Tarifaço dos EUA e juros altos freiam economia baiana: arrecadação do ICMS cai 2% e indústria perde fôlego no 3º trimestre de 2025

A Bahia registrou queda de 2,01% na arrecadação de ICMS no terceiro trimestre de 2025, impactada pelo tarifaço norte-americano e pelos juros altos. Setores como petróleo, química e mineração foram os mais afetados, enquanto o varejo e supermercados sustentaram parte da receita. Especialistas defendem um plano estadual de reindustrialização e crédito para conter a perda de dinamismo econômico.
Relatório do Instituto dos Auditores Fiscais da Bahia (IAF Sindical) aponta desaceleração da economia estadual no terceiro trimestre de 2025, com impacto direto do tarifaço norte-americano e redução real de 2,01% na arrecadação do ICMS.

A economia da Bahia registrou retração no terceiro trimestre de 2025, refletindo o desempenho negativo do PIB nacional entre abril e julho, que só apresentou leve recuperação de 0,7% em agosto. Levantamento do Instituto dos Auditores Fiscais da Bahia (IAF Sindical) indica que o principal fator para a desaceleração foi o impacto do tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, atingindo diretamente parte da produção baiana de soja, algodão, cacau, celulose e derivados de petróleo.

Segundo o IAF Sindical, em nota enviada ao Jornal Grande Bahia (JGB) nesta segunda-feira (27/10/2025), o reflexo foi mais severo nos setores industrial e de serviços, especialmente em comunicações, energia e transportes. O resultado foi uma queda real de 2,01% na arrecadação do ICMS entre julho e setembro, totalizando R$ 10,24 bilhões, frente aos R$ 10,45 bilhões registrados no mesmo período de 2024. O imposto responde por cerca de 90% das receitas tributárias do Estado, sendo o principal termômetro da atividade econômica baiana.

Setores mais atingidos e contraste com o varejo

Entre os segmentos com maior retração destacam-se Petróleo (-4,17%), Indústria de Bebidas (-7,84%), Mineração e Derivados (-6,6%) e Indústria Química (-13,35%). O setor atacadista apresentou leve recuo de 1,12%, parcialmente compensado por avanço de 1,24% no Varejo e crescimento expressivo de 13,37% nos Supermercados, impulsionado pela estabilidade do consumo de alimentos, mesmo com a redução da demanda por bebidas e bens duráveis.

No acumulado de janeiro a setembro, a arrecadação do ICMS ainda registra ganho real de 1,94%, somando R$ 30,837 bilhões contra R$ 30,251 bilhões no mesmo período de 2024. O crescimento parcial é atribuído à recuperação de créditos tributários nos primeiros meses do ano, decorrente de programas de anistia fiscal, mas a tendência de desaceleração preocupa o setor público e a indústria local.

Juros altos e incerteza fiscal travam investimentos

Economistas e auditores apontam que a manutenção da taxa Selic em patamar elevado, com juros reais próximos de 10% ao ano, tornou-se um dos principais obstáculos à retomada do crescimento. O custo do crédito inibe o consumo de bens duráveis e restringe novos investimentos produtivos, enquanto a incerteza fiscal e o desequilíbrio das contas públicas desestimulam investidores e limitam a capacidade de geração de emprego e renda.

A crise enfrentada pela Braskem também é citada como fator de risco regional. Segundo Josias Menezes, diretor de Assuntos Econômicos e Financeiros do IAF Sindical, o alto custo da nafta e a falta de investimentos no Polo Petroquímico de Camaçari vêm provocando perda de competitividade e sucateamento da estrutura industrial, com reflexos diretos na economia baiana e na cadeia de fornecedores locais.

IAF propõe pacto estratégico para reindustrialização e crédito

Para enfrentar o cenário adverso, Menezes defende a criação de um plano estratégico de reindustrialização que envolva federações da indústria, comércio e agricultura, além de instituições de fomento como o SEBRAE, CIMATEC, Desenbahia e Banco do Nordeste. A proposta é canalizar recursos do BNDES, FINEP e FNE para novos empreendimentos e inovação tecnológica, fortalecendo a base produtiva estadual.

Sem crescimento econômico, não há como sustentar o aumento da arrecadação nem atender às demandas por infraestrutura e serviços públicos de qualidade”, alertou Menezes.

Ele também ressaltou a importância de fortalecer órgãos de pesquisa e extensão rural, garantindo suporte técnico e crédito para produtores locais diante da volatilidade internacional e das barreiras impostas pelo tarifaço.

Vulnerabilidade estrutural

A queda na arrecadação estadual reflete um fenômeno mais amplo: a vulnerabilidade estrutural da economia baiana frente à política comercial dos Estados Unidos e ao modelo de juros elevados no Brasil. Enquanto a expansão do varejo demonstra a resiliência do consumo popular, a erosão da base industrial e a dependência de commodities exportáveis evidenciam um modelo desequilibrado de desenvolvimento. A ausência de uma política industrial robusta e a morosidade nas decisões de crédito público reforçam o desafio de construir uma economia mais diversificada e menos suscetível a choques externos.

Principais dados

Indicadores Gerais de Desempenho

  • Período analisado: julho a setembro de 2025 (3º trimestre)
  • Queda real na arrecadação do ICMS: -2,01%
  • Valor arrecadado: R$ 10,24 bilhões (2025) x R$ 10,45 bilhões (2024)
  • Peso do ICMS: cerca de 90% das receitas tributárias da Bahia
  • Acumulado de janeiro a setembro: R$ 30,837 bilhões
  • Crescimento acumulado do ICMS (jan–set): +1,94%

Setores Econômicos Mais Afetados

  • Petróleo: -4,17%
  • Indústria de Bebidas: -7,84%
  • Mineração e Derivados: -6,6%
  • Indústria Química: -13,35%
  • Atacado: -1,12%
  • Varejo: +1,24%
  • Supermercados: +13,37%

Fatores Econômicos e Estruturais

  • Causa principal da retração: tarifaço dos EUA sobre exportações brasileiras
  • Produtos impactados: soja, algodão, cacau, celulose e derivados de petróleo
  • Selic elevada: juros reais próximos de 10% ao ano
  • Efeitos: retração no crédito, consumo e novos investimentos
  • Incerteza fiscal e contas públicas desequilibradas agravam o cenário

Crise Industrial e Setorial

  • Braskem: enfrenta custos altos da nafta e falta de investimento
  • Polo Petroquímico de Camaçari: em processo de sucateamento
  • Perda de competitividade e de relevância industrial para a economia baiana

Propostas e Soluções Apontadas pelo IAF

  • Criação de plano estratégico de reindustrialização estadual
  • Integração institucional entre governo, setor produtivo e entidades de fomento
  • Envolvimento de federações da indústria, comércio e agricultura
  • Participação de SEBRAE, CIMATEC, Desenbahia e Banco do Nordeste
  • Financiamento por meio de BNDES, FINEP e FNE
  • Fortalecimento de órgãos de pesquisa e extensão rural

Aspectos da crise

  • A crise evidencia dependência de commodities e erosão da base industrial
  • O modelo de desenvolvimento permanece vulnerável a choques externos
  • Falta de política industrial sólida e lento acesso a crédito público
  • Necessidade de diversificação econômica e planejamento estratégico de longo prazo

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.