ALBA reage tardiamente à prisão do deputado Binho Galinha, e silêncio institucional reforça imagem de conivência política na Bahia

Assembleia Legislativa publica nota genérica e evita reconhecer omissão institucional.
Deputada Ivana Bastos, presidente da ALBA, divulgou nota oficial após prisão do deputado Binho Galinha, mas manteve postura de espera diante de denúncias que se arrastam desde 2023.

A prisão do deputado estadual Binho Galinha (Kléber Cristian Escolano de Almeida), ocorrida na sexta-feira (03/10/2025) após entrega voluntária ao Ministério Público da Bahia (MPBA), desencadeou uma reação tardia e protocolar da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA). Em nota oficial assinada pela presidente Ivana Bastos (PSD), a Casa reafirmou compromisso com a legalidade, mas evitou reconhecer sua própria omissão diante das denúncias que se arrastavam desde a Operação El Patrón, em 2023.

Enquanto isso, o editorial de Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia, denunciou o “estado anômico” vivido pelo Legislativo baiano, marcado pela anomia institucional descrita por Émile Durkheim: normas que existem apenas formalmente, mas são sistematicamente ignoradas quando afetam a elite política. O caso, que envolve crimes como lavagem de dinheiro, agiotagem, tráfico e milícia, expõe a crise moral da representação e amplia a percepção de conivência entre política e crime organizado na Bahia.

A Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) divulgou, nesta sexta-feira (03/10/2024), nota oficial assinada pela presidente deputada Ivana Bastos (PSD), após a prisão do deputado estadual Kléber Cristian Escolano de Almeida, conhecido como Binho Galinha, acusado de liderar uma organização criminosa. O comunicado, encaminhado ao Jornal Grande Bahia, reafirma “compromisso com a legalidade, a transparência e o respeito à sociedade baiana”, mas omite qualquer autocrítica ou reconhecimento de falhas institucionais diante das denúncias que vinham sendo ignoradas pela Casa desde 2023.

Segundo a nota, a ALBA “aguardará a manifestação oficial da Justiça” e somente após o retorno do expediente, na segunda-feira (6), “deliberará sobre as medidas legais a serem adotadas”. A presidência também afirmou que encaminhará o caso à Procuradoria Jurídica para parecer sobre “medidas internas cabíveis, em conformidade com a Constituição e o Regimento Interno”.

Embora o texto adote tom de aparente normalidade institucional, especialistas e observadores interpretaram a comunicação como estratégia de contenção política, marcada por formalismo excessivo e evasão de responsabilidade.

Editorial de Carlos Augusto denuncia “estado anômico” e omissão deliberada

Em editorial publicado na sexta-feira (3), o jornalista e cientista social Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia, afirmou que a inércia da ALBA diante das provas apresentadas pelo Ministério Público da Bahia (MPBA) desde a Operação El Patrón, deflagrada em dezembro de 2023, caracteriza um ato político consciente de omissão. Segundo o texto, a Casa “optou por instaurar um processo disciplinar pro forma, apenas para transmitir aparência de diligência institucional, sem intenção real de punir o deputado”.

Carlos Augusto aponta que a omissão atravessa gestões consecutivas — Adolfo Menezes e Ivana Bastos, ambos do PSD — e denuncia a existência de um “sistema de conivência corporativa” que enfraquece a credibilidade do Legislativo baiano.

O editorial recorre ao conceito sociológico de “anomia”, formulado por Émile Durkheim, para descrever o colapso normativo dentro da instituição. Assim como na teoria clássica, em que a sociedade perde a capacidade de regular comportamentos, a ALBA teria, segundo o autor, perdido suas referências éticas e legais, permitindo a infiltração de práticas criminosas em seu funcionamento regular.

Crimes, provas e omissões: a cronologia da conivência

As investigações da Polícia Federal e do MPBA revelam que Binho Galinha chefiava uma estrutura criminosa complexa, com ramificações em lavagem de dinheiro, agiotagem, jogo do bicho, comércio ilegal de armas e tráfico de drogas. Desde 2023, provas documentais e interceptações já haviam sido remetidas ao Legislativo, que tinha o dever de instaurar um processo de cassação.

Mesmo diante da gravidade, a ALBA permaneceu inerte, sustentando que o Regimento Interno só permitiria punições após condenação definitiva. Essa interpretação restritiva — considerada por juristas um desvio de finalidadeblindou o parlamentar por quase dois anos, até a prisão decretada nesta semana.

Para o Jornal Grande Bahia, tal comportamento revela “a normalização da ilegalidade dentro da normalidade política”, isto é, um estado de anomia institucional, em que as normas existem, mas são sistematicamente ignoradas quando atingem os próprios membros da elite política.

A nota da ALBA e o silêncio eloquente do poder

A resposta divulgada pela Assembleia Legislativa repete fórmulas institucionais e evita mencionar as denúncias preexistentes. Não há referência direta às comunicações do MPBA, tampouco reconhecimento de que a Casa foi cientificada sobre o caso há quase dois anos.

