Cortejado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT), o prefeito José Ronaldo de Carvalho (União Brasil) vive um dos momentos mais expressivos de sua trajetória política. Aos 74 anos, no décimo mês de seu quinto mandato à frente da Prefeitura de Feira de Santana, enfrenta o desafio de romper o ciclo histórico de urbanização precária e consolidar uma gestão orientada por planejamento técnico, execução rigorosa e transparência administrativa.
O prestígio político do gestor foi evidenciado em 9 de outubro de 2025, quando dividiu o palco do poder em Maragogipe durante uma série de anúncios do governo federal para a Bahia. Na ocasião, foi assinada a autorização de financiamento pela Caixa Econômica Federal, viabilizando recursos voltados à modernização da infraestrutura urbana de Feira de Santana.
A nova etapa de governo combina articulação política ampliada com captação recorde de investimentos — cerca de R$ 542 milhões em operações de crédito e financiamentos internacionais, oriundos de dois financiamentos, voltados à modernização da infraestrutura. Trata-se de um marco sem precedentes para o município, que passa a dispor de recursos robustos para obras de mobilidade, drenagem pluvial, pavimentação e requalificação urbana.
Aproximação política e pragmatismo administrativo
A presença de José Ronaldo ao lado de Lula e Jerônimo foi interpretada por observadores políticos como um gesto de pragmatismo e maturidade institucional. Apesar de filiado ao União Brasil, o prefeito tem buscado alinhamento pragmático com programas federais e estaduais, apostando em uma agenda de cooperação administrativa que ultrapassa barreiras partidárias.
Fontes próximas ao governo estadual avaliam que a relação amistosa entre José Ronaldo e Jerônimo Rodrigues vem sendo cuidadosamente construída desde o início de 2025, com mediação de interlocutores locais e técnicos da área de infraestrutura. A postura conciliadora do prefeito reforça sua imagem de gestor experiente e articulador político, capaz de transitar entre campos ideológicos distintos em prol do desenvolvimento municipal.
Contexto e simbolismo
A assinatura do financiamento em Maragogipe também possui valor simbólico. Ao reconhecer a relevância de Feira de Santana como eixo logístico e econômico do interior baiano, o governo federal sinaliza disposição em fortalecer administrações locais bem avaliadas, independentemente de alinhamento partidário.
Para Lula, o gesto pode representar um movimento estratégico de aproximação com lideranças regionais de centro-direita em um cenário político cada vez mais fragmentado. Para José Ronaldo, o episódio reforça sua autoridade administrativa e influência no tabuleiro político estadual, abrindo espaço para novas alianças e sustentação de sua base na Câmara Municipal.
Capital político e articulação institucional
A habilidade política de José Ronaldo em dialogar com o governo federal e estadual, independentemente de filiações partidárias, tem sido central para o novo ciclo de investimentos. Após anos de distanciamento entre Feira e Brasília, o prefeito construiu uma ponte administrativa com o Palácio do Planalto e o Governo da Bahia, obtendo apoio direto do presidente Lula e do governador Jerônimo para benéfico da população feirense.
Em outubro de 2025, o Senado Federal aprovou operação de crédito de US$ 64 milhões (aproximadamente R$ 342 milhões) junto ao Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata). O recurso, com prazo de amortização de até 174 meses, será destinado a obras de mobilidade, drenagem urbana e melhoria da infraestrutura viária. Segundo o projeto técnico, as intervenções devem abranger corredores estruturantes, ampliação da rede de escoamento pluvial e requalificação de avenidas estratégicas.
Paralelamente, a Câmara Municipal de Feira de Santana autorizou nova operação de crédito de R$ 200 milhões com a Caixa Econômica Federal, dentro do Programa de Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa), voltada à duplicação de vias, drenagem e modernização de bairros periféricos. Somados, os financiamentos formam o maior pacote de obras municipais desde a emancipação política da cidade, em 1833.
