Deputado Rosemberg Pinto acusa prefeito Bruno Reis de financiar privilégios com dinheiro público em cursos de pós-graduação

A polêmica sobre o custeio de doutorados da vice-prefeita Ana Paula Matos e da secretária Giovanna Victer, ambos pagos com verbas da Prefeitura de Salvador, gerou críticas do deputado Rosemberg Pinto, que classificou o ato como “privilégio”. A Prefeitura defende que se trata de qualificação vinculada a programa do BID, mas especialistas apontam falhas de transparência e risco de uso indevido de recursos públicos.
Deputado critica gasto de mais de R$ 200 mil em doutorado da vice-prefeita Ana Paula Matos; prefeitura alega tratar-se de qualificação vinculada a programa do BID.

O deputado estadual Rosemberg Pinto (PT) criticou na sexta-feira (06/10/2025) duramente a gestão do prefeito Bruno Reis (União Brasil) após a revelação de que a Prefeitura de Salvador financiou cursos de doutorado e pós-graduação de integrantes do alto escalão com recursos públicos. A denúncia ganhou destaque nacional depois de reportagem publicada pela Folha de S.Paulo nesta sexta-feira, apontando que a vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT) teve R$ 203,9 mil custeados pela administração municipal para cursar doutorado na Fundação Dom Cabral, com verbas da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult).

Segundo Rosemberg Pinto, a prática caracteriza “privilégio pago com dinheiro público” e distorce o conceito de capacitação. “Curso privado com conta pública não é política de qualificação; é privilégio”, declarou o parlamentar, afirmando que o caso “expõe o uso indevido de recursos que deveriam ser destinados a políticas sociais e à melhoria dos serviços públicos”.

Prefeitura alega que gasto integra programa de qualificação

Em nota, a Prefeitura de Salvador sustentou que o financiamento dos cursos faz parte de uma política de qualificação de lideranças e estaria vinculado ao programa Salvador Capital Afro, apoiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O Executivo municipal argumenta que o objetivo é “fortalecer a gestão e a formulação de políticas públicas voltadas à economia criativa e à valorização da cultura afrodescendente”.

Apesar disso, o caso provocou reação imediata de setores políticos e de parte do funcionalismo. Servidores municipais apontam a ausência de critérios claros e isonômicos para seleção de beneficiários e questionam a legalidade do uso de verbas da cultura para custear cursos individuais de gestores.

Secretária da Fazenda também teve curso custeado

Além de Ana Paula Matos, o deputado Rosemberg citou o caso da secretária municipal da Fazenda, Giovanna Guiotti Testa Victer, que em setembro de 2025 recebeu autorização para o custeio de R$ 183,1 mil em um doutorado na Fundação Getulio Vargas (FGV). O pagamento, porém, foi suspenso por decisão liminar da 15ª Vara da Fazenda Pública de Salvador, após ação popular movida por um grupo de servidores municipais.

Rosemberg classificou as decisões como “incompatíveis com o cenário de desigualdade nos investimentos públicos” e cobrou transparência sobre os critérios de escolha dos beneficiários. “Investimento em gente é creche, posto de saúde, professor valorizado e regra igual para o servidor de carreira”, disse o parlamentar.

Repercussão e desgaste político

A polêmica gerou ampla repercussão nas redes sociais e reações da oposição na Câmara Municipal. Parlamentares afirmam que a prática reforça a percepção de desigualdade administrativa e pode comprometer a imagem da Prefeitura em ano pré-eleitoral, especialmente diante do contexto de contenção orçamentária em diversas áreas sociais.

Para analistas políticos, a crise de imagem pode afetar o capital político de Bruno Reis e de aliados que cogitam disputar cargos em 2026. O episódio soma-se a outras críticas sobre o uso de recursos públicos em programas com baixa transparência, tema recorrente em embates entre o Executivo municipal e a oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA).

Critérios técnicos e impessoais

O episódio reforça a necessidade de critérios técnicos e impessoais na aplicação de recursos públicos voltados à capacitação, especialmente em tempos de restrição fiscal e desigualdade salarial no serviço público. Embora a Prefeitura argumente que os cursos ampliam a qualificação de lideranças, a ausência de editais públicos e de critérios objetivos de seleção compromete a legitimidade da iniciativa. O caso expõe um conflito entre o interesse público e o privilégio institucional, evidenciando a importância do controle social e da fiscalização de gastos discricionários.


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