A Bahia vive uma mudança estrutural no eixo de seu desenvolvimento econômico. Após quase duas décadas de retração industrial, fechamento de plantas e desmobilização da cadeia produtiva, o Estado se reposiciona como um dos principais polos de reindustrialização do Brasil.
Sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do governador Jerônimo Rodrigues (PT), foram anunciados investimentos superiores a R$ 10 bilhões em setores estratégicos — automotivo, naval, petroquímico e energético — com impacto direto sobre o emprego, a renda e a arrecadação estadual.
Esses anúncios consolidam o que o governo baiano e o Planalto descrevem como uma “virada de página histórica”. O processo de reindustrialização em curso devolve protagonismo à Bahia no cenário nacional e fortalece o núcleo político formado por Lula, Jerônimo, Rui Costa e Jaques Wagner, que pavimentam o caminho para as eleições de 2026.
Reindustrialização e soberania: o novo pacto produtivo da Bahia
Durante a maratona de anúncios, Lula foi enfático ao afirmar que o país está “reconstruindo sua capacidade de produzir com as próprias mãos”. A frase, dita em Maragogipe, sintetiza o espírito de um projeto que alia política industrial, transição energética e soberania nacional.
“Estou aqui para recuperar a indústria naval brasileira. Os que deixaram um estaleiro dessa magnitude parado deveriam ser responsabilizados. O Brasil voltou a produzir, a empregar e a acreditar no seu próprio potencial”, declarou Lula, sob aplausos de centenas de trabalhadores do Estaleiro Enseada.
O Estaleiro Enseada, em Maragogipe, símbolo do colapso industrial dos anos 2010, agora é também símbolo da retomada. A Petrobras confirmou investimento de R$ 2,6 bilhões para construção de seis embarcações de apoio offshore (ORSV), com tecnologia híbrida e 40% de conteúdo nacional. O projeto deve gerar 5,4 mil empregos diretos e indiretos e movimentar uma ampla rede de fornecedores locais.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, definiu o programa como “a volta do Brasil à era da indústria produtiva”. Segundo ela, “ficamos oito anos sem um único contrato com estaleiros nacionais. Agora estamos devolvendo ao país sua capacidade industrial, com emprego, inovação e compromisso ambiental”.
Fafen reabre e recupera papel estratégico no agronegócio
A reativação da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Bahia (Fafen-BA), em Camaçari, é outro marco da reconstrução industrial. Fechada desde 2018, a unidade volta a operar com R$ 38 milhões de investimento inicial e previsão de R$ 1,2 bilhão em contratos de operação e manutenção nos próximos cinco anos.
A planta produzirá amônia, ureia perolada e ARLA-32, insumos fundamentais para o agronegócio e o transporte de cargas. Com a reabertura da Fafen-BA e da unidade de Sergipe, o país passará a produzir 20% dos fertilizantes consumidos internamente, reduzindo a dependência externa em um setor estratégico para a segurança alimentar.
“A Fafen simboliza o retorno do Estado à economia produtiva. É uma resposta à lógica de desmonte e privatização que enfraqueceu nossa indústria. O Brasil precisa fabricar o que consome”, afirmou Jerônimo Rodrigues durante o evento.
Além da geração de 750 empregos diretos, a operação vai dinamizar o Polo Petroquímico de Camaçari, que volta a integrar energia, petroquímica e fertilizantes sob a coordenação da Petrobras e do Governo do Estado.
BYD: o futuro elétrico da indústria automotiva baiana
A inauguração da fábrica da BYD (Build Your Dreams), em Camaçari, foi o ponto alto da agenda presidencial. Instalando-se na antiga planta da Ford, fechada em 2021, a montadora chinesa investiu R$ 5,5 bilhões e criou a maior fábrica de veículos elétricos e híbridos da América Latina.
Com capacidade para 150 mil veículos por ano na primeira etapa e 300 mil na segunda, o complexo já começou a operar no sistema SKD (montagem local com peças importadas) e passará à produção nacionalizada a partir de 2026, quando incluirá estampagem, soldagem e pintura, elevando o índice de nacionalização para 50%.
“Começar a produzir veículos elétricos é uma demonstração de soberania. O Brasil tem recursos naturais, tecnologia e talento humano para liderar a transição energética mundial”, declarou Lula, durante a cerimônia de inauguração.
O governador Jerônimo Rodrigues reforçou o papel estratégico da BYD:
“A Bahia passa a ser protagonista na mobilidade sustentável. Estamos unindo inovação, descarbonização e emprego. É a revolução verde acontecendo em solo baiano.”
