Operação Sisamnes: PF revela fraudes bilionárias em recuperações judiciais do agronegócio e suspeita de venda de sentenças no STJ envolvendo a Fource Consultoria

A Polícia Federal revelou, na sexta-feira (14/10/2025), novos detalhes da Operação Sisamnes, que investiga um esquema bilionário de fraudes em recuperações judiciais do agronegócio, supostamente sustentado por corrupção de autoridades do Judiciário. O relatório aponta o grupo empresarial Fource como suposto articulador das irregularidades e indica a cooptação de juízes e lobistas ligados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para manipular decisões e beneficiar empresas endividadas.
Relatório da Polícia Federal aponta que grupo empresarial do setor do agronegócio teria montado rede de fraudes em processos de recuperação judicial, com suposta cooptação de juízes e lobistas ligados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Reportagem do Estadão, publicada na sexta-feira (10/10/2025) e assinada por Aguirre Talento, revela que a Polícia Federal (PF) identificou um sofisticado esquema de corrupção e manipulação de sentenças judiciais voltado a beneficiar empresas do agronegócio envolvidas em fraudes em processos de recuperação judicial.

A apuração integra o relatório parcial da Operação Sisamnes e tramita sob relatoria do ministro Cristiano Zanin, no Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com o documento, o grupo empresarial Fource aparece como suposto principal articulador das irregularidades, tendo mobilizado lobistas e magistrados ligados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para influenciar decisões e favorecer empresas endividadas.

As investigações indicam que falências e recuperações judiciais simuladas eram conduzidas com o apoio de autoridades cooptadas do Judiciário, que garantiam sentenças favoráveis em troca de vantagens indevidas. Segundo a PF, o esquema dependia da corrupção judicial sistêmica para conferir aparência de legalidade a operações artificiais, provocando prejuízos bilionários a credores reais e distorções no mercado de crédito rural.

Redomiciliações fictícias e juízos “ótimos”

O relatório descreve que as fraudes começavam com a manipulação da competência territorial, permitindo que os processos fossem direcionados a juízos complacentes, apelidados de “Juízos ótimos”. Para isso, eram realizadas redomiciliações fictícias, criação de filiais artificiais e conexões jurídicas simuladas. Assim, os empresários garantiam que os casos fossem julgados por magistrados previamente influenciados.

Em seguida, o grupo cooptava administradores judiciais para controlar o andamento das ações e inseria créditos falsos no processo, em nome de empresas do mesmo conglomerado. Esses créditos simulados criavam credores aliados, que manipulavam votações e permitiam a compra de dívidas com deságio artificial, distorcendo a concorrência e gerando ganhos ilegais.

Fraudes estruturadas com apoio judicial

A PF sustenta que o funcionamento do esquema dependia de decisões judiciais corrompidas, sem as quais as fraudes não teriam validade. “Por meio da influência em gabinetes, manipulação de minutas, antecipação de despachos e negociação extraprocessual de decisões, os atos fraudulentos adquiriam aparência de legitimidade”, afirma o relatório.

Ao final dos processos, as empresas beneficiadas evitavam o pagamento de dívidas, recompravam ativos desvalorizados e aumentavam seu patrimônio, causando danos a produtores rurais, bancos e fornecedores. A PF avalia que a fraude foi viabilizada por uma rede de intermediação entre empresários, magistrados e lobistas.

Depoimentos e conexões com o STJ

Um dos episódios citados envolve o produtor de algodão José Pupin, que admitiu à Justiça a existência de irregularidades em sua própria recuperação judicial. O caso revelou a conexão direta entre o grupo Fource e autoridades do STJ, incluindo supostos assessores e advogados que atuavam como intermediários de decisões.

A PF também identificou que o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves criou contatos falsos em seu telefone celular, atribuindo nomes de servidores do STJ a advogados, para simular influência política. Essa tática, segundo os investigadores, buscava intimidar credores e reforçar a percepção de poder do grupo junto à Corte.

Relator autoriza novas linhas de investigação

O ministro Cristiano Zanin, relator do inquérito, recebeu pedido da PF para ampliar a apuração e investigar novos personagens ligados ao esquema de venda de sentenças, incluindo a filha de um ministro do STJ. A ampliação das investigações reforça a tese de que o esquema possuía ramificações institucionais e não se limitava ao primeiro grau de jurisdição.

A Operação Sisamnes recebeu esse nome em referência ao juiz persa Sisamnes, que, segundo o historiador Heródoto, foi executado e esfolado vivo por corrupção no século VI a.C. O nome simboliza a punição exemplar contra juízes que traem a função pública.

Fource nega irregularidades e critica relatório da PF

A empresa Fource divulgou nota em que repudia as conclusões da Polícia Federal, afirmando que o relatório “se baseia em relações subjetivas, sem apresentar elementos concretos ou provas que sustentem as acusações”. A companhia acusa a PF de “denuncismo” e viés policialesco, argumentando que não teve acesso integral aos autos e que as conclusões seriam “levianas e desprovidas de respaldo probatório”.

Segundo a nota, o grupo “reafirma sua integridade e profissionalismo” e afirma ser alvo de um “grupo de credores que descumpriu obrigações e não tem legitimidade para questionar sua atuação”. A Fource diz confiar que “o Ministério Público e o Judiciário se atenham às provas, assegurando a verdade e a justiça”.

Delegado se afasta da investigação

O delegado Marco Bontempo, responsável pelo caso, solicitou afastamento do inquérito alegando motivos de saúde após entregar o relatório parcial. A PF, contudo, garantiu que as investigações prosseguem sob nova coordenação e que o material reunido será encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF) para análise de eventuais denúncias criminais.

O escândalo que desafia a credibilidade do Judiciário

A Operação Sisamnes expõe a vulnerabilidade estrutural do sistema judicial brasileiro, especialmente no controle de processos de recuperação e falência, que movimentam bilhões de reais e frequentemente escapam de auditoria efetiva. A suposta participação de magistrados e assessores de cortes superiores, como o STJ, aprofunda a crise de confiança institucional e reforça a necessidade de mecanismos de transparência, sorteio automatizado de relatorias e fiscalização independente.

Mais do que um caso isolado, o episódio aponta para uma cleptocracia judicial em formação, na qual decisões são convertidas em mercadoria, corroendo o princípio republicano e a segurança jurídica no país.

Leia +

Suposta rede oculta entre Fource e Bom Jesus expõe elo entre Operações Faroeste e Sisamnes e revela Sistema Faroeste de Corrupção Judicial no Brasil

Empresário José Pupin denuncia fraude bilionária em recuperação judicial; Fource Consultoria, investigada por venda de sentenças no STJ, é apontada como pivô do suposto esquema

Cleptocracia Autocrática Judicial e o Sistema Faroeste: A Operação Sisamnes como expressão de um padrão sistêmico


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.