Reportagem de José Marques, publicada em 1º de setembro de 2025 no jornal Folha de S.Paulo, revela que a Polícia Federal encontrou novas minutas de votos de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) durante as análises de aparelhos apreendidos na Operação Sisamnes, investigação que apura um suposto esquema de venda de decisões judiciais na cúpula do Judiciário brasileiro. As descobertas envolvem arquivos atribuídos a gabinetes de quatro ministros e devem compor um relatório parcial que será encaminhado ao ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável por supervisionar as apurações.
Novos documentos reforçam suspeitas sobre manipulação de decisões
De acordo com o relatório preliminar, ao menos 15 novos documentos foram localizados em dispositivos eletrônicos do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves e do advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023. As mensagens trocadas entre ambos desencadearam a Operação Sisamnes, deflagrada pela PF para investigar corrupção, tráfico de influência e exploração de prestígio em tribunais superiores e estaduais.
Os peritos identificaram minutas relacionadas a decisões dos gabinetes dos ministros Antônio Carlos Ferreira, João Otávio de Noronha, Marco Buzzi e Ricardo Villas Bôas Cueva. Embora os nomes dos ministros sejam citados nos relatórios, a PF destaca que as investigações, até o momento, não envolvem diretamente os magistrados, mas sim assessores e servidores com acesso interno aos sistemas do tribunal.
Vazamentos e suspeitas de falsificação de documentos
As análises revelaram ainda a existência de modelos supostamente falsificados de decisões do ministro Og Fernandes, que, segundo a PF, nunca foram proferidas oficialmente. A suspeita é que o lobista Andreson tenha utilizado os documentos falsos para extorquir empresários e negociar vantagens indevidas, utilizando o nome de ministros como forma de pressão.
Outro caso citado envolve uma minuta de voto do ministro Marco Buzzi, referente a uma disputa fundiária em Mato Grosso. O arquivo, datado de outubro de 2018, apresenta trechos idênticos à decisão que viria a ser publicada apenas em dezembro do mesmo ano, sugerindo possível acesso antecipado a material sigiloso. Situação semelhante foi identificada em uma minuta de Ricardo Villas Bôas Cueva, anterior a julgamento na Terceira Turma do STJ.
Repercussões no STJ e respostas dos magistrados
Os ministros Cueva e Noronha não se manifestaram até o fechamento da matéria. Já Antônio Carlos Ferreira informou que, desde o ano anterior, solicitou à presidência do STJ a abertura de investigação interna sobre o vazamento de uma minuta de seu gabinete, mencionada em relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Em nota, Marco Buzzi declarou que desconhece qualquer vazamento e explicou que minutas de projetos de decisão são disponibilizadas em sistema interno do tribunal. O magistrado afirmou que o processo em questão foi julgado de forma colegiada e unânime, “no sentido proposto pelo ministro Marco Buzzi”.
O gabinete de Noronha já é investigado por outro episódio de vazamento de informações sigilosas, assim como o do ministro Mauro Campbell. Ambos negaram irregularidades, e o STJ determinou a abertura de uma sindicância para apurar a conduta de servidores que teriam acesso privilegiado a dados internos.
Contexto da Operação Sisamnes e desdobramentos
Deflagrada em novembro de 2024, a Operação Sisamnes tem como objetivo investigar crimes de corrupção, violação de sigilo funcional e organização criminosa. Na ocasião, foram cumpridos 23 mandados de busca e apreensão e um de prisão preventiva, atingindo advogados, lobistas, empresários e servidores públicos com suspeitas de envolvimento em negociações ilícitas de sentenças judiciais.
A PF apura se o grupo cobrava valores expressivos para influenciar decisões em processos de grande impacto econômico, além de intermediar informações confidenciais de operações policiais. Parte das provas coletadas em buscas anteriores ainda passa por análise técnica, sob supervisão direta do ministro Cristiano Zanin, relator do inquérito no STF.
Impactos institucionais e desafios à credibilidade do Judiciário
As descobertas ampliam o alcance da crise de credibilidade enfrentada pelo Superior Tribunal de Justiça, já sob escrutínio por casos de vazamentos, manipulação de votos e suspeitas de tráfico de influência. O tribunal abriu investigações internas em nove gabinetes, incluindo os dos ministros Isabel Gallotti, Nancy Andrighi, Moura Ribeiro e Og Fernandes, para apurar responsabilidades administrativas.
