Tarifaço global do Governo Trump acelera rearranjos comerciais e impulsiona nova ordem no comércio internacional

As tarifas unilaterais adotadas pelo governo dos Estados Unidos em 2025 provocaram uma reestruturação nas relações comerciais internacionais. União Europeia, Reino Unido, Canadá e países do Sudeste Asiático respondem com acordos bilaterais e regionais. O Brasil, atingido diretamente, busca reposicionar-se. Especialistas alertam que a crise do multilateralismo reflete impasses estruturais do capitalismo global e o retorno de práticas imperialistas.
Medidas do governo Trump geram realinhamentos geopolíticos, desestabilizam a OMC e fortalecem acordos bilaterais com impacto direto no Brasil e no Mercosul.

A imposição de tarifas unilaterais pelos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump tem provocado uma reconfiguração profunda na ordem comercial internacional. A escalada protecionista, iniciada em março de 2025, acelerou a fragmentação do multilateralismo, obrigando países e blocos econômicos a diversificarem suas parcerias estratégicas, enquanto a Organização Mundial do Comércio (OMC) permanece paralisada.

Ações tarifárias dos EUA em 2025 e seus desdobramentos imediatos

Entre março e julho de 2025, o governo dos EUA adotou uma série de medidas que restringiram o acesso de parceiros internacionais ao mercado norte-americano:

  • 01/03/2025: tarifa geral de 10% sobre todas as importações, com acréscimo de 25% sobre aço e alumínio;

  • 18/04/2025: 50% de tarifas sobre produtos agrícolas e industriais do Brasil;

  • 15/06/2025: imposição de 20% sobre veículos europeus;

  • 18/07/2025: sanções diplomáticas contra autoridades brasileiras, incluindo o ministro do STF Alexandre de Moraes;

  • 01/08/2025 (programado): tarifa de 30% sobre todas as exportações da União Europeia, caso não haja concessões.

Essas ações foram justificadas pelo Governo Trump como medidas de proteção à indústria nacional. No entanto, provocaram retaliações comerciais, instabilidade cambial em mercados emergentes e uma onda de realinhamentos diplomáticos bilaterais, sobretudo entre a União Europeia, o Canadá, o Reino Unido e países da Ásia e América Latina.

Blocos econômicos reagem com novos acordos e alianças estratégicas

União Europeia reestrutura sua política comercial

A Comissão Europeia, liderada por Ursula von der Leyen, firmou novos acordos de cooperação comercial com 11 países asiáticos, como Japão, Vietnã e Indonésia, mas sem a China, indicando o início de um modelo seletivo de globalização regulada. Von der Leyen chegou a declarar que a iniciativa representa o “início da reformulação da OMC”, organismo bloqueado pelos EUA desde 2019.

Além disso, em maio de 2025, Reino Unido e UE assinaram novo tratado pós-Brexit, permitindo que barreiras tarifárias fossem suspensas em troca de acesso a zonas pesqueiras britânicas — evidência da pressão econômica exercida pela guerra tarifária sobre antigos aliados.

Canadá busca diversificação com ASEAN e Mercosul

A ministra das Relações Exteriores do Canadá, Anita Anand, afirmou à Bloomberg que as tarifas impostas pelos EUA são “injustificadas” e que o país está “diversificando e estabelecendo relações comerciais” com a ASEAN. O ministro do Comércio Exterior canadense, Maninder Sidhu, também confirmou conversas com o Brasil para aproximação com o Mercosul.

Estatísticas revelam que as exportações canadenses para os EUA caíram de 78% para 68% em um ano, impulsionando a busca por novos parceiros econômicos.

Impactos econômicos e geopolíticos das tarifas unilaterais

FMI alerta para risco sistêmico global

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), as tensões comerciais provocadas pelas tarifas norte-americanas representam uma ameaça concreta ao crescimento global. O organismo reduziu suas previsões de expansão para 2025 e alertou para o risco de uma “corrida tarifária” entre grandes potências.

Estados Unidos aumentam arrecadação, mas pressionam a indústria

Embora o governo Trump estime arrecadação de US$ 171 bilhões em tarifas apenas em 2025, entidades como a Tax Foundation e o Federal Reserve alertam para efeitos adversos: aumento de custos industriais, queda na renda real das famílias e prejuízos à exportação de bens manufaturados.

Análise crítica: o protecionismo como resposta à crise do capitalismo global

À luz da teoria marxista, o atual ciclo protecionista pode ser interpretado como uma tentativa de reorganização coercitiva da hegemonia norte-americana. Segundo David Harvey, trata-se de “acumulação por espoliação” — prática em que o Estado impõe regras assimétricas para proteger seu capital em meio à crise de rentabilidade global.

Vladimir Lênin já havia descrito o imperialismo como uma fase do capitalismo em que o capital financeiro exige intervenção direta do Estado para se expandir. Na mesma linha, Samir Amin pontua que países periféricos, como o Brasil, são coagidos a aceitar relações comerciais desiguais, enquanto o centro hegemônico impõe tarifas, sanções e condicionantes políticas.

A guerra tarifária, portanto, não representa apenas uma estratégia eleitoral ou industrial, mas um mecanismo sistêmico de reorganização do poder econômico global, aprofundando desigualdades e enfraquecendo o multilateralismo.

Brasil e Mercosul: riscos e oportunidades

Para o Brasil, as medidas impostas pelos EUA impõem pressões severas sobre o agronegócio e o setor industrial, ao mesmo tempo em que abrem oportunidade para acordos com Canadá, UE e Ásia. No entanto, a capacidade de articulação diplomática e a estabilidade institucional serão determinantes para o aproveitamento desses espaços.


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