Educação em Andaraí apresenta avanços no Ideb, mas desigualdades e infraestrutura precária ainda limitam qualidade; Município é gerido por Wilson Cardoso

Os dados de 2023 indicam que Andaraí (BA) melhorou o desempenho no Ideb e reduziu as taxas de reprovação e abandono escolar, com destaque para o avanço em português e matemática. Entretanto, a análise mostra que persistem desigualdades sociais, carência de infraestrutura e baixa adesão ao Enem, fatores que impedem a consolidação de uma educação de qualidade. O contexto político, sob a liderança de Wilson Paes Cardoso (PSB), reforça o debate sobre continuidade administrativa e responsabilidade institucional.
Educação em Andaraí (BA) avança no Ideb e no aprendizado, mas enfrenta desigualdades sociais, carências de infraestrutura escolar e baixa participação no Enem. A gestão de Wilson Paes Cardoso (PSB), líder há duas décadas e presidente da UPB, está no centro desse cenário.

Segundo dados do QEdu, o município de Andaraí, na Chapada Diamantina, apresentou em 2023 um Ideb de 6,3 nos anos iniciais do Fundamental, 4,5 nos anos finais e 4,1 no Ensino Médio. Os índices de aprendizado adequado chegaram a 65% em português e 55% em matemática, após quedas registradas em 2021. Apesar da melhora, os dados expõem desigualdades socioeconômicas, limitações de infraestrutura e baixa participação no Enem, fatores que comprometem a consolidação da qualidade educacional. O cenário se desenvolve sob a liderança de Wilson Paes Cardoso (PSB), que há quase duas décadas comanda a política local e atualmente preside a União dos Municípios da Bahia (UPB).

O desempenho em português e matemática mostra que Andaraí conseguiu recuperar parte das perdas educacionais observadas em 2021. No entanto, a tendência é de queda progressiva à medida que os alunos avançam na trajetória escolar: enquanto os anos iniciais do fundamental superam a média estadual, os anos finais e o ensino médio apresentam estagnação.

As taxas de reprovação reduziram de 4% em 2021 para 1% em 2023, e o abandono escolar foi zerado nos últimos três anos. Ainda assim, em 2020, cerca de 107 jovens estavam fora da escola, o que representa aproximadamente 14% da população estudantil de nascidos entre 2003 e 2005.

Desigualdades sociais no desempenho

Os indicadores mostram disparidades marcantes entre alunos de nível socioeconômico baixo e alto: em português, 51% contra 61%, e em matemática, 38% contra 58%. Essas diferenças evidenciam o peso das condições de renda no desempenho educacional.

Outro ponto é a relação com a cor/raça. Em português, pretos (44%) superaram os brancos (41%), mas em matemática a situação se inverte: brancos (33%) ficaram abaixo dos pretos (37%), refletindo inconsistências que sugerem impactos de fatores externos à escola, como desigualdade de oportunidades.

Estrutura escolar: alimentação garantida, saneamento precário

O município dispõe de 14 escolas públicas, 2.178 alunos matriculados e 137 professores. Em termos de serviços básicos, os números são positivos: 100% das unidades oferecem alimentação escolar, 93% contam com energia elétrica e coleta de lixo, e 86% têm acesso à internet banda larga.

Porém, a precariedade do saneamento compromete a qualidade: apenas 14% das escolas estão ligadas à rede de esgoto, e só 29% possuem laboratório de ciências. A existência de quadras de esportes (71%) e bibliotecas (71%) não compensa a ausência de infraestrutura completa para garantir aprendizagem de excelência.

Ensino médio e participação no Enem

A adesão ao Enem ainda é baixa em Andaraí. Em 2019, o Colégio Estadual Edgar Silva registrou média de 452 pontos, com apenas 24% de taxa de participação. O Colégio Estadual Prof. Carmenilza de Araújo Lima de Matos, no distrito de Ubiraitá, alcançou média de 479 pontos, com 22% de participação. A baixa adesão limita o uso do exame como ferramenta de avaliação e acesso ao ensino superior.