Especialistas ouvidos por veículos de imprensa destacam que a exposição de minutas sigilosas e a falsificação de documentos judiciais representam grave violação da segurança institucional, atingindo o núcleo de confiança do sistema judicial. A análise da PF deve reforçar a necessidade de protocolos digitais de rastreabilidade e controle de acesso nos sistemas internos do STJ.
Segue a organização dos principais dados da reportagem em categorias temáticas, estruturada de modo a facilitar a compreensão investigativa e a aplicação em infográficos, dossiês ou relatórios analíticos:
1. Contexto da Investigação
- Operação: Sisamnes (deflagrada em novembro de 2024)
- Órgão responsável: Polícia Federal (PF)
- Supervisão judicial: Ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF)
- Objeto da apuração: Suposto esquema de venda de decisões judiciais e vazamento de informações sigilosas dentro do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
- Crimes investigados:
- Corrupção
- Organização criminosa
- Exploração de prestígio
- Violação de sigilo funcional
- Tráfico de influência
2. Novas Descobertas da PF
- Número de documentos localizados: 15 novas minutas de votos de ministros do STJ
- Fontes dos materiais:
- Dispositivos eletrônicos apreendidos com Andreson de Oliveira Gonçalves (lobista)
- Equipamentos de Roberto Zampieri (advogado, assassinado em dezembro de 2023)
- Local de análise: Laboratório de perícia da PF
- Status: Documentos integrados ao relatório parcial a ser encaminhado ao STF
3. Ministros e Gabinetes Citados
- Antônio Carlos Ferreira — mencionou ter solicitado investigação interna ao STJ.
- João Otávio de Noronha — envolvido também em apuração sobre vazamentos anteriores.
- Marco Buzzi — nega irregularidades; defende que minutas circulam internamente.
- Ricardo Villas Bôas Cueva — citado em análise de minuta anterior ao julgamento da Terceira Turma.
- Og Fernandes — PF encontrou minutas falsificadas atribuídas a seu nome.
- Isabel Gallotti, Nancy Andrighi, Moura Ribeiro e Mauro Campbell — já citados em apurações paralelas sobre vazamento de informações.
4. Elementos de Prova Identificados
- Tipos de arquivos: minutas, mensagens, cópias de votos e decisões simuladas.
- Período dos arquivos: entre 2018 e 2023.
- Conteúdos relevantes:
- Minuta de voto de Marco Buzzi (outubro de 2018) idêntica à decisão final publicada em dezembro.
- Minuta de Villas Bôas Cueva anterior ao julgamento da Terceira Turma.
- Minuta de Noronha referente a caso já julgado.
- Documento de Og Fernandes supostamente falsificado.
5. Declarações e Reações
- Antônio Carlos Ferreira: pediu investigação formal sobre vazamento.
- Marco Buzzi: afirmou desconhecer vazamento e destacou julgamento colegiado.
- Cueva e Noronha: não se manifestaram.
- Defesa de Andreson Gonçalves: declarou que só se pronunciará nos autos.
- STJ: instaurou investigações internas em ao menos nove gabinetes.
6. Pessoas e Entidades Investigadas
- Lobista: Andreson de Oliveira Gonçalves — suspeito de intermediar decisões e falsificar minutas.
- Advogado: Roberto Zampieri — morto em dezembro de 2023; mensagens com Andreson deram origem à operação.
- Outros alvos: assessores, chefes de gabinete, empresários e magistrados.
7. Medidas Policiais e Judiciais
- Mandados cumpridos (nov/2024):
- 23 de busca e apreensão
- 1 de prisão preventiva
- Instituições envolvidas: PF, STJ, CNJ, STF
- Próximo passo: envio de relatório parcial ao ministro Cristiano Zanin com novas evidências.
8. Impactos e Consequências Institucionais
- Efeitos imediatos:
- Aumento da pressão por transparência e rastreabilidade digital no STJ.
- Ampliação da crise de credibilidade do Judiciário.
- Questionamentos sobre autonomia e controle interno dos gabinetes.
- Risco institucional: enfraquecimento da confiança pública no sistema judicial brasileiro.
