Presidente Lula prevê acordo com Donald Trump para encerrar tarifaço dos EUA e reforça diplomacia com Ásia e COP30

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de entrevista coletiva à imprensa brasileira e internacional, durante missão oficial na Malásia, abordando temas de política externa, comércio internacional e cooperação entre países do Sul Global.

Em tom otimista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta segunda-feira (27/10/2025) que o impasse comercial com os Estados Unidos deve ser resolvido “em poucos dias”. O anúncio foi feito em Kuala Lumpur, na Malásia, após o encontro com Donald Trump durante a Cúpula da ASEAN, onde os dois líderes discutiram as tarifas de 50% aplicadas sobre produtos brasileiros.

Logo, logo não haverá problema entre Estados Unidos e Brasil. O que interessa numa mesa de negociação é o futuro. A gente não quer confusão, a gente quer resultado”, disse Lula, em entrevista à imprensa.

Relação bilateral baseada em respeito mútuo

O presidente reforçou que diferenças ideológicas não impedirão o avanço das negociações. Segundo ele, a conversa com Trump foi “franca e respeitosa”, e ambos reconheceram a importância de manter um diálogo construtivo entre as duas maiores democracias do Ocidente.

O fato de termos posições ideológicas diferentes não impede que dois chefes de Estado tratem a relação com muito respeito. Ele me respeita porque fui eleito pelo povo brasileiro, e eu o respeito porque foi eleito pelo povo americano”, afirmou Lula.

Negociações técnicas e cronograma de reuniões

O ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores), o secretário-executivo do MDIC, Márcio Rosa, e o embaixador Audo Faleiro participaram de reuniões nesta segunda-feira com o representante de Comércio dos EUA e o secretário do Tesouro norte-americano. Segundo Rosa, as equipes técnicas dos dois países definiram um cronograma de reuniões para buscar um acordo “satisfatório para ambas as partes”.

“Hoje estamos num cenário muito mais positivo do que estávamos há alguns dias”, disse Rosa, ao confirmar que os setores mais afetados pelas tarifas, como o aço, alumínio, carne e etanol, serão prioridade nas tratativas.

Lula rebate argumento de déficit comercial dos EUA

Durante o encontro, Lula apresentou a Trump um documento oficial contestando o argumento de que os Estados Unidos teriam déficit comercial com o Brasil — justificativa usada pela Casa Branca para impor as tarifas.

Em 15 anos, os Estados Unidos tiveram superávit de 410 bilhões de dólares no comércio com o Brasil. Só no último ano, o superávit americano foi de 22 bilhões. Em todo o G20, apenas três países geram saldo positivo para os EUA: Brasil, Reino Unido e Austrália”, destacou Lula.

Brasil aberto a discutir todos os temas

O presidente afirmou que não há temas proibidos nas negociações e que o Brasil está disposto a dialogar sobre todos os setores — inclusive minerais críticos, etanol, açúcar e terras raras.

Sou uma metamorfose ambulante na mesa de negociação. Coloque o que quiser que estou disposto a discutir todo e qualquer assunto”, brincou Lula, ao sinalizar flexibilidade nas conversas com Washington.

Diversificação comercial e multilateralismo

Lula reforçou que o Brasil continuará a ampliar suas parcerias internacionais, adotando postura de livre-comércio e multilateralismo. Destacou a importância de manter relações equilibradas com China, União Europeia e países da ASEAN, além de confirmar que o acordo Mercosul-União Europeia deve ser assinado até dezembro.

O nosso negócio é fazer negócio. Quero continuar tendo uma belíssima relação com todos os parceiros, porque o comércio é o caminho do desenvolvimento”, declarou.

Lei Magnitsky e diplomacia jurídica

No diálogo com Trump, Lula também abordou o uso da Lei Global Magnitsky, instrumento legal norte-americano que serviu de base para sanções a autoridades brasileiras, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal. O presidente considerou a medida “injusta” e afirmou que o Brasil “respeita o devido processo legal e não promove perseguições políticas”.

Agenda internacional: ASEAN e novos acordos no Sudeste Asiático

Além da reunião com Trump, Lula participou da 20ª Cúpula da Ásia do Leste e da 47ª Cúpula da ASEAN, fortalecendo o diálogo com países do Sudeste Asiático, como Indonésia, Malásia, Vietnã e Singapura. Foram firmados 15 acordos e memorandos de entendimento nas áreas de energia, semicondutores, agricultura sustentável e inovação tecnológica.

O chanceler Mauro Vieira destacou o apoio da Malásia à candidatura do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, e ressaltou a assinatura de um acordo estratégico no setor de semicondutores — setor em que a Malásia é o sexto maior exportador mundial.

Convite a Trump para participar da COP30 em Belém

Durante o encontro, Lula também convidou Trump para participar da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, em novembro de 2025. O presidente norte-americano havia retirado os EUA do Acordo de Paris, e Lula defendeu que “quem discorda deve ir para o debate, não fugir dele”.

Realismo diplomático e pragmatismo comercial

A postura adotada por Lula em Kuala Lumpur revela uma estratégia de pragmatismo diplomático diante do cenário global fragmentado. Ao mesmo tempo em que reafirma a soberania nacional, o presidente sinaliza disposição para negociar com todos os polos de poder, mantendo respeito institucional com Washington sem abrir mão da agenda de diversificação comercial.

A abordagem de Lula combina realismo econômico e diplomacia de resultados, buscando reconstruir pontes após as tensões provocadas pelas tarifas e pelas sanções da Lei Magnitsky. Resta observar se o discurso conciliador encontrará reciprocidade em Trump, cuja política externa é notoriamente volátil e condicionada por interesses eleitorais internos.


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