PF abre nova frente de investigação sobre elo entre grupo J&F e lobista suspeito de vender decisões no STJ

A Polícia Federal abriu uma nova frente de investigação para apurar o vínculo entre o grupo J&F e o lobista Andreson Gonçalves, suspeito de vender decisões no STJ. Conversas e movimentações financeiras levantaram indícios de transferências milionárias entre a JBS e o escritório da esposa do lobista, Mirian Ribeiro. O caso está sob análise do ministro Cristiano Zanin, que decidirá sobre as próximas diligências.
PF investiga ligação entre o grupo J&F, dono da JBS, e lobista acusado de vender decisões no STJ. Relatório aponta transações milionárias e diálogos suspeitos; caso está sob relatoria de Cristiano Zanin no STF.

Reportagem de Aguirre Talento, publicada nesta sexta-feira (10/10/2025) no Estadão, revela que a Polícia Federal (PF) vai abrir uma nova linha de apuração para investigar a relação entre o grupo J&F, dono da JBS, e o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, apontado como intermediário em um suposto esquema de venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O relatório parcial do inquérito foi encaminhado nesta semana ao ministro Cristiano Zanin, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).

Nova linha de apuração atinge a J&F, controladora da JBS

De acordo com o documento, diálogos interceptados, movimentações financeiras e registros processuais sugerem que o lobista atuava em nome da J&F, conglomerado controlado pelos empresários Joesley e Wesley Batista. A PF identificou ainda que Mirian Ribeiro Gonçalves, esposa de Andreson e também investigada, foi constituída como advogada em ações da empresa no STJ, o que reforça a necessidade de aprofundamento da investigação.

A PF destacou que há evidências robustas de intermediação de interesses privados junto a gabinetes de ministros. Em um dos trechos do relatório, os investigadores afirmam que “as comunicações e as transações vinculadas ao casal apontam indícios de cooptação e tráfico de influência em instâncias superiores da Justiça”.

JBS confirma pagamentos, mas nega irregularidades

Procurada, a JBS confirmou ter contratado o escritório de Mirian Ribeiro, mas afirmou que os pagamentos se referem exclusivamente a honorários advocatícios. Em nota, a empresa declarou:

“Qualquer pagamento feito ao escritório da advogada se refere a honorários — êxito ou pró-labore — em processos da empresa. Todos os serviços possuem comprovação nos autos desses procedimentos. O escritório não presta mais serviços para a JBS.”

A companhia enfatizou que não possui qualquer relação comercial com Andreson de Oliveira e que repudia qualquer tentativa de vincular a empresa a práticas ilícitas. A defesa do lobista foi procurada pela reportagem, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.

Conversas e movimentações financeiras reforçam suspeitas

Em um dos diálogos transcritos no relatório, Andreson mencionou cifras milionárias e indicou que atuava a pedido do “pessoal do Sr. Zé Mineiro”, em referência a José Batista Sobrinho, fundador da JBS e pai dos irmãos Batista. Segundo a PF, o lobista teria recebido cerca de R$ 19 milhões por sua suposta intermediação em um processo que tramitava no STJ.

Paralelamente, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou transferências de R$ 15 milhões da JBS para o escritório de Mirian Ribeiro. As transações, consideradas atípicas pelos investigadores, serão analisadas em um procedimento investigativo autônomo.

“Diante da quantidade de informações que apontam para a relação de Andreson e Mirian Ribeiro com o Grupo JBS e da complexidade dos elementos probatórios, consigna-se que essa vertente será mais bem aprofundada em procedimento investigativo autônomo”, afirmou a PF no relatório.

Relação com delações da Lava Jato e histórico do grupo

Os irmãos Joesley e Wesley Batista já haviam sido investigados no âmbito da Operação Lava Jato e firmaram acordo de delação premiada em 2017, após revelarem esquemas de corrupção envolvendo políticos e agentes públicos. À época, o diretor jurídico do grupo, Francisco de Assis, também aderiu à colaboração e admitiu pagamentos a um advogado para tentar influenciar procuradores da República.

Apesar das confissões, parte das acusações foi posteriormente arquivada pela Justiça, e o grupo manteve sua atuação empresarial sob monitoramento de órgãos de controle. O novo inquérito, no entanto, reacende suspeitas sobre a persistência de práticas de influência indevida em tribunais superiores.

