Nesta sexta-feira (03/10/2025), a Polícia Federal (PF) cumpriu um mandado de busca e apreensão na residência do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, em Primavera do Leste (MT). Ele é investigado no âmbito da Operação Sisamnes, que apura um esquema de venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Andreson Gonçalves cumpre prisão domiciliar desde julho de 2025, por determinação do ministro Cristiano Zanin, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão foi expedida sob sigilo judicial, e a defesa do lobista afirmou não ter sido previamente comunicada sobre a nova medida. Desde então, a Polícia Federal deflagrou dez fases da Operação Sisamnes, que já revelou indícios de que o investigado tinha acesso antecipado a minutas de decisões e votos de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Prisão de ex-policial e novos desdobramentos
Durante as diligências, um ex-policial militar, que atuava como segurança de Gonçalves, foi preso em flagrante. As autoridades não detalharam os motivos da prisão, mantendo o andamento das apurações sob confidencialidade.
A Operação Sisamnes investiga uma ampla rede composta por lobistas, desembargadores de Mato Grosso, advogados e ex-servidores de quatro gabinetes do STJ, suspeitos de envolvimento em negociações ilegais de decisões judiciais e no acesso a informações processuais privilegiadas.
O papel central de Andreson Gonçalves
Nos autos do processo, o ministro Cristiano Zanin, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), destacou que há fortes indícios da atuação de Andreson de Oliveira Gonçalves como líder e articulador do esquema investigado. Em decisão anterior, o ministro registrou:
“Há nos autos consideráveis elementos apontando no sentido de que Andreson de Oliveira Gonçalves tinha função decisiva de comando e ingerência no suposto esquema de venda de decisões judiciais e de informações processuais privilegiadas, que envolveria, em tese, intermediadores, advogados e servidores públicos.”
Esse papel de comando, segundo os investigadores, teria permitido que Gonçalves operasse como elo estratégico entre empresários interessados em vantagens processuais e integrantes do Judiciário, assegurando benefícios em ações de alto impacto econômico.
PF aponta pagamento de propina a assessor do STJ
Em 12 de março de 2025, a Polícia Federal identificou que Gonçalves realizou transferências bancárias que somam R$ 4 milhões, destinadas ao pagamento de propina a um assessor do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O servidor teria atuado nos gabinetes de duas ministras da Corte. Trata-se da primeira prova material de repasses financeiros a funcionários do tribunal no âmbito da Operação Sisamnes, que apura suspeitas de corrupção sistêmica no Judiciário.
Preso desde novembro de 2024, Gonçalves responde a acusações de práticas ilícitas envolvendo não apenas o STJ, mas também outros tribunais. O relatório da PF detalhando as movimentações foi encaminhado ao ministro Zanin, que conduz o inquérito no STF. O documento tramita sob sigilo judicial, mas os detalhes agora revelados expõem a amplitude da rede de influência atribuída ao lobista.
As conclusões preliminares reforçam a gravidade das denúncias e ampliam a suspeita de que o segundo tribunal mais importante do país estaria vulnerável a esquemas de compra de decisões judiciais.
Citação de ministros e tramitação no STF
O caso tramita no STF porque há menções, ainda sob investigação, a magistrados do STJ supostamente envolvidos. Em despachos anteriores, o ministro Zanin reiterou que os autos demonstram de forma veemente a função de comando exercida por Gonçalves, centralizando contatos, repasses e negociações de informações processuais privilegiadas.
Na visão do relator, a atuação do lobista configuraria uma engrenagem organizada para influenciar decisões no STJ, com a participação de intermediários, advogados e servidores públicos. A descrição judicial coloca Gonçalves no centro de um suposto sistema paralelo de tráfico de influência e venda de sentenças, revelando a dimensão da crise institucional que a investigação busca esclarecer.
O que investiga a Operação Sisamnes
Deflagrada em 2024, a Operação Sisamnes foi batizada em referência a um juiz persa da Antiguidade que foi punido por corrupção, simbolizando o combate à venda de sentenças. As investigações revelaram uma rede de lobistas, advogados, empresários e desembargadores suspeitos de manipular processos no STJ e no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT).
Segundo a PF, o esquema envolvia a negociação de decisões judiciais favoráveis em troca de pagamentos milionários. Servidores de gabinetes do STJ também são citados por facilitar o acesso a informações processuais privilegiadas.
O inquérito tramita no STF porque ao menos um ministro do STJ foi mencionado nas investigações, o que impede que a apuração fique em instâncias inferiores.
Conexões com a Operação Faroeste e empresários envolvidos
A Operação Sisamnes se entrelaça com a Operação Faroeste, deflagrada em 2019, que investigou um esquema de grilagem e venda de sentenças na Bahia. Em comum, surgem os nomes de empresários e consultorias que aparecem em contratos suspeitos e operações financeiras vultosas.
Entre os investigados estão a Bom Jesus Agropecuária e a Fource Consultoria, que já haviam sido citadas em decisões da Faroeste e agora aparecem novamente como citados. A suspeita, segundo reportagens do UOL, Folha, Estadão e O Globo é de que os mesmos grupos tenham expandido seu raio de atuação para além da Bahia, alcançando gabinetes no STJ e no TJMT.
Esses vínculos evidenciam um padrão de corrupção sistêmica no Judiciário brasileiro, sustentado pela compra de decisões estratégicas em setores como agronegócio, mercado imobiliário e cobrança de dívidas milionárias. Esse fenômeno foi conceituado como Sistema Faroeste de Corrupção no Judiciário (SFCJ), que integra a lógica de uma Cleptocracia Autocrática Judicial no Brasil (CAJB), nos termos da análise do jornalista e cientista social Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia.
Impacto institucional e risco de descrédito no Judiciário
A Operação Sisamnes expõe um cenário delicado para o sistema de Justiça brasileiro. O envolvimento de altos magistrados e a intermediação de lobistas em suposta venda de sentenças afetam diretamente a credibilidade das instituições judiciais. A menção a ministros do STJ e a suspeita de participação de servidores da própria Corte reforçam questionamentos sobre a eficácia dos mecanismos de controle interno e de responsabilização disciplinar no Judiciário.
Essa investigação amplia o debate público sobre corrupção sistêmica no sistema judicial e a necessidade de maior transparência nas decisões de tribunais superiores. O caso também pressiona o STF a agir com rigor para não alimentar percepções de impunidade em casos que atingem as cúpulas do poder.
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