9. Fontes e Veículos de Referência
- Fontes primárias: relatórios e perícias da Polícia Federal.
- Fontes secundárias: O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo, que confirmaram as informações.
- Referência institucional: relatórios do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
10. Síntese Final
- A Operação Sisamnes expõe vulnerabilidades sistêmicas no STJ, com indícios de venda de decisões, vazamentos e falsificação de minutas.
- O caso reforça a necessidade de controle externo efetivo e transparência administrativa.
- O relatório parcial da PF, sob análise de Cristiano Zanin, pode redefinir os rumos da apuração e influenciar futuras reformas no sistema judicial brasileiro.
Linha do Tempo da Operação Sisamnes e das novas descobertas da PF
| Data | Fato / Evento | Personagens Envolvidos | Descrição e Relevância |
|---|---|---|---|
| Outubro de 2018 | Elaboração de minuta de voto do ministro Marco Buzzi sobre disputa fundiária em Mato Grosso | Marco Buzzi, assessores do gabinete | Documento interno apresenta trechos idênticos à decisão final publicada dois meses depois, levantando suspeita de acesso antecipado a informações sigilosas. |
| Dezembro de 2018 | Publicação do voto final no STJ | Marco Buzzi | Voto unânime confirma o sentido da minuta anterior; PF considera o caso indício de vazamento interno. |
| 2020–2023 | Trânsito de mensagens e arquivos entre lobista e advogado | Andreson de Oliveira Gonçalves e Roberto Zampieri | Trocas de mensagens sugerem oferta de decisões judiciais e intermediação de interesses privados em gabinetes do STJ. |
| Dezembro de 2023 | Assassinato de Roberto Zampieri | — | Advogado é morto em circunstâncias ainda sob apuração; sua morte acelera o avanço das investigações sobre corrupção no Judiciário. |
| Janeiro de 2024 | PF apreende aparelhos eletrônicos de Andreson e Zampieri | Polícia Federal | Análise inicial das mídias revela minutas de decisões e comunicações suspeitas envolvendo o STJ. |
| Novembro de 2024 | Deflagração da Operação Sisamnes | Polícia Federal, STF, STJ | Cumpridos 23 mandados de busca e apreensão e 1 de prisão preventiva; foco em advogados, lobistas, empresários e servidores ligados a suposto esquema de venda de decisões judiciais. |
| Dezembro de 2024 | STJ e CNJ iniciam apurações internas | Presidência do STJ, CNJ | Primeiras sindicâncias abertas para investigar gabinetes e servidores mencionados nos relatórios da PF. |
| Março de 2025 | PF identifica modelos falsificados de decisões atribuídas ao ministro Og Fernandes | Og Fernandes, Andreson Gonçalves | Polícia Federal conclui que decisões jamais foram proferidas; falsificações teriam sido usadas para extorsão de empresários. |
| Maio de 2025 | PF confirma minuta de voto antecipada de Ricardo Villas Bôas Cueva | Cueva, Terceira Turma do STJ | Documento encontrado antecede julgamento formal, sugerindo quebra de sigilo processual. |
| Junho de 2025 | PF inclui em relatório minuta de decisão de João Otávio de Noronha | Noronha | Caso já havia sido julgado, mas arquivo interno levanta suspeita de manipulação documental. |
| Agosto de 2025 | Antônio Carlos Ferreira pede investigação interna sobre vazamento | Ferreira, Presidência do STJ | Ministro afirma ter solicitado formalmente apuração do vazamento de minuta de seu gabinete. |
| Setembro de 2025 | PF encontra 15 novas minutas de votos de ministros em equipamentos analisados | Andreson de Oliveira Gonçalves, Roberto Zampieri, ministros do STJ | Achados ampliam o escopo da investigação e serão encaminhados em relatório ao ministro Cristiano Zanin, do STF. |
| Setembro de 2025 | Relatório parcial da PF é preparado para envio ao STF | PF, Ministro Cristiano Zanin | Documento reúne indícios de corrupção, falsificação e violação de sigilo funcional, reforçando a gravidade do caso. |
| Situação atual (outubro de 2025) | STJ mantém investigações internas em nove gabinetes | Isabel Gallotti, Nancy Andrighi, Moura Ribeiro, Og Fernandes, Noronha, Cueva, Buzzi, Ferreira, Campbell | Tribunal busca identificar responsabilidades administrativas e corrigir falhas de segurança nos sistemas internos. |
Linha do Tempo da Operação Sisamnes
05/12/2023 (terça-feira) — Homicídio de Roberto Zampieri em Cuiabá (MT). O advogado, peça central na gênese da apuração, é executado a tiros ao sair do escritório. O caso se torna um gatilho probatório para a PF mapear trocas de mensagens e eventuais intermediações envolvendo decisões judiciais.
