Apenas um terço dos municípios baianos têm estrutura para promoção da igualdade racial, aponta pesquisa do IBGE

Dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC 2024), do IBGE, revelam que somente 136 das 417 prefeituras baianas possuem órgãos dedicados à igualdade racial, apesar da Bahia concentrar uma das maiores populações negras e pardas do país.

Em 2024, apenas 32,6% dos municípios baianos (136 de 417) tinham algum tipo de órgão voltado à promoção da igualdade racial, segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) divulgada pelo IBGE. Apesar de representar um percentual superior à média nacional (23,9%), o dado revela que dois terços das cidades do estado ainda não possuem políticas estruturadas para enfrentar o racismo e promover a inclusão.

A pesquisa aponta que a Bahia, segundo estado com maior proporção de pessoas pretas ou pardas (80,7%), fica em 9º lugar entre as 26 unidades da Federação na proporção de municípios com estrutura formal voltada ao tema. O Acre (81,8%), o Amapá (75,0%) e o Rio de Janeiro (46,7%) lideram o ranking.

Estruturas administrativas e áreas de atuação

Entre as 136 cidades baianas com estrutura na área, apenas cinco municípios — Cachoeira, Campo Formoso, Itaguaçu da Bahia, Salvador e Saubara — mantêm secretarias exclusivas dedicadas à igualdade racial. Na maioria dos casos (89,7%), o setor está vinculado a outras pastas, especialmente à assistência social, presente em 98 administrações.

A MUNIC 2024 também revela que 75,7% dessas cidades (103 municípios) desenvolvem programas e ações