PF aponta crimes de Jair e Eduardo Bolsonaro em trama golpista; Relatório cita Malafaia e Paulo Figueiredo, revela transferências milionárias e pedido de asilo; STF dá 48h para explicações

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, enviou à PGR relatório da Polícia Federal que atribui crimes a Jair e Eduardo Bolsonaro por tentativa de interferência no julgamento da ação penal sobre o golpe de Estado. Ex-presidente tem 48 horas para se manifestar.
Relatório da PF aponta crimes de Jair e Eduardo Bolsonaro, com apoio de Malafaia e Paulo Figueiredo, e é enviado à PGR por Moraes. Documento revela transferências milionárias, plano de asilo a Milei e ingerência internacional em favor de anistia.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou nesta quarta-feira (20/08/2025) à Procuradoria-Geral da República (PGR) o relatório final da Polícia Federal (PF) que imputa crimes ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O documento aponta articulações para interferir no julgamento da ação penal que trata da tentativa de golpe de Estado, além de mencionar a atuação do pastor Silas Malafaia e do empresário Paulo Figueiredo, a existência de transferências financeiras milionárias, um plano de asilo político ao presidente argentino Javier Milei e indícios de ingerência internacional.

O relatório está vinculado ao Inquérito (INQ) 4995, instaurado para apurar atos de coação e tentativas de obstrução judicial relacionados à Ação Penal (AP) 2668, que julga a trama golpista deflagrada entre 2022 e 2023. Segundo a PF, Jair e Eduardo Bolsonaro teriam agido de forma coordenada, com apoio de aliados, para comprometer o andamento do processo e constranger autoridades do Supremo.

Em despacho, Moraes determinou que a defesa do ex-presidente apresente esclarecimentos no prazo de 48 horas sobre três pontos centrais:

  1. Descumprimento de medidas cautelares impostas anteriormente;

  2. Reiteração de condutas ilícitas, mesmo após decisões do STF;

  3. Existência de risco concreto de fuga, reforçado pelo rascunho de pedido de asilo político apreendido em celular de Jair Bolsonaro.

Perícia no celular de Jair Bolsonaro

A perícia realizada no aparelho apreendido do ex-presidente, que está em prisão domiciliar desde o início de agosto, revelou novos elementos comprometedores. Foram identificadas violações da medida cautelar que o proibia de usar redes sociais, seja de forma direta ou por intermédio de terceiros. Entre as evidências, constam a divulgação de vídeos sobre as sanções dos EUA contra Alexandre de Moraes e a promoção de eventos políticos, indícios de que Bolsonaro continuava articulando campanhas digitais.

O material analisado também expôs diálogos entre Jair Bolsonaro e o advogado norte-americano Martin de Luca, representante da Trump Media & Technology Group (TMTG) e da plataforma Rumble. De Luca teria movido ações judiciais nos Estados Unidos contra Moraes, alegando censura e supostas violações de tratados internacionais. Para os investigadores, esses contatos reforçam a linha de atuação internacional destinada a pressionar instituições brasileiras por meio de redes políticas e jurídicas no exterior.

Acusações e principais envolvidos

De acordo com a PF, o objetivo central do grupo era pressionar o STF e constranger instituições democráticas brasileiras em favor de interesses pessoais, com ênfase na busca de anistia para Jair Bolsonaro e aliados. Além de Eduardo, o relatório cita o empresário Paulo Figueiredo e o pastor Silas Malafaia como partícipes das ações.

Segundo a investigação, Eduardo e Figueiredo articularam com autoridades dos Estados Unidos a imposição de sanções contra agentes públicos brasileiros, sobretudo o ministro Alexandre de Moraes. Já Malafaia teria atuado na definição de estratégias de pressão, na propagação de informações falsas e no direcionamento de ações coordenadas contra a cúpula do Judiciário.

Mensagens entre Eduardo e Jair Bolsonaro

As mensagens trocadas entre pai e filho reforçam o quadro de instabilidade interna. Em julho, após ser chamado de “imaturo” em entrevista, Eduardo Bolsonaro xingou o pai com palavrões e o acusou de comprometer sua trajetória política. Em outras conversas, atacou diretamente Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), afirmando que o governador nunca ajudou Jair e apenas aguardava para disputar a presidência em 2026.

