Os partidos União Brasil e Progressistas (PP), que juntos formam a federação União Progressista, anunciaram oficialmente nesta terça-feira (02/09/2025) o desembarque da base de apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão foi divulgada em pronunciamento conjunto no Congresso Nacional pelos presidentes Antônio Rueda (União) e Ciro Nogueira (PP).
O comunicado determinou que todos os filiados da federação com cargos no Executivo federal devem renunciar às funções até 30 de setembro. Em caso de descumprimento, a orientação prevê afastamento imediato e a adoção de sanções disciplinares previstas no estatuto partidário.
A medida atinge diretamente os ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esporte), além de dirigentes de estatais e autarquias sob influência dos partidos, como a Caixa Econômica Federal, os Correios e a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).
Consequências imediatas para os ministérios
Pressão sobre Sabino e Fufuca
A saída de Sabino e Fufuca é considerada inevitável por parlamentares e analistas, embora ambos resistam em abandonar seus postos. Sabino, deputado federal pelo Pará, tem atuado como peça central na organização da COP30 em Belém, reforçando o desejo de permanecer no cargo. Já Fufuca, deputado pelo Maranhão, mira uma candidatura ao Senado em 2026 e avalia que a ruptura fragiliza sua base política local.
Participação em cargos estratégicos
Além dos ministérios, os partidos mantêm posições em estatais de grande relevância. O PP controla a Caixa Econômica Federal, presidida por Carlos Vieira, indicado pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira. Já o União Brasil mantém influência nos Correios e na Codevasf, órgãos estratégicos para a execução de obras e políticas regionais.
Reação do governo e busca por equilíbrio político
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou respeitar a decisão da União Progressista, mas destacou que quem permanecer no governo deve ter compromisso com as pautas defendidas por Lula, como a reforma tributária, a defesa da democracia e a soberania nacional.
O presidente Lula, por sua vez, tenta conter os efeitos da crise. Um almoço no Palácio da Alvorada reuniu os ministros da cota da União Brasil — Celso Sabino (Turismo), Frederico Siqueira (Comunicações) e Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) — além do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. O encontro buscou preservar alianças individuais, mesmo diante da decisão institucional da federação.
União Progressista mira eleições de 2026
Apoio à anistia
O movimento de saída do governo também foi acompanhado por uma defesa pública de anistia ampla aos investigados pelos atos de 8 de janeiro, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Lideranças do União e do PP afirmaram que o gesto reforça a intenção de reposicionar a federação como polo de oposição em 2026.
Tarcísio de Freitas no radar
Parlamentares revelaram que a antecipação do desembarque também busca respaldar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como sucessor natural de Bolsonaro na corrida presidencial. Essa articulação conta com o apoio de setores do PL e com a expectativa de que Bolsonaro transfira seu capital político após o julgamento no STF.
Relevância do União Progressista nas votações
Levantamento do UOL com base em dados da Câmara mostrou que a União Progressista foi responsável por 20,2% dos votos a favor do governo desde o início de 2023, superando inclusive o PT, que representou 19,4%. Com 109 deputados e 14 senadores, a federação é a maior bancada do Legislativo, e sua saída aumenta a fragilidade do governo em votações estratégicas.
O PT permanece como o partido mais fiel ao Planalto, com 97,6% de alinhamento às orientações. Entretanto, os números mostram que partidos médios, como PSD, PSB e PDT, terão papel ainda mais decisivo nas articulações legislativas a partir de agora.
Resistência interna e planos individuais
Apesar da determinação partidária, ministros e lideranças regionais ligados à União Brasil e ao PP avaliam permanecer no governo por meio de alianças locais. No Pará, o ministro Celso Sabino mantém diálogo próximo com o governador Helder Barbalho (MDB) e estuda migrar para o MDB para viabilizar sua candidatura futura.
No Maranhão, André Fufuca enfrenta cobrança da base aliada, que teme perda de espaço político caso ele deixe o ministério. Ambos, contudo, reconhecem a dificuldade em sustentar suas posições diante da disciplina partidária imposta pela União Progressista.
Ponto de inflexão
O desembarque do União Brasil e do PP representa um ponto de inflexão na relação do governo com o centro político. Ao mesmo tempo em que fortalece a reorganização da oposição em torno de Tarcísio de Freitas e da pauta da anistia, a decisão expõe divisões internas nas siglas, sobretudo pela resistência de ministros e lideranças regionais em perder espaço no Executivo.
Para o governo, o episódio revela a fragilidade estrutural da coalizão ampla montada por Lula, dependente de negociações constantes e vulnerável a rupturas. A perda da maior federação da Câmara tende a tornar mais complexa a aprovação de reformas e medidas estratégicas, aumentando o peso do PSD, MDB e Republicanos na articulação política.
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