Quem é Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, preso na Operação Cambota

Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, preso pela Polícia Federal na Operação Sem Desconto, apontado como operador de fraudes bilionárias contra aposentados e pensionistas.
Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, preso pela Polícia Federal na Operação Sem Desconto, apontado como operador de fraudes bilionárias contra aposentados e pensionistas.

A Polícia Federal prendeu na sexta-feira (12/09/2025) o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, e o empresário Maurício Camisotti, em nova fase da Operação Sem Desconto, denominada Operação Cambota,  que investiga fraudes bilionárias em aposentadorias e pensões do INSS. A ação, autorizada pelo STF, também cumpriu buscas contra o advogado Nelson Wilians e o empresário Fernando Cavalcanti, resultando na apreensão de bens de luxo, dinheiro vivo e obras de arte. O esquema, alvo de apuração na CPI do INSS, teria causado prejuízo de R$ 6 bilhões aos cofres públicos

As prisões foram autorizadas pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), que apontou risco de fuga e ocultação de patrimônio como fundamentos para a medida cautelar. Segundo a PF, o esquema teria gerado prejuízo estimado em R$ 6 bilhões aos cofres da Previdência.

Como funcionava o esquema

De acordo com os investigadores, associações e sindicatos cadastravam aposentados sem autorização, falsificando assinaturas para justificar descontos automáticos em benefícios previdenciários. O dinheiro era desviado para empresas de fachada controladas por intermediários do grupo, em um ciclo de lavagem de capitais que incluía repasses a servidores ligados ao INSS.

O “Careca do INSS” é apontado como operador central do esquema. Ele teria movimentado R$ 53 milhões, sendo R$ 9 milhões destinados a pessoas ligadas ao órgão. Além disso, teria utilizado empresas registradas em paraísos fiscais, como as Ilhas Virgens Britânicas, para blindagem patrimonial. Entre os bens adquiridos, consta uma casa de R$ 3,3 milhões no Lago Sul, em Brasília.

Maurício Camisotti, por sua vez, é investigado como sócio oculto de entidades beneficiadas pelas fraudes. Segundo o inquérito, empresas ligadas a ele faturaram centenas de milhões com descontos indevidos. Sua defesa classificou a prisão como arbitrária e informou que recorrerá.

Bens de luxo e provas apreendidas

A operação resultou na apreensão de uma Ferrari vermelha, uma réplica de carro de Fórmula 1 usado por Ayrton Senna, relógios de luxo e quantias expressivas em dinheiro vivo.

Em São Paulo, policiais também recolheram obras de arte e documentos em endereços ligados ao advogado Nelson Wilians, que nega envolvimento com a fraude. Em nota, sua defesa destacou:

“Nelson Wilians já afirmou que sua relação com um dos investigados é estritamente profissional e legal, o que será comprovado de forma cabal. Os valores transferidos referem-se à aquisição de um terreno vizinho à sua residência, transação lícita e de fácil comprovação”.

O empresário Fernando Cavalcanti, ex-sócio de Wilians e figura conhecida no meio corporativo e político de Brasília, também foi alvo de mandados de busca. Em nota, sua defesa alegou que ele “não possui qualquer envolvimento com a fraude no INSS”, ressaltando que todas as suas operações financeiras são lícitas e devidamente comprovadas.

A CPI do INSS e o cerco ao esquema

A prisão de Antunes ocorreu dias antes de seu depoimento à CPI do INSS, instalada no Congresso Nacional para apurar irregularidades no sistema previdenciário. A comissão já aprovou a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico.

Parlamentares afirmam que a prisão reforça a necessidade de apuração ampla. Deputados e senadores apontam que o esquema só alcançou tais proporções devido à fragilidade dos mecanismos de fiscalização do INSS e à omissão de instâncias de controle.

Quem é o “Careca do INSS”

Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, ganhou notoriedade após reportagens revelarem seu papel como lobista no meio previdenciário. Embora nunca tenha integrado formalmente os quadros do INSS, mantinha relações com dirigentes e servidores, atuando como facilitador de contratos e intermediário de associações de aposentados.

A série “Farra do INSS”, publicada em 2024 pelo site Metrópoles, revelou documentos, procurações e disputas internas em associações de aposentados que apontavam Antunes como operador de propinas. Procurado à época, limitou-se a responder: “Você ligou para a pessoa errada. Nada a declarar”.

Curiosamente, o apelido “Careca do INSS”, consolidado na investigação, chegou a ser contestado judicialmente pelo lobista, que alegava ofensa à honra. A tentativa não prosperou, e hoje até a Polícia Federal utiliza o termo em representações formais.

Repercussões e impacto político

A operação reforça a percepção de corrupção sistêmica na gestão previdenciária, ampliando a pressão sobre o governo federal e sobre o próprio Judiciário, que já vinha sendo questionado em outros casos de blindagem institucional.

O episódio também traz implicações políticas, pois a CPI do INSS tende a se tornar palco de disputas entre oposição e governo, especialmente após a divulgação de movimentações financeiras vultosas envolvendo figuras de influência no meio jurídico e empresarial.

Fragilidade do Estado

O caso do “Careca do INSS” revela não apenas a dimensão de um esquema de desvios bilionários contra aposentados e pensionistas, mas também a fragilidade do Estado em proteger a população mais vulnerável.

A operação evidencia como lobistas, empresários e advogados de prestígio se articularam em rede com entidades de fachada, aproveitando lacunas legais e falhas de controle do INSS. A blindagem patrimonial, o uso de offshores e a ostentação de bens de luxo ilustram o distanciamento entre o perfil dos fraudadores e a realidade dos milhões de aposentados lesados.

A CPI e o STF terão agora a responsabilidade de dar resposta institucional a um escândalo que já figura entre os maiores da história previdenciária do Brasil. O risco é que, como em casos anteriores, a dimensão política sobreponha-se ao rigor probatório, conduzindo a um desfecho marcado por seletividade ou impunidade.

*Com informações do site Metrópoles.

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