A economia da Bahia registrou retração no terceiro trimestre de 2025, refletindo o desempenho negativo do PIB nacional entre abril e julho, que só apresentou leve recuperação de 0,7% em agosto. Levantamento do Instituto dos Auditores Fiscais da Bahia (IAF Sindical) indica que o principal fator para a desaceleração foi o impacto do tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, atingindo diretamente parte da produção baiana de soja, algodão, cacau, celulose e derivados de petróleo.
Segundo o IAF Sindical, em nota enviada ao Jornal Grande Bahia (JGB) nesta segunda-feira (27/10/2025), o reflexo foi mais severo nos setores industrial e de serviços, especialmente em comunicações, energia e transportes. O resultado foi uma queda real de 2,01% na arrecadação do ICMS entre julho e setembro, totalizando R$ 10,24 bilhões, frente aos R$ 10,45 bilhões registrados no mesmo período de 2024. O imposto responde por cerca de 90% das receitas tributárias do Estado, sendo o principal termômetro da atividade econômica baiana.
Setores mais atingidos e contraste com o varejo
Entre os segmentos com maior retração destacam-se Petróleo (-4,17%), Indústria de Bebidas (-7,84%), Mineração e Derivados (-6,6%) e Indústria Química (-13,35%). O setor atacadista apresentou leve recuo de 1,12%, parcialmente compensado por avanço de 1,24% no Varejo e crescimento expressivo de 13,37% nos Supermercados, impulsionado pela estabilidade do consumo de alimentos, mesmo com a redução da demanda por bebidas e bens duráveis.
No acumulado de janeiro a setembro, a arrecadação do ICMS ainda registra ganho real de 1,94%, somando R$ 30,837 bilhões contra R$ 30,251 bilhões no mesmo período de 2024. O crescimento parcial é atribuído à recuperação de créditos tributários nos primeiros meses do ano, decorrente de programas de anistia fiscal, mas a tendência de desaceleração preocupa o setor público e a indústria local.
Juros altos e incerteza fiscal travam investimentos
Economistas e auditores apontam que a manutenção da taxa Selic em patamar elevado, com juros reais próximos de 10% ao ano, tornou-se um dos principais obstáculos à retomada do crescimento. O custo do crédito inibe o consumo de bens duráveis e restringe novos investimentos produtivos, enquanto a incerteza fiscal e o desequilíbrio das contas públicas desestimulam investidores e limitam a capacidade de geração de emprego e renda.
A crise enfrentada pela Braskem também é citada como fator de risco regional. Segundo Josias Menezes, diretor de Assuntos Econômicos e Financeiros do IAF Sindical, o alto custo da nafta e a falta de investimentos no Polo Petroquímico de Camaçari vêm provocando perda de competitividade e sucateamento da estrutura industrial, com reflexos diretos na economia baiana e na cadeia de fornecedores locais.
IAF propõe pacto estratégico para reindustrialização e crédito
Para enfrentar o cenário adverso, Menezes defende a criação de um plano estratégico de reindustrialização que envolva federações da indústria, comércio e agricultura, além de instituições de fomento como o SEBRAE, CIMATEC, Desenbahia e Banco do Nordeste. A proposta é canalizar recursos do BNDES, FINEP e FNE para novos empreendimentos e inovação tecnológica, fortalecendo a base produtiva estadual.
“Sem crescimento econômico, não há como sustentar o aumento da arrecadação nem atender às demandas por infraestrutura e serviços públicos de qualidade”, alertou Menezes.
Ele também ressaltou a importância de fortalecer órgãos de pesquisa e extensão rural, garantindo suporte técnico e crédito para produtores locais diante da volatilidade internacional e das barreiras impostas pelo tarifaço.
Vulnerabilidade estrutural
A queda na arrecadação estadual reflete um fenômeno mais amplo: a vulnerabilidade estrutural da economia baiana frente à política comercial dos Estados Unidos e ao modelo de juros elevados no Brasil. Enquanto a expansão do varejo demonstra a resiliência do consumo popular, a erosão da base industrial e a dependência de commodities exportáveis evidenciam um modelo desequilibrado de desenvolvimento. A ausência de uma política industrial robusta e a morosidade nas decisões de crédito público reforçam o desafio de construir uma economia mais diversificada e menos suscetível a choques externos.
Principais dados
Indicadores Gerais de Desempenho
- Período analisado: julho a setembro de 2025 (3º trimestre)
- Queda real na arrecadação do ICMS: -2,01%
- Valor arrecadado: R$ 10,24 bilhões (2025) x R$ 10,45 bilhões (2024)
- Peso do ICMS: cerca de 90% das receitas tributárias da Bahia
- Acumulado de janeiro a setembro: R$ 30,837 bilhões
- Crescimento acumulado do ICMS (jan–set): +1,94%
Setores Econômicos Mais Afetados
- Petróleo: -4,17%
- Indústria de Bebidas: -7,84%
- Mineração e Derivados: -6,6%
- Indústria Química: -13,35%
- Atacado: -1,12%
- Varejo: +1,24%
- Supermercados: +13,37%
Fatores Econômicos e Estruturais
- Causa principal da retração: tarifaço dos EUA sobre exportações brasileiras
- Produtos impactados: soja, algodão, cacau, celulose e derivados de petróleo
- Selic elevada: juros reais próximos de 10% ao ano
- Efeitos: retração no crédito, consumo e novos investimentos
- Incerteza fiscal e contas públicas desequilibradas agravam o cenário
Crise Industrial e Setorial
- Braskem: enfrenta custos altos da nafta e falta de investimento
- Polo Petroquímico de Camaçari: em processo de sucateamento
- Perda de competitividade e de relevância industrial para a economia baiana
Propostas e Soluções Apontadas pelo IAF
- Criação de plano estratégico de reindustrialização estadual
- Integração institucional entre governo, setor produtivo e entidades de fomento
- Envolvimento de federações da indústria, comércio e agricultura
- Participação de SEBRAE, CIMATEC, Desenbahia e Banco do Nordeste
- Financiamento por meio de BNDES, FINEP e FNE
- Fortalecimento de órgãos de pesquisa e extensão rural
Aspectos da crise
- A crise evidencia dependência de commodities e erosão da base industrial
- O modelo de desenvolvimento permanece vulnerável a choques externos
- Falta de política industrial sólida e lento acesso a crédito público
- Necessidade de diversificação econômica e planejamento estratégico de longo prazo
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