade e rejeitam retaliações precipitadas

As principais entidades da indústria brasileira, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), manifestaram apoio às negociações conduzidas pelo governo federal. O presidente da Fiesp, Josué Gomes, afirmou que o setor empresarial tem “confiança absoluta” nas tratativas lideradas pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo MDIC.

A CNI, por sua vez, destacou que a medida afeta a previsibilidade contratual e os investimentos de longo prazo, lançando incertezas sobre cadeias produtivas e a permanência de fábricas nos dois países.

Câmaras de comércio dos EUA e do Brasil solicitam suspensão imediata das tarifas

A U.S. Chamber of Commerce e a Amcham Brasil divulgaram nota conjunta pedindo a suspensão da tarifa de 50%, destacando os seguintes pontos:

  • Mais de 6.500 pequenas empresas norte-americanas dependem de importações brasileiras;

  • 3.900 empresas dos EUA investem no Brasil, mantendo empregos e operações bilaterais;

  • O Brasil figura entre os dez principais destinos de exportações dos Estados Unidos, com cerca de US$ 60 bilhões em bens e serviços transacionados anualmente.

As entidades alertam que a medida pode afetar produtos essenciais para o consumo doméstico americano, elevar custos para as famílias e reduzir a competitividade da indústria dos EUA.

Exportadores alertam para risco de colapso logístico e desemprego

Representantes de cadeias produtivas expressaram preocupação com o escoamento de cargas e o risco de colapso de mercados internos. O presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, destacou que 33% do café consumido nos EUA é brasileiro, e que o setor já realiza reuniões com o governo para mitigar impactos.

O presidente da CitrusBR, Ibiapaba Netto, informou que 70% do suco de laranja importado pelos Estados Unidos é proveniente do Brasil, e que a nova alíquota pode inviabilizar economicamente os embarques. Segundo ele, há confiança de que o governo federal alcançará uma solução diplomática.

Geopolítica comercial e riscos à ordem multilateral

A imposição de tarifas com motivação política coloca em xeque os fundamentos do sistema multilateral de comércio, ameaçando a previsibilidade regulatória. Para analistas, o episódio fragiliza a liderança brasileira nas negociações regionais e pode desencadear respostas em blocos como o Mercosul e o BRICS, comprometendo a diplomacia econômica interamericana.

O caso é considerado um precedente perigoso, pois sinaliza a instrumentalização da política comercial como ferramenta de pressão sobre instituições soberanas, o que amplia o risco de desestabilização das regras globais de comércio.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.