Desafios estruturais persistentes

A análise dos dados revela que Andaraí combina avanços quantitativos com desafios estruturais e sociais ainda não superados. A melhora no IDEB e a redução das taxas de reprovação indicam esforço de gestão, mas o fosso socioeconômico, as carências de saneamento nas escolas e a baixa participação no Enem expõem que as políticas públicas não conseguem alcançar todos os estudantes de forma equitativa. Esse quadro ocorre em um município sob a forte influência política de Wilson Paes Cardoso (PSB), que governa há quase duas décadas e, como presidente da UPB, amplia sua responsabilidade sobre os rumos da educação local.

A rede municipal de ensino é enxuta e pressionada. Com 8 escolas de ensino fundamental e 2 de ensino médio, atende a 1.611 alunos no fundamental e 567 no médio, distribuídos entre 135 docentes. Essa estrutura limitada restringe o acesso a metodologias diversificadas, gera sobrecarga de professores e compromete a qualidade pedagógica. Além disso, fatores externos, como a desigualdade social e as carências de infraestrutura básica, ampliam as dificuldades de aprendizagem e a evasão escolar.

O contraste entre a universalização da escolarização e as limitações na qualidade do ensino médio reforça a vulnerabilidade do sistema. Se não houver investimentos consistentes, os ganhos recentes podem se mostrar apenas conjunturais, sem consolidar um ciclo sustentável de melhoria. O risco é que o avanço estatístico não se converta em capital humano qualificado, perpetuando um ciclo de desigualdades sociais e educacionais.

Para reverter esse cenário, será necessário adotar uma estratégia integrada, que una investimentos em infraestrutura escolar, fortalecimento da formação docente, programas de permanência estudantil e políticas de redução das desigualdades de origem social. Somente com medidas estruturais será possível transformar os índices de acesso em resultados efetivos de aprendizagem e inclusão, garantindo que a educação em Andaraí cumpra plenamente sua função de instrumento de desenvolvimento humano e social.

Fontes dos dados e iniciativa do Jornal Grande Bahia

A reportagem utilizou informações disponibilizadas pelo QEdu, plataforma de acesso público a indicadores educacionais. O portal foi criado em 2012 pela Meritt em parceria com a Fundação Lemann e, desde 2020, está sob a gestão do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), responsável por sistematizar e ampliar o uso das evidências produzidas pelo Saeb, Inep e Censo Escolar.

A matéria integra a iniciativa do Jornal Grande Bahia, em diálogo com a proposta do Ministério Público da Bahia (MPBA), que busca ampliar a compreensão dos desafios da educação básica no estado e estimular políticas públicas voltadas à redução do analfabetismo e à melhoria da qualidade do ensino na rede pública.

Entenda: MPBA assume protagonismo na luta contra o analfabetismo na Bahia

Em 7 de agosto de 2025 (quinta-feira), o Ministério Público da Bahia (MPBA) firmou compromisso de atuar em parceria com o Estado e os municípios para acompanhar a execução do programa “Bahia Alfabetizada”, lançado pelo governo estadual. Com base em metodologia própria, o MPBA acompanhará de forma sistemática a aplicação das ações, emitindo recomendações técnicas e integrando um comitê interinstitucional de monitoramento.

O procurador-geral de Justiça Pedro Maia destacou que a alfabetização é pauta estrutural para o futuro do estado e anunciou a criação de um selo de alfabetização a ser entregue a prefeitos que cumprirem as metas do programa. Segundo o promotor Adriano Marques, a iniciativa busca reduzir os baixos índices de alfabetização — apenas 36% das crianças do 2º ano do fundamental na Bahia conseguem ler e escrever textos simples — e fortalecer a educação como prioridade constitucional do MP.


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