CPMI do INSS endurece apuração de fraudes bilionárias, mira políticos e ouve Nelson Willians; Advogado é acusado de movimentar R$ 4 bilhões

O advogado Nelson Wilians presta depoimento à CPMI do INSS em 18/09/2025, em Brasília, amparado por habeas corpus. Ele negou envolvimento no esquema e permaneceu em silêncio diante das suspeitas de movimentar R$ 4,3 bilhões.
O advogado Nelson Wilians presta depoimento à CPMI do INSS amparado por habeas corpus. Ele negou envolvimento no esquema e permaneceu em silêncio diante das suspeitas de movimentar R$ 4,3 bilhões.

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS aprovou nesta quinta-feira (18/09/2025) novas medidas para reforçar a investigação sobre descontos fraudulentos em aposentadorias e pensões, que já somam estimativas de R$ 6 bilhões entre 2019 e 2024. O presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), anunciou a prioridade em depoimentos e ressaltou o apoio do Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir o comparecimento de convocados.

Segundo Carlos Viana, mudanças recentes no STF representaram avanço para a investigação. O ministro André Mendonça determinou que testemunhas convocadas devem comparecer à CPMI, medida considerada pelo presidente como “um marco para a nova fase de apuração”.

Entretanto, restrições ainda se mantêm para investigados presos, como Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, e o empresário Maurício Camisotti, apontados como líderes do esquema.

Parlamentares defendem que esses investigados sejam ouvidos na comissão ou, ao menos, em dependências da Polícia Federal. Houve críticas ao habeas corpus concedido pelo ministro Flávio Dino, que beneficiou Cecília Simões, esposa de Camisotti.

Depoimento do advogado Nelson Willians

A sessão desta quinta-feira teve como destaque o depoimento do advogado Nelson Willians Rodrigues, alvo de operação de busca e apreensão. Amparado por habeas corpus, ele se limitou a uma declaração inicial e negou envolvimento nas fraudes.

“Eu não conheço o ‘Careca do INSS’. Minha relação com Maurício Camisotti começou como profissional e virou amizade. Não possuo ligação com os fatos investigados”, afirmou o advogado.

O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), contestou a versão, ressaltando a ostentação exibida pelo advogado nas redes sociais, além de movimentações financeiras que ultrapassam R$ 4 bilhões. Para Gaspar, “o silêncio dele falou alto”, e sua condição pode mudar de testemunha para investigado.

Expansão das convocações

A comissão aprovou 179 requerimentos de informação e convocação, incluindo pedidos de comparecimento de autoridades como o ministro Vinícius Carvalho (Controladoria-Geral da União), o advogado-geral da União Jorge Messias e o diretor-geral da Polícia Federal Andrei Rodrigues. Os convites visam ampliar a cooperação institucional.

Também foi solicitado ao STF que informe sobre eventuais políticos envolvidos nas investigações conduzidas pela Polícia Federal.

“Se houve político que favoreceu o roubo da Previdência, a população tem o direito de saber”, disse Viana.

A CPMI organiza cerca de 80 convocados em ordem de prioridade e pode pedir prorrogação dos trabalhos. Um agente da Polícia Federal acompanha diretamente os casos de lavagem de dinheiro relacionados ao esquema.

Origem, magnitude e prejuízos do esquema

O esquema investigado pela CPMI — revelado oficialmente pela Operação Sem Desconto, conduzida pela Polícia Federal em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU) — apura descontos indevidos feitos sem autorização em benefícios previdenciários.

  • Estimativa do prejuízo: R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2025.

  • Número de beneficiários afetados: cerca de 4,1 milhões entre aposentados e pensionistas.

  • Início do esquema: indícios apontam que algumas irregularidades remontam a 2005.

Principais suspeitos, acusações e medidas da CPMI

Suspeitos de destaque

Vários nomes surgem com frequência nas investigações e nos requerimentos da CPMI:

  • Antônio Carlos Camilo Antunes, apelidado “Careca do INSS”, lobista apontado como facilitador e articulador do esquema.

  • Maurício Camisotti, empresário com associação investigada, tido como figura central.

  • Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS nomeado em julho de 2023.

  • Nelson Wilians Fratoni Rodrigues, advogado com transações suspeitas com Camisotti; alvo de mandados de busca e apreensão.

Medidas adotadas

  • Prisão preventiva: requerimento aprovado pela CPMI para 21 investigados, com base em indícios da Polícia Federal.

  • Quebra de sigilos bancário, fiscal e relatórios do Coaf (órgão de controle financeiro) para mapear movimentações suspeitas.

  • Convocação de depoimentos e solicitações de informações de diversas entidades públicas, como CGU, AGU e Polícia Federal.

Nelson Wilians: perfil, acusações e sua defesa

O advogado Nelson Wilians Fratoni Rodrigues tem sido um dos alvos mais mencionados:

  • Perfil público: advogado com escritório de advocacia renomado, forte atuação empresarial e grande visibilidade.

  • Acusações principais:

    • Movimentação financeira de R$ 4,3 bilhões entre 2019 e 2024 pelo seu escritório, segundo relatórios do Coaf.

    • Relação profissional e de amizade com Maurício Camisotti, alvo central da investigação.

    • Mandado de busca e apreensão cumprido pela Polícia Federal no âmbito da Operação Cambota, segunda fase da Operação Sem Desconto.

  • Defesa: Nelson Wilians nega envolvimento no esquema, afirma não conhecer “Careca do INSS”, reconhece relação com Camisotti apenas profissional, e invoca habeas corpus para permanecer em silêncio.

Reação institucional, prazos e impactos potenciais

  • O INSS, representado por seu presidente Gilberto Waller Júnior, anunciou que os aposentados e pensionistas que sofreram descontos indevidos receberão ressarcimento até 31 de dezembro de 2025, estimado em R$ 2,12 bilhões.

  • A CPMI está propondo ao STF autorizar prisões preventivas como meio de garantir a instrução criminal e evitar omissões ou interferências.

  • Há pressão para que sejam ouvidos ex-ministros, ex-presidentes do INSS e dirigentes de associações, a fim de compreender a dimensão estrutural do esquema.

Momento de inflexão

A CPMI do INSS está em um momento de inflexão: o avanço das investigações revela que o esquema não é recente, mas estrutural e com ramificações que vão além do mero “desconto indevido”. A tentativa de responsabilização de atores poderosos — empresários, ex-diretores públicos e advogados influentes — evidencia que as falhas não são apenas operacionais, mas também institucionais.

Alguns desafios persistem:

  • Provas documentais e quebras de sigilo são essenciais, mas podem ser retardadas por litígios judiciais.

  • O direito ao silêncio invocado por investigados poderosos complica a apuração, pois limita o acesso a informações diretas.

  • Existe risco de politização da CPMI caso nomes de políticos envolvidos sejam confirmados.

  • O ressarcimento prometido (R$ 2,12 bilhões até dezembro) é positivo, mas não cobre integralmente as perdas acumuladas pelos beneficiários ao longo de anos.

O caso expõe não apenas uma fraude massiva contra aposentados e pensionistas, mas também fragilidades na governança da Previdência Social, ressaltando a necessidade de reformas estruturais e maior controle sobre convênios e consignações.


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