Posteriormente, Eduardo pediu desculpas, mas continuou alimentando desconfiança sobre as movimentações de Tarcísio, que vinha se aproximando de diplomatas norte-americanos. Para o deputado, a ascensão do governador paulista representaria um risco para a sobrevivência política da família.

Defesa de Eduardo e reação política

Em nota, Eduardo Bolsonaro criticou a investigação e classificou como “crime absolutamente delirante” os apontamentos da PF. Ele afirmou que suas ações no exterior buscavam apenas o “restabelecimento das liberdades individuais” e a aprovação da anistia aos bolsonaristas. Também repudiou o vazamento de conversas com o pai, que chamou de “lamentável e vergonhoso”.

O deputado ainda argumentou que decisões sobre tarifas e sanções estavam nas mãos de Trump e autoridades americanas, não nas suas, insinuando seletividade da PF ao não responsabilizar esses atores.

Silas Malafaia e Paulo Figueiredo

As mensagens revelam também a atuação do pastor Silas Malafaia, que repreendeu Jair Bolsonaro por “queimar o filho” em público e alertou que isso fragilizava os esforços internacionais conduzidos por Eduardo. O religioso foi descrito pela PF como orientador das estratégias do grupo, articulando pressões sobre o STF e defendendo o condicionamento da retirada das tarifas dos EUA ao avanço da anistia no Congresso.

Moraes determinou busca e apreensão contra Malafaia, que teve o celular apreendido no Aeroporto do Galeão. O pastor foi proibido de sair do país e reagiu chamando o ministro de “ditador”, além de convocar atos para 7 de setembro.

Já Paulo Figueiredo teria colaborado em reuniões nos Estados Unidos, repassando a percepção de que bancos brasileiros não estavam aplicando integralmente as sanções financeiras contra Alexandre de Moraes previstas na Lei Magnitsky.

Transferências financeiras e apoio a Eduardo

Outro ponto de destaque do relatório foi a identificação de transferências financeiras milionárias. Jair Bolsonaro teria repassado R$ 2 milhões à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, um dia antes de depor à PF sobre as atividades do filho. O ex-presidente já havia admitido ter enviado outros R$ 2 milhões para bancar a estadia de Eduardo nos EUA. Para os investigadores, trata-se de um apoio financeiro deliberado às articulações internacionais do deputado.

Risco de fuga e pedido de asilo político

A PF ainda encontrou em celular de Jair Bolsonaro um documento de 33 páginas com um rascunho de pedido de asilo político ao presidente da Argentina, Javier Milei. O material reforça a tese de risco de fuga, especialmente porque foi produzido no mesmo período em que Bolsonaro se hospedou por dois dias na embaixada da Hungria, em 2024, após decisões desfavoráveis do STF.

Conflitos internos: Eduardo x Jair e Tarcísio

As mensagens revelam insultos de Eduardo a Jair Bolsonaro, após o pai o chamar de “imaturo”. O deputado ainda acusou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, de esperar sua ruína política para assumir a liderança da direita em 2026. Para Eduardo, Tarcísio seria “uma solução do sistema” incapaz de salvar a família.

Declarações de Bolsonaro: anistia como moeda de troca

Áudios recuperados mostram Jair Bolsonaro afirmando que “sem votar a anistia não há negociação sobre tarifas”. Para o ex-presidente, a pauta da anistia seria a chave para resolver impasses internacionais, confirmando que usava o tema como instrumento de pressão política.

Braga Netto e Léo Índio e ampliam tensão institucional

Braga Netto e descumprimento de cautelar

A PF também apontou que o general Braga Netto, preso desde 2024, manteve contato proibido com Jair Bolsonaro por meio de SMS, violando determinação do STF.

Denúncia à OEA

O primo dos filhos mais velhos de Bolsonaro, Léo Índio, apresentou denúncia contra Moraes à OEA, alegando perseguição e violação de direitos. O gesto reforça a internacionalização da disputa.

O debate jurídico: crime militar e alta traição

Juristas divergem sobre o enquadramento das condutas de Eduardo no artigo 141 do Código Penal Militar, que prevê pena de até 24 anos para quem incita conflitos internacionais contra o Brasil. O PT apresentou projeto de lei para tipificar a conduta como alta traição à pátria, diante da dificuldade de aplicar a legislação militar a civis.

