CGU e Polícia Federal desmantelam esquema milionário de desvio de recursos da saúde e educação em Poções; 25 mandados são cumpridos na Bahia durante a Operação Intercessor

Investigações apontam irregularidades em licitação de 2021, no município de Poções, com direcionamento e contratos superfaturados
Operação Intercessor cumpre mandados em Poções, Barreiras, Encruzilhada e Vitória da Conquista, nesta quinta-feira (23/10/2025), para investigar fraudes em licitação e superfaturamento de contratos públicos.

A Controladoria-Geral da União (CGU) e a Polícia Federal (PF) deflagraram, nesta quinta-feira (23/10/2025), a Operação Intercessor, com o objetivo de desarticular um esquema criminoso de fraudes em licitação e desvio de recursos públicos da saúde, educação e assistência social no município de Poções (BA). As investigações apontam irregularidades em contratos firmados em 2021, envolvendo superfaturamento e pagamentos indevidos a empresas contratadas pela prefeitura.

Esquema de desvio em contratos de 2021

De acordo com a CGU, o esquema teve origem em licitação realizada em 2021 para a contratação de empresa de mão de obra terceirizada, custeada com recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS).

As auditorias revelaram aumentos contratuais acima dos limites legais e pagamentos superiores aos serviços efetivamente prestados, o que resultou em prejuízo financeiro expressivo aos cofres públicos. Somente nas áreas da saúde, educação e assistência social, foram identificados valores pagos sem correspondência na execução real dos serviços.

Fiscalização e constatações da CGU

Os relatórios da Controladoria indicam que o município alterou cláusulas contratuais de forma irregular, permitindo majoração de valores sem justificativa técnica. Além disso, verificou-se que empresas envolvidas no certame apresentaram vínculos indiretos, caracterizando direcionamento na licitação.

A CGU destacou que os indícios de fraude foram reforçados por pagamentos em duplicidade e ausência de comprovação de parte da execução contratual, elementos típicos de práticas de superfaturamento e conluio empresarial para obtenção ilícita de recursos federais.

Impactos sociais e danos à população

Os desvios atingem diretamente políticas públicas essenciais, como o funcionamento de unidades de saúde, escolas e programas assistenciais. Segundo nota da CGU, “o desvio de recursos públicos, especialmente nas áreas sociais, agrava as desigualdades e prejudica as camadas mais vulneráveis da população”.

Em municípios de pequeno e médio porte, como Poções, a supressão de recursos gera efeitos em cadeia, impactando o atendimento médico, o fornecimento de merenda escolar e o funcionamento de centros de assistência social. Tais prejuízos refletem-se em aumento da exclusão social, da violência e da precariedade dos serviços públicos locais.

Operação Intercessor: diligências e abrangência

A Operação Intercessor cumpre 25 mandados de busca e apreensão nos municípios de Poções, Barreiras, Encruzilhada e Vitória da Conquista, todos situados no estado da Bahia. As ações contam com a participação de 13 auditores da CGU e 68 policiais federais, que atuam na coleta de documentos, registros contábeis, equipamentos eletrônicos e outros materiais probatórios.

Os alvos da operação incluem empresários, servidores municipais e gestores públicos, suspeitos de fraudar processos licitatórios e desviar verbas federais. As investigações seguem sob sigilo, e os valores efetivamente desviados ainda estão sendo apurados.

Contexto institucional e desdobramentos

A operação integra o esforço conjunto da CGU e da PF para o combate à corrupção em administrações municipais, especialmente nas áreas financiadas por transferências obrigatórias da União. Desde 2019, operações similares têm identificado padrões recorrentes de irregularidades, como uso de empresas de fachada e manipulação de pregões eletrônicos.

A Operação Intercessor reforça a prioridade institucional de assegurar transparência e integridade na aplicação dos recursos públicos federais, sobretudo em setores estratégicos como saúde e educação, onde o impacto social é mais direto.

Práticas sistêmicas de corrupção

A deflagração da Operação Intercessor expõe a persistência de práticas sistêmicas de corrupção no âmbito municipal, sustentadas por redes de conluio entre empresários e agentes públicos. O uso indevido de verbas do SUS, Fundeb e FNAS demonstra fragilidade nos mecanismos de controle local e insuficiência das estruturas de compliance nas prefeituras de pequeno porte.

Embora a atuação da CGU e da PF represente avanço no combate à corrupção descentralizada, a recorrência desses casos sugere falhas estruturais no modelo de repasse direto de recursos federais, que carece de mecanismos automáticos de transparência, como o monitoramento digital em tempo real das execuções orçamentárias municipais. A operação também levanta o debate sobre a efetividade das sanções administrativas e a responsabilização de gestores que se beneficiam politicamente de contratos fraudulentos.

Principais dados investigação federal

Dados gerais da operação

  • Nome da operação: Intercessor
  • Data da deflagração: Quinta-feira, 23 de outubro de 2025
  • Órgãos responsáveis: Controladoria-Geral da União (CGU) e Polícia Federal (PF)
  • Objetivo: Desarticular esquema de fraudes em licitações e desvio de recursos públicos
  • Abrangência: Municípios de Poções, Barreiras, Encruzilhada e Vitória da Conquista (BA)
  • Mandados cumpridos: 25 de busca e apreensão
  • Equipes envolvidas: 13 auditores da CGU e 68 policiais federais

Recursos públicos sob investigação

  • Origem dos recursos desviados:
    • Sistema Único de Saúde (SUS)
    • Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb)
    • Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS)
  • Objeto da licitação fraudada: Contratação de empresa de mão de obra terceirizada
  • Ano da licitação: 2021
  • Principais irregularidades detectadas:
    • Superfaturamento de contratos
    • Aumentos contratuais ilegais acima dos limites legais
    • Pagamentos em duplicidade
    • Serviços não executados
    • Direcionamento de licitação

Impactos e consequências

  • Setores afetados: Saúde, educação e assistência social
  • Efeitos diretos:
    • Redução da qualidade dos serviços públicos
    • Prejuízos a escolas, postos de saúde e centros assistenciais
    • Aumento da vulnerabilidade social da população
  • Efeitos estruturais:
    • Fortalecimento de redes locais de corrupção
    • Distorção dos repasses federais
    • Fragilidade dos controles internos municipais

Aspectos jurídicos e institucionais

  • Possíveis crimes investigados:
    • Fraude à licitação (Lei nº 14.133/2021)
    • Peculato e associação criminosa (Código Penal)
    • Lavagem de dinheiro e falsidade ideológica
  • Etapa atual: Fase de coleta de provas e análise de documentos
  • Sigilo processual: Mantido até a conclusão da primeira etapa de apuração
  • Órgãos envolvidos na apuração: CGU, PF, Ministério Público Federal (MPF)

Padrão recorrente de corrupção municipal

  • O caso de Poções reflete um padrão recorrente de corrupção municipal, com uso de empresas de fachada e licitações direcionadas.
  • As fraudes impactam diretamente o SUS, o Fundeb e o FNAS, comprometendo serviços básicos e ampliando desigualdades sociais.
  • A Operação Intercessor reforça o papel do controle federal no combate à corrupção descentralizada e revela deficiências no monitoramento dos repasses da União.

Leia +

PF e CGU deflagram Operação Intercessor contra desvio de recursos públicos na Bahia; Irregularidades somam mais de R$ 12 milhões


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.