Parcerias institucionais e valorização do patrimônio
Em gesto simbólico, o governo municipal recebeu do Governo da Bahia, em abril de 2025, as chaves do prédio histórico da Escola Maria Quitéria, na Praça Fróes da Motta, erguido em 1917. O edifício passará por restauração completa, abrigando futuramente a Secretaria de Cultura e o Centro de Referência do Patrimônio Histórico.
A ação demonstra que o prefeito busca aliar modernização à preservação da memória urbana, inserindo o restauro como elemento central de uma cidade que deseja crescer sem perder identidade.
“Feira precisa valorizar o passado enquanto constrói o futuro”, afirmou Ronaldo na ocasião.
Conjuntura política e projeções para 2026
A aproximação entre José Ronaldo, o presidente Lula e o governador Jerônimo Rodrigues transcende a esfera administrativa. Representa um rearranjo pragmático de forças regionais, com implicações diretas no tabuleiro eleitoral de 2026. Ao aceitar o diálogo com o campo petista, o prefeito sinaliza abertura à cooperação institucional e, simultaneamente, neutraliza a pressão partidária do União Brasil, que enfrenta divisões internas na Bahia e em Brasília.
No plano estadual, a presença de José Ronaldo ao lado de Lula e Jerônimo fortalece a narrativa de que Feira de Santana voltou ao centro da agenda federal de investimentos, após anos de distanciamento político. Esse gesto amplia a margem de interlocução do prefeito junto a ministros e bancadas federais, consolidando-o como interlocutor estratégico entre o interior e o Planalto.
Politicamente, o movimento pode ser interpretado como ensaio de transição, no qual o gestor busca reposicionar sua influência num cenário de sucessão municipal e eventual reconfiguração do poder local. Caso consiga concluir o ciclo de obras e manter a estabilidade fiscal, José Ronaldo deixará o cargo em 2028 como referência de administração municipal, apto a influenciar diretamente a escolha de seu sucessor, ou buscar renovar o mandato, hipótese mais provável, para. eventualmente, disputar novos espaços na política estadual nas Eleições de 2030.
No entanto, se as promessas de modernização ficarem restritas ao discurso, o desgaste pode abrir caminho para novas lideranças e alianças improváveis, diluindo a hegemonia construída desde 2001. Em um cenário de crescente polarização e vigilância pública, a gestão de José Ronaldo se tornará, inevitavelmente, um teste sobre a capacidade da política tradicional de renovar-se sem romper com seus próprios fundamentos.
O prefeito e o desafio de uma cidade moderna
Desde o primeiro mandato, iniciado em 1º de janeiro de 2001, José Ronaldo repete a mesma meta: dotar Feira de Santana de infraestrutura compatível com seu porte econômico. A cidade, segunda maior da Bahia e polo regional de comércio e serviços, cresceu rapidamente, mas de forma fragmentada e desordenada, com ruas estreitas, calçadas improvisadas e drenagem insuficiente.
Agora, com recursos inéditos à disposição, o desafio é executar obras que resistam ao tempo, com padrões técnicos superiores e respeito ao planejamento urbano. As prioridades incluem a duplicação da Avenida Artêmia Pires, a extensão da Fraga Maia até a BR-116, a requalificação da Avenida Tomé de Souza e a implantação de sistemas integrados de esgotamento sanitário e ciclovias.
“Feira precisa de obras que não sejam apenas asfalto e concreto. É preciso humanizar os espaços públicos, arborizar as vias e garantir calçadas amplas e acessíveis”, declarou Ronaldo em evento recente na Câmara Municipal, ao defender a aprovação do empréstimo com a Caixa.
Heranças urbanas e entraves históricos
Apesar da experiência administrativa e da reputação de gestor disciplinado, Ronaldo enfrenta obstáculos profundos. A cidade carrega décadas de urbanização improvisada, marcadas por ocupações irregulares, ausência de planejamento técnico e alianças permissivas com setores empresariais que avançaram sobre espaços públicos.