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), a presença da BYD deve gerar 20 mil empregos diretos e indiretos, reativando toda a cadeia de fornecedores automotivos, com forte integração com o Senai Cimatec e o Sistema FIEB.
O secretário Ângelo Almeida explicou que “até 2027, 50% dos componentes dos veículos serão nacionais, e 52% fabricados na própria Bahia, consolidando o Polo Automotivo como eixo de reindustrialização regional”.
Indústria naval e petroquímica: o retorno da Petrobras ao protagonismo
A nova gestão da Petrobras redefiniu a política de conteúdo local, priorizando a produção nacional e a retomada da indústria naval. Segundo o Ministério de Minas e Energia, o plano da estatal prevê a contratação de 48 embarcações em diferentes estaleiros brasileiros, com geração de 44 mil empregos e R$ 23 bilhões em investimentos.
A Petrobras também assinou protocolo com o Governo da Bahia para utilização do canteiro de São Roque do Paraguaçu como base de apoio à construção da Ponte Salvador–Itaparica e descomissionamento de plataformas offshore. A medida deve criar milhares de novos postos de trabalho e consolidar o Recôncavo Baiano como centro da engenharia naval e offshore.
“Estamos transformando novamente a Petrobras no motor do desenvolvimento nacional. A empresa voltou a ser sinônimo de trabalho, tecnologia e orgulho brasileiro”, afirmou Magda Chambriard.
Investimentos estruturantes do Novo PAC fortalecem o interior
Além dos anúncios industriais, Lula e Jerônimo Rodrigues firmaram convênios do Novo PAC para ampliar a infraestrutura baiana. Entre os principais investimentos estão:
- R$ 200 milhões para obras urbanas em Feira de Santana, com empréstimo contraído pela Prefeitura;
- R$ 616 milhões para o Sistema Metroviário Salvador–Lauro de Freitas,
- R$ 25 milhões para a nova sede da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), em Santo Amaro.
Esses projetos, segundo o ministro da Casa Civil, Rui Costa, representam “a integração entre desenvolvimento produtivo e social, criando as condições logísticas e educacionais para sustentar a retomada industrial”.
Emprego, qualificação e impacto social
O Governo da Bahia também investe na formação de mão de obra técnica. Segundo o secretário do Trabalho, Augusto Vasconcelos, já foram qualificados 479 operários para a planta da BYD, com cursos voltados à soldagem, automação e eletromobilidade.
“Estamos assegurando que os empregos gerados pela reindustrialização fiquem na Bahia. O foco é preparar trabalhadores locais para o mercado do futuro”, declarou Vasconcelos.
A política industrial é acompanhada de medidas sociais: criação de creches, expansão do metrô e novos programas habitacionais nas áreas industriais.
“A reindustrialização só é plena quando transforma vidas, não apenas indicadores econômicos”, observou Jerônimo.
Efeito político: fortalecimento do grupo petista e projeção para 2026
Os anúncios reforçam o capital político do bloco petista baiano, que hoje governa o Estado, comanda a Casa Civil, ocupa o Senado e lidera a principal base do presidente Lula no Nordeste.
Analistas políticos apontam que o impacto econômico e simbólico das novas indústrias deve elevar a aprovação de Jerônimo Rodrigues e consolidar a imagem de Lula como o presidente da reconstrução.
O ministro Rui Costa ganha visibilidade como gestor técnico do Novo PAC, e o senador Jaques Wagner reafirma sua influência no setor energético e na política de transição ecológica. Juntos, os quatro dirigentes formam o eixo de sustentação do projeto político do PT até 2026, com forte potencial eleitoral na Bahia, estado-chave do Nordeste.
“Estamos mostrando ao país que desenvolvimento e soberania caminham juntos. A Bahia é o laboratório da nova política industrial brasileira”, resumiu Jaques Wagner.
Reindustrialização como estratégia de poder e identidade nacional
Os anúncios feitos em Camaçari e Maragogipe não são apenas econômicos; constituem um reposicionamento político e simbólico. A Bahia, antes símbolo do desmonte industrial, torna-se modelo do projeto de Estado produtor e indutor do crescimento.
A estratégia de Lula e Jerônimo Rodrigues representa um retorno à tradição desenvolvimentista dos anos 1950–70, adaptada à nova agenda de economia verde e transição energética. É, portanto, uma reconciliação entre passado e futuro — entre Vargas e a descarbonização, entre Petrobras e BYD.
Os desafios permanecem: garantir continuidade administrativa, estabilidade fiscal, eficiência logística e formação tecnológica autônoma. Mas a Bahia volta a ser referência nacional de política industrial, conjugando trabalho, ciência e soberania.


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