Na manhã desta quarta-feira (01/10/2025), a Polícia Federal, em conjunto com a Receita Federal, o Ministério Público da Bahia (Gaeco) e a Força Correcional Integrada da SSP/BA, deflagrou a Operação Estado Anômico, desdobramento da Operação El Patrón. O objetivo foi desarticular uma organização criminosa sofisticada, supostamente liderada pelo deputado estadual Kléber Cristian Escolano de Almeida (Binho Galinha), com base em Feira de Santana, mas com ramificações em Salvador e cidades vizinhas.
Foram cumpridos 10 mandados de prisão preventiva e 18 mandados de busca e apreensão, além da determinação judicial para o bloqueio de R$ 9 milhões em contas bancárias. Também foi suspensa a atividade de uma empresa utilizada no esquema de lavagem de capitais.
Deputado estadual apontado como líder do grupo
As investigações identificam como líder da organização criminosa o deputado estadual Kléber Cristian Escolano de Almeida (Binho Galinha), que segue foragido. Mesmo sob medidas cautelares impostas anteriormente, o parlamentar teria mantido o comando do grupo, utilizando empresas de fachada e laranjas para movimentar recursos ilícitos.
A rede criminosa é suspeita de atuar em diferentes frentes ilícitas, como jogo do bicho, agiotagem, extorsão, receptação qualificada, comércio ilegal de armas e associação para o tráfico de drogas.
Conexão com a Operação El Patrón
A Operação Estado Anômico é considerada um desdobramento da Operação El Patrón, deflagrada em 7 de dezembro de 2023. Na ocasião, o Ministério Público já havia apresentado denúncias contra 15 pessoas, incluindo o próprio deputado e familiares.
Apesar das denúncias e da ampla publicidade dos fatos, a Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) não tomou medidas efetivas para instaurar processo disciplinar contra o parlamentar. Esse vácuo institucional permitiu que o deputado continuasse exercendo influência política, aprofundando a crítica de conivência e omissão por parte do Legislativo estadual.
Estrutura sofisticada e aparato repressivo
Segundo a Polícia Federal, tratava-se de uma organização complexa, com capacidade de movimentar grandes volumes de recursos e ocultar sua origem ilícita.
A operação mobilizou 100 policiais federais, 11 auditores-fiscais e três analistas tributários da Receita Federal, evidenciando a gravidade das acusações e a necessidade de ação coordenada entre diferentes órgãos de fiscalização e segurança.
Caso sejam condenados, os investigados podem enfrentar penas superiores a 50 anos de prisão, considerando a soma dos crimes imputados.
A escolha do nome: “Estado Anômico”
O nome da operação remete ao conceito sociológico de “anomia”, formulado por Émile Durkheim. O termo descreve uma condição social marcada pelo enfraquecimento das normas e valores que regulam o comportamento coletivo, gerando desorientação e instabilidade.
Nesse contexto, a investigação simboliza não apenas um esforço repressivo contra o crime organizado, mas também a exposição da fragilidade institucional quando agentes políticos, detentores de mandato popular, estão envolvidos em redes criminosas.
Implicações políticas e institucionais
A presença de um deputado estadual no centro das investigações reabre o debate sobre a responsabilidade da ALBA na fiscalização de seus membros. Desde a deflagração da primeira fase da Operação El Patrón, havia elementos suficientes para que medidas administrativas fossem adotadas.
A omissão, contudo, resultou em manutenção da influência política do parlamentar e na expansão de sua rede de poder, o que compromete a credibilidade da Casa Legislativa e alimenta a percepção de anomia institucional.
Esse cenário gera consequências diretas para a confiança da população nas instituições representativas, reforçando críticas à falta de mecanismos céleres de punição a parlamentares envolvidos em crimes graves.
Fissuras no pacto democrático
A Operação Estado Anômico não se limita à esfera criminal. Ela expõe fissuras no pacto democrático, sobretudo no que tange à capacidade das instituições em isolar práticas criminosas que se infiltram no sistema político.
A inércia da ALBA diante de provas robustas fragiliza sua legitimidade, ao mesmo tempo em que coloca em questão o equilíbrio entre imunidade parlamentar e responsabilidade institucional. Em termos sociológicos, o caso representa um retrato concreto de um estado anômico, no qual normas e deveres de representação pública cedem espaço à lógica do poder paralelo.
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