Linha do tempo da crise envolvendo Jair e Eduardo Bolsonaro

2022–2023 — Trama golpista

  • Ação Penal 2668 aberta no STF apura atos de tentativa de golpe de Estado.
  • Jair Bolsonaro e aliados passam a articular pressão política e institucional, buscando anistia para investigados.

2024 — Crises e movimentações internacionais

  • Março/2024 — Bolsonaro passa dois dias hospedado na embaixada da Hungria, após decisões desfavoráveis no STF.
  • 2024 — Eduardo Bolsonaro intensifica contatos nos Estados Unidos, articulando com o empresário Paulo Figueiredo sanções contra autoridades brasileiras, sobretudo Alexandre de Moraes.
  • Silas Malafaia é apontado como estrategista da pressão sobre o STF, defendendo que a retirada das tarifas dos EUA fosse condicionada ao avanço da anistia no Congresso.

Julho/2025 — Conflitos internos no bolsonarismo

  • Em mensagens reveladas pela PF, Eduardo Bolsonaro insulta o pai, chamando-o de imaturo e acusando-o de comprometer sua carreira política.
  • Eduardo também ataca Tarcísio de Freitas, acusando-o de preparar sua candidatura à Presidência em 2026 com apoio de diplomatas norte-americanos.
  • Malafaia repreende Jair Bolsonaro por expor o filho, afirmando que isso fragilizava os esforços de articulação internacional.

Início de agosto/2025 — Prisão domiciliar

  • Jair Bolsonaro é colocado em prisão domiciliar, com restrição ao uso de redes sociais.
  • Perícia no celular do ex-presidente encontra violações da cautelar:
    • Divulgação de vídeos sobre sanções dos EUA a Moraes.
    • Promoção de eventos políticos por meio de terceiros.
    • Conversas com o advogado Martin de Luca, ligado à Trump Media e à plataforma Rumble, que processou Moraes nos EUA por suposta censura.

Agosto/2025 — Novos elementos do relatório da PF

  • Documento de 33 páginas revela rascunho de pedido de asilo político à Argentina, endereçado a Javier Milei.
  • Identificadas transferências milionárias:
    • R$ 2 milhões enviados à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro antes de depoimento de Jair à PF.
    • Outros R$ 2 milhões repassados para bancar a estadia de Eduardo nos EUA.
  • Para a PF, trata-se de apoio financeiro deliberado às articulações internacionais do deputado.

20/08/2025 — Encaminhamento à PGR

  • O ministro Alexandre de Moraes envia à Procuradoria-Geral da República o relatório final da PF, vinculando Jair e Eduardo Bolsonaro a crimes de coação e interferência no STF.
  • O documento também cita Silas Malafaia e Paulo Figueiredo como partícipes.
  • Moraes dá 48 horas para Jair Bolsonaro apresentar esclarecimentos sobre descumprimento de medidas cautelares e risco de fuga.

Cerco judicial contra Jair e Eduardo Bolsonaro

O relatório final da PF, agora sob avaliação da PGR, amplia o cerco judicial contra Jair e Eduardo Bolsonaro. O caso combina conflitos familiares, articulações internacionais e estratégias de pressão política, revelando a complexidade da crise. O envolvimento de Malafaia e Paulo Figueiredo evidencia a construção de uma rede de influência, ao passo que o pedido de asilo e as transferências financeiras reforçam suspeitas de tentativa de obstrução da Justiça.

No plano político, a crise expõe fissuras dentro do bolsonarismo e abre espaço para novos protagonistas da direita, como Tarcísio de Freitas. Institucionalmente, reacende o debate sobre ingerência estrangeira e os limites da soberania nacional diante da tentativa de mobilizar um governo externo contra instituições brasileiras.

A ampliação do inquérito expõe não apenas delitos formais, mas um método político de corrosão institucional. O uso da anistia como moeda de troca internacional, a tentativa de envolver líderes estrangeiros em disputas domésticas e a presença de figuras religiosas e militares revelam um quadro que ultrapassa a esfera familiar. A cada revelação, a crise deixa de ser apenas judicial e assume contornos de ruptura estrutural na relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário, com impactos diretos na soberania nacional e no equilíbrio democrático.


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