26/11/2024 (terça-feira) — Deflagração da Operação Sisamnes. PF mira um suposto esquema de venda de sentenças/votos envolvendo advogados, lobistas, empresários e servidores ligados a gabinetes do STJ. Mandados são cumpridos; há prisão preventiva de Andreson de Oliveira Gonçalves.
18/03/2025 (terça-feira) — Nova frente: vazamento de informações sigilosas. PF apura venda de dados internos do STJ em ramificação no Tocantins; confirma que as fases de 2024 miraram o núcleo de intermediação.
13/05/2025 (terça-feira) — Operação complementar. Decisão do ministro Cristiano Zanin ressalta que não há, até então, indícios de envolvimento direto de ministros; alvos principais seguem sendo intermediários e servidores.
28/05/2025 (quarta-feira) — Prisões por homicídio de Zampieri (7ª fase). PF prende cinco suspeitos de participação no assassinato; a linha investigativa conecta homicídio, espionagem e negociação de decisões.
01/09/2025 (segunda-feira) — PF localiza novas minutas de votos de ministros. Em celulares de Andreson e de Zampieri, peritos encontram minutas associadas a gabinetes de Antônio Carlos Ferreira, João Otávio de Noronha, Marco Buzzi e Ricardo Villas Bôas Cueva; hipótese de acesso indevido e circulação antecipada de conteúdos.
15/09/2025 (segunda-feira) — Casos ligados a Zampieri ganham triagem específica. PF amplia a checagem de processos conectados ao ex-advogado/lobista no STJ e no TJ/MT.
03/10/2025 (sexta-feira) — Nova busca na casa do lobista. Polícia cumpre mandado e relembra que Andreson fora preso preventivamente em 26/11/2024; investigação segue por organização criminosa, corrupção, exploração de prestígio e violação de sigilo.
04/10/2025 (sábado) — Desdobramento operacional noticiado. Veículos registram cumprimento de mandado e prisão de ex-policial ligada ao entorno do lobista, reforçando a continuidade das diligências.
10/10/2025 (sexta-feira) — Relação com J&F/JBS entra no foco. Relatórios apontam acesso de Andreson a minuta de voto de relatoria de Nancy Andrighi, ainda não pública, em processo envolvendo o grupo J&F; PF abre frente específica sobre o elo financeiro/relacional.
10/10/2025 (sexta-feira) — Mudança no comando da investigação. Delegado da PF Marco Bontempo deixa o caso por motivos pessoais e entrega relatório de transição; inquéritos já citam gabinetes de nove ministros e ao menos um servidor foi exonerado.
Progressão de um esquema
A linha cronológica evidencia a progressão de um esquema que evoluiu de trocas de mensagens informais entre lobistas e advogados para um escândalo de alcance institucional, envolvendo minutas vazadas, falsificações e indícios de venda de decisões judiciais.
O relatório parcial da PF, a ser entregue ao ministro Cristiano Zanin, marcará a transição para uma nova fase da investigação, com potencial para redesenhar os mecanismos de controle e transparência do STJ.
Fragilidades de segurança
O avanço das investigações da Operação Sisamnes expõe, de forma inédita, as fragilidades de segurança e integridade no funcionamento de gabinetes de ministros de tribunais superiores. Embora ainda não haja indícios diretos de envolvimento dos magistrados, o caso revela um ambiente vulnerável à infiltração de interesses privados, onde a circulação de minutas, antes restrita, parece ter sido corrompida por práticas de intermediação política e econômica.
A ausência de respostas imediatas de parte dos ministros, somada à lentidão das sindicâncias internas, amplia a percepção pública de autoproteção corporativa dentro do sistema judicial. O episódio reforça a urgência de transparência administrativa e controle externo efetivo, sob risco de aprofundar a erosão da confiança social no Judiciário brasileiro.
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