Ao condicionar qualquer ação a uma “manifestação oficial da Justiça”, a presidência reinterpreta o princípio da independência dos Poderes de forma conveniente: o Legislativo se exime de agir enquanto o Judiciário não o força a fazê-lo. O resultado é uma espécie de “autodefesa pela inércia”, um expediente político que permite à instituição sobreviver à crise sem enfrentá-la.

O diagnóstico sociológico: anomia e deslegitimação

A referência ao conceito de anomia, retomado no editorial de Carlos Augusto, é mais do que retórica. Em termos durkheimianos, a ALBA vive uma patologia normativa, na qual o dever público se dissolve sob o peso das conveniências políticas.

Durkheim via a anomia como o colapso das regras morais que sustentam a coesão social. Quando instituições perdem sua capacidade de regular o comportamento de seus membros, instala-se o caos moral, mesmo sob aparência de legalidade. É precisamente essa contradição — a legalidade que legitima a omissão — que define o estado anômico na política baiana.

Omissão como escolha política e erosão democrática

A passividade da ALBA diante do caso Binho Galinha não é simples falha administrativa, mas um ato político consciente. Ao decidir não agir diante de provas consistentes, a instituição opta por proteger a si mesma, e não a sociedade.

Esse comportamento reproduz a lógica da impunidade, na qual o poder político cria mecanismos de autoblindagem, neutralizando o controle social e desmoralizando o próprio Estado de Direito. A consequência é direta: a erosão da legitimidade democrática.

Quando o Parlamento abdica de exercer sua função fiscalizadora, ele se converte em parte do problema que deveria combater. A anomia institucional, como descreve Durkheim, não é ausência de norma, mas a perda do seu sentido moral.

A crise moral da representação

A crise revelada pelo caso Binho Galinha ultrapassa os limites da Assembleia Legislativa. Expõe uma deformação estrutural do sistema representativo, em que a lealdade partidária e os acordos internos valem mais que a ética pública.

A nota da ALBA, com seu tom neutro e evasivo, reforça a percepção de instituição capturada pelo medo de agir. O editorial de Carlos Augusto, por outro lado, oferece uma leitura sociológica aguda: a Bahia vive um estado anômico, no qual o crime não apenas corrompe o sistema político, mas se confunde com ele.

Enquanto a ALBA promete “deliberar” sobre o caso apenas na segunda-feira, a sociedade baiana já deliberou sobre sua própria desconfiança: o Parlamento perdeu sua autoridade moral.

Deputado Binho Galinha se entrega ao MPBA e é preso após três dias foragido

O deputado estadual Binho Galinha (Kléber Cristian Escolano de Almeida) se entregou ao Ministério Público da Bahia nesta sexta-feira (03/10/2025) em Feira de Santana, após três dias de fuga. Ele é acusado de liderar uma organização criminosa com características milicianas, investigada nas operações El Patrón e Estado Anômico, que resultaram em dez prisões, incluindo familiares do parlamentar.

A prisão ocorreu após o cumprimento de mandado de prisão preventiva pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), que conduziu o deputado até Salvador, onde permanecerá custodiado. As investigações apontam o parlamentar como chefe de um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influência, com envolvimento direto de policiais militares e familiares.

O caso marca um novo desdobramento na série de operações contra o crime organizado na Bahia. Ao todo, 15 pessoas já foram denunciadas pelo MPBA, incluindo o filho e a esposa de Binho Galinha. Para o Ministério Público, a prisão reforça o combate à captura institucional por grupos criminosos, evidenciando a necessidade de maior controle sobre a relação entre política, crime e financiamento ilegal de campanhas

Íntegra da nota da ALBA enviada ao Jornal Grande Bahia

A presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, deputada Ivana Bastos, vem a público reafirmar seu compromisso com a legalidade, a transparência e o respeito à sociedade baiana.

A Casa informa que aguardará a manifestação oficial da Justiça em relação à prisão do deputado estadual Binho Galinha, ocorrida nesta sexta-feira (03/10/2025), conforme noticiado pela imprensa.

Dessa forma, no retorno do expediente na próxima segunda-feira (6), a Assembleia deliberará sobre as medidas legais a serem adotadas.

A presidência, quando notificada da prisão, encaminhará à Procuradoria Jurídica da Casa, que emitirá parecer sobre as medidas internas cabíveis, em conformidade com a constituição, as leis, e o regimento interno da Casa Legislativa.

A Assembleia Legislativa da Bahia manterá sua atuação pautada pela transparência, imparcialidade e pelo respeito ao Estado Democrático de Direito.

Salvador, 3 de outubro de 2025

Leia +

Inércia da ALBA diante de provas contra Binho Galinha expõe conivência política, estado anômico e fragilidade democrática na Bahia | Por Carlos Augusto

Deputado Binho Galinha se entrega ao Ministério Público e é preso em Salvador após três dias foragido

Tudo sobre a Operação Estado Anômico: Fuga do deputado Binho Galinha, nove prisões executadas, bloqueio de R$ 9 milhões e conivência da ALBA com o Crime Organizado

Tudo sobre a Operação El Patron e a ação judicial que teve como alvo suposta milícia liderada pelo deputado estadual da Bahia Binho Galinha


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.