Em muitos bairros, condomínios foram erguidos em ruas estreitas, praças foram cercadas por construções privadas e calçadas transformadas em extensões comerciais, distorcendo a malha urbana e dificultando intervenções posteriores. Corrigir tais distorções exige engenharia de precisão e coragem política, uma vez que parte das intervenções implicará readequações legais e desapropriações.
O prefeito reconhece o desafio:
“Construir a infraestrutura antes que o descontrole urbanístico destrua o esforço público é o dever do gestor que olha para o futuro”, disse em discurso recente no Paço Maria Quitéria.
Engenharia, mobilidade e impacto social
Os projetos de engenharia preveem a integração de mobilidade, drenagem e esgotamento sanitário, evitando o erro crônico de obras desconectadas. Técnicos municipais destacam que cada avenida será acompanhada por rede de drenagem pluvial e ciclovias, além de iluminação moderna e arborização planejada.
A expectativa é de que as intervenções gerem até 8 mil empregos diretos e indiretos, movimentando o setor da construção civil e ampliando a arrecadação municipal. O pacote também prevê recuperação de praças, reurbanização de bairros periféricos e implantação de calçadas acessíveis.
“Não basta expandir avenidas. É preciso oferecer qualidade de vida, garantir segurança viária e promover inclusão social”, declarou o secretário municipal de Obras durante audiência pública na Câmara Municipal.
Fiscalização, transparência e eficiência na execução
A fiscalização de contratos e aditivos será um dos eixos mais sensíveis da nova administração. Especialistas em gestão pública alertam que aditivos são instrumentos legítimos, mas podem indicar falhas de planejamento inicial ou execução deficiente. O prefeito prometeu rigor técnico e auditoria contínua, afirmando que “cada centavo será acompanhado e cada contrato será fiscalizado para que o dinheiro público produza resultado”.
Além da equipe da Secretaria de Infraestrutura, o município contará com apoio técnico do Fonplata e da Caixa Econômica Federal, responsáveis por supervisionar a aplicação dos recursos conforme normas internacionais de transparência e sustentabilidade.
Legado e vigilância pública
Após mais de duas décadas à frente do Executivo feirense, José Ronaldo de Carvalho busca consolidar um legado de modernização urbana e equilíbrio fiscal, fundamentos que sustentaram sua popularidade ao longo dos anos. O desafio agora é converter o crédito recentemente liberado em obras efetivas, duradouras e de impacto estruturante, capazes de redefinir a paisagem urbana e reafirmar sua condição de um dos gestores mais longevos e influentes da Bahia contemporânea.
Ao ingressar no quinto mandato, José Ronaldo encontra-se cercado por capital político expressivo, mas também por expectativas elevadas. O êxito de sua administração dependerá da eficiência técnica na gestão dos contratos, da celeridade na execução das obras e da observância rigorosa dos padrões de qualidade, elementos que raramente se sustentam de forma consistente nas administrações municipais brasileiras.
Nesse contexto, cabe à imprensa, ao Ministério Público e aos órgãos de controle exercer vigilância permanente sobre cada etapa dos processos licitatórios, de modo a prevenir desperdícios, sobrepreços e paralisações recorrentes. Reconhecido pela austeridade e pela retórica da probidade, o prefeito terá de demonstrar que o discurso de integridade é compatível com a prática administrativa, sobretudo quando submetido à prova concreta da execução.
Se conseguir entregar uma Feira de Santana mais moderna, arborizada e funcional, José Ronaldo poderá inscrever seu nome entre os gestores urbanos de referência, a exemplo de Jaime Lerner (1937–2021), cuja visão transformou Curitiba em modelo de planejamento urbano. Caso fracasse, o risco é ver a abundância de recursos converter-se em frustração coletiva, manchando um percurso político construído sobre disciplina, constância e pragmatismo administrativo.

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