Zanin deve decidir sobre novas diligências

O relatório parcial da PF foi enviado ao ministro Cristiano Zanin, que conduz o inquérito no STF. Caberá a ele autorizar diligências complementares e definir se haverá desmembramento do caso para aprofundar as investigações específicas envolvendo o grupo J&F.

Segundo fontes próximas à apuração, a Polícia Federal estuda ampliar a coleta de provas, incluindo quebras de sigilo bancário e fiscal dos investigados e oitivas de ex-executivos do conglomerado. Caso sejam confirmados os indícios, o caso poderá configurar novo escândalo de corrupção no Judiciário, atingindo um dos maiores grupos empresariais do país.

Expansão do alcance da Operação Sisamnes

A abertura dessa nova linha de investigação pela Polícia Federal expande significativamente o alcance da Operação Sisamnes, que apura venda de decisões judiciais e tráfico de influência em tribunais superiores. A possível conexão entre o setor privado e lobistas infiltrados em cortes do Judiciário levanta questões profundas sobre governança, transparência e integridade institucional.

Além disso, a reincidência de nomes ligados a casos anteriores de corrupção — como os irmãos Batista e seus assessores — reforça a percepção de fragilidade nos mecanismos de controle interno das empresas e das próprias instâncias judiciais. Se confirmadas as suspeitas, o caso pode representar um novo marco no debate sobre o poder econômico e sua interferência na justiça brasileira.

Tabela Cronológica: Caso J&F, JBS e suposta venda de decisões no STJ

Data / Período Evento / Fato Relevante Personagens Envolvidos Valor ou Transação Identificada Observações e Contexto
2017 Joesley e Wesley Batista firmam acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato, após confessarem pagamentos ilícitos a agentes públicos. Joesley e Wesley Batista, Francisco de Assis (diretor jurídico da J&F) Parte das acusações foi arquivada posteriormente; grupo passou a ser monitorado por órgãos de controle.
2018–2019 Mirian Ribeiro Gonçalves é constituída como advogada em processos da J&F/JBS no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mirian Ribeiro Gonçalves, Andreson Gonçalves, Grupo J&F A atuação da advogada passa a integrar o núcleo sob suspeita de intermediação de decisões.
2020 Andreson de Oliveira Gonçalves mantém diálogos interceptados pela PF mencionando valores expressivos e vínculos com o “pessoal do Sr. Zé Mineiro”, referência a José Batista Sobrinho, fundador da JBS. Andreson Gonçalves, José Batista Sobrinho Conversas sugerem influência sobre processos estratégicos da empresa no STJ.
2021 COAF identifica movimentações atípicas entre contas da JBS e do escritório de Mirian Ribeiro Gonçalves. Mirian Ribeiro, JBS R$ 15 milhões Transferências sob investigação; JBS alega tratar-se de honorários advocatícios.
2022 PF amplia escutas e relatórios financeiros envolvendo Andreson e Mirian. PF, Andreson, Mirian Conjunto de provas indica possível venda de decisões judiciais e tráfico de influência em cortes superiores.
2023 Em novos diálogos, Andreson afirma ter recebido R$ 19 milhões por atuação em processo no STJ. Andreson Gonçalves R$ 19 milhões (suposto pagamento) A origem do valor é atribuída, segundo o próprio, à intermediação para o grupo J&F.
Julho/2024 PF conclui etapa preliminar da Operação Sisamnes, mapeando vínculos entre lobistas, advogados e empresários. PF, STJ, Ministério Público Federal A linha investigativa sobre a J&F ainda não havia sido formalizada.
Outubro/2025 Relatório parcial é entregue ao ministro Cristiano Zanin (STF), com pedido de abertura de nova frente de apuração sobre a J&F e a JBS. PF, Cristiano Zanin, J&F, Andreson, Mirian Caso passa a tramitar em procedimento investigativo autônomo sob relatoria do STF.
Próximos passos (2025–2026) Zanin deve decidir sobre novas diligências, incluindo quebra de sigilo bancário e fiscal, oitivas de executivos e coleta de provas adicionais. STF, PF, Grupo J&F, Coaf Possibilidade de desdobramento em novo inquérito criminal envolvendo corrupção judicial e influência privada no STJ.

Síntese dos valores identificados

Origem / Destino Natureza da Operação Valor (R$) Período aproximado Situação atual
JBS → Escritório de Mirian Ribeiro Gonçalves Transferência bancária (supostos honorários) 15.000.000 2021 Sob análise da PF e Coaf
J&F → Andreson Gonçalves Pagamento mencionado em diálogo (sem comprovante formal) 19.000.000 2023 Investigação em andamento
Honorários advocatícios gerais (segundo JBS) Pagamentos contratuais por êxito e pró-labore 2018–2022 Empresa alega legalidade e comprovação nos autos

Continuidade temporal e financeira

A cronologia evidencia suposta continuidade temporal e financeira nas relações entre o grupo J&F e os investigados, sugerindo persistência de redes de influência entre o setor privado e o Judiciário. As movimentações bilionárias do conglomerado, associadas a diálogos comprometedores e transações atípicas, compõem um quadro de possível tráfico de influência institucionalizado, agora sob o crivo direto do Supremo Tribunal Federal.

Principais Dados

1. Fato central

  • A Polícia Federal (PF) abriu uma nova frente de investigação no caso de venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
  • O foco é apurar o vínculo entre o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves e o grupo J&F, controlador da JBS.
  • O relatório parcial foi encaminhado ao ministro Cristiano Zanin (STF), relator do inquérito.

2. Personagens principais

  • Andreson de Oliveira Gonçalves — lobista investigado por supostamente intermediar venda de decisões no STJ.
  • Mirian Ribeiro Gonçalves — advogada e esposa de Andreson; atuou em processos da J&F e recebeu pagamentos da JBS.
  • Joesley e Wesley Batista — empresários e donos do grupo J&F, controladores da JBS.
  • José Batista Sobrinho (Zé Mineiro) — fundador da JBS, citado em diálogos interceptados pela PF.
  • Cristiano Zanin — ministro do STF e relator do inquérito sobre o caso.
  • Francisco de Assis — ex-diretor jurídico da J&F, delator na Operação Lava Jato.

3. Valores e transações financeiras

  • R$ 19 milhões — valor mencionado por Andreson em diálogo, supostamente recebido por sua atuação em processo no STJ.
  • R$ 15 milhões — montante identificado pelo Coaf como transferências da JBS para o escritório de Mirian Ribeiro Gonçalves.
  • Honorários advocatícios — JBS afirma que os pagamentos foram legais, referentes a êxito e pró-labore em processos judiciais.

4. Elementos investigativos

  • Provas citadas:
    • Diálogos interceptados envolvendo Andreson.
    • Registros de contratos e atuação da advogada Mirian em causas da J&F.
    • Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre transferências atípicas.
  • Medidas em curso:
    • Abertura de procedimento investigativo autônomo.
    • Possíveis quebras de sigilo bancário e fiscal.
    • Ampliação da coleta de provas e oitiva de ex-executivos da J&F.

5. Contexto judicial

  • Operação Sisamnes — investigação que apura tráfico de influência e venda de decisões em tribunais superiores.
  • STJ (Superior Tribunal de Justiça) — foco do suposto esquema de intermediação de sentenças.
  • STF (Supremo Tribunal Federal) — foro de tramitação do inquérito, sob relatoria de Cristiano Zanin.
  • Operação Lava Jato (2017) — antecedente que já envolveu os irmãos Batista e o diretor jurídico Francisco de Assis em delações premiadas.

6. Declarações oficiais

  • Nota da JBS:
    • Pagamentos legais, referentes a honorários de processos.
    • Serviços devidamente comprovados nos autos.
    • Escritório de Mirian Ribeiro não presta mais serviços à empresa.
  • Defesa de Andreson:
    • Não se manifestou até o fechamento da reportagem.

7. Implicações e possíveis desdobramentos

  • Ampliação do inquérito pode alcançar executivos do grupo J&F e membros do Judiciário.
  • Caso pode representar novo escândalo institucional envolvendo corrupção judicial.
  • Reabre debate sobre influência do poder econômico nas decisões de tribunais superiores.
  • Risco de danos à imagem do STJ e à credibilidade da Justiça brasileira.

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