Na terça-feira (15/07/2025), o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, coordenou reuniões com lideranças dos setores industrial e agropecuário, em reação ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre todas as importações brasileiras a partir de 1º de agosto.
Durante os encontros, representantes do setor produtivo relataram efeitos imediatos sobre contratos em vigor e cadeias logísticas internacionais. Em resposta, o governo brasileiro adotou uma estratégia diplomática, evitando retaliações precipitadas e acionando a Lei da Reciprocidade Econômica, regulamentada no mesmo dia.
O comitê interministerial, responsável por avaliar os impactos da medida e propor ações coordenadas, é presidido por Alckmin e integrado por representantes dos ministérios da Casa Civil, Fazenda e Relações Exteriores. A Secretaria-Executiva do MDIC será responsável pela articulação das deliberações. A primeira reunião contou com a participação de empresas e entidades estratégicas, entre elas Embraer, Weg, Tupy, Instituto Aço Brasil, Fiesp, Abimaq, Abicalçados, ABAL, ABIT, IBÁ, ABIMCI, Sindipeças, Sindifer, Centrorochas, Abrafe e RIMA.
Objetivos imediatos: ouvir, avaliar e reagir com moderação
O foco inicial do comitê é ouvir os setores impactados, avaliar os danos econômicos e elaborar propostas de contramedidas legais e proporcionais, com respaldo na Lei nº 15.122/2025, que regulamenta a chamada Lei da Reciprocidade Econômica. Essa legislação autoriza a suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de direitos de propriedade intelectual, em resposta a sanções injustificadas que afetem a competitividade internacional do país.
Alckmin reforça posição negociadora e aponta prejuízo bilateral
Alckmin destacou que, em um momento de recorde histórico de fluxo comercial bilateral, a decisão dos EUA é “incompreensível”. De janeiro a junho de 2025, as exportações dos EUA para o Brasil cresceram 11,48%, enquanto as do Brasil para os EUA subiram 4,37%. “É um momento em que os EUA vendem ao Brasil quase três vezes mais do que nós exportamos. Estaremos unidos para reverter essa decisão com diálogo e firmeza”, disse.
Motivação política da tarifa agrava tensão institucional
A medida do governo norte-americano tem sido interpretada como uma resposta indireta ao Supremo Tribunal Federal (STF), que conduz o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Em artigo publicado no New York Times, o Advogado-Geral da União, Jorge Messias, rejeitou qualquer tentativa de ingerência externa no Judiciário brasileiro e reforçou que os processos em curso são conduzidos dentro da legalidade constitucional.
Messias também argumentou que o uso de barreiras tarifárias como retaliação política viola os princípios do comércio internacional, gerando insegurança jurídica e comprometendo a estabilidade nas relações bilaterais.
Setores produtivos solicitam prorrogação da vigência e exclusão de perecíveis
Associações do setor agroindustrial, como Abiec, Abrafrutas e CitrusBR, apresentaram ao governo federal uma série de reivindicações. Entre os pontos mais destacados, estão:
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Prorrogação da vigência da tarifa para garantir o escoamento de cargas já contratadas;
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Exclusão de produtos perecíveis da nova alíquota, como frutas, carnes e pescados;
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Manutenção de canais de diálogo com o setor privado norte-americano.
A Abipesca relatou o cancelamento de embarques de 58 contêineres com 1.160 toneladas de pescados, e a Abrafrutas alertou para o risco de colapso no mercado interno com o retorno de 2.500 contêineres de manga destinados aos EUA.
Comitê interministerial estrutura resposta oficial à medida unilateral
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva instituiu o Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, previsto na Lei nº 15.122/25, que regula mecanismos de reciprocidade econômica. O comitê tem por objetivo avaliar o impacto da tarifa de 50% e propor medidas de resposta, como:
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Suspensão de concessões comerciais e investimentos;
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Restrição de direitos de propriedade intelectual;
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Adoção de contramedidas proporcionais.
A primeira reunião do comitê ocorreu na terça-feira (15), com representantes da indústria, seguida por um encontro com líderes do agronegócio.
Entidades da indústria pedem previsibilidade e rejeitam retaliações precipitadas
As principais entidades da indústria brasileira, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), manifestaram apoio às negociações conduzidas pelo governo federal. O presidente da Fiesp, Josué Gomes, afirmou que o setor empresarial tem “confiança absoluta” nas tratativas lideradas pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo MDIC.
A CNI, por sua vez, destacou que a medida afeta a previsibilidade contratual e os investimentos de longo prazo, lançando incertezas sobre cadeias produtivas e a permanência de fábricas nos dois países.
Câmaras de comércio dos EUA e do Brasil solicitam suspensão imediata das tarifas
A U.S. Chamber of Commerce e a Amcham Brasil divulgaram nota conjunta pedindo a suspensão da tarifa de 50%, destacando os seguintes pontos:
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Mais de 6.500 pequenas empresas norte-americanas dependem de importações brasileiras;
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3.900 empresas dos EUA investem no Brasil, mantendo empregos e operações bilaterais;
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O Brasil figura entre os dez principais destinos de exportações dos Estados Unidos, com cerca de US$ 60 bilhões em bens e serviços transacionados anualmente.
As entidades alertam que a medida pode afetar produtos essenciais para o consumo doméstico americano, elevar custos para as famílias e reduzir a competitividade da indústria dos EUA.
Exportadores alertam para risco de colapso logístico e desemprego
Representantes de cadeias produtivas expressaram preocupação com o escoamento de cargas e o risco de colapso de mercados internos. O presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, destacou que 33% do café consumido nos EUA é brasileiro, e que o setor já realiza reuniões com o governo para mitigar impactos.
O presidente da CitrusBR, Ibiapaba Netto, informou que 70% do suco de laranja importado pelos Estados Unidos é proveniente do Brasil, e que a nova alíquota pode inviabilizar economicamente os embarques. Segundo ele, há confiança de que o governo federal alcançará uma solução diplomática.
Geopolítica comercial e riscos à ordem multilateral
A imposição de tarifas com motivação política coloca em xeque os fundamentos do sistema multilateral de comércio, ameaçando a previsibilidade regulatória. Para analistas, o episódio fragiliza a liderança brasileira nas negociações regionais e pode desencadear respostas em blocos como o Mercosul e o BRICS, comprometendo a diplomacia econômica interamericana.
O caso é considerado um precedente perigoso, pois sinaliza a instrumentalização da política comercial como ferramenta de pressão sobre instituições soberanas, o que amplia o risco de desestabilização das regras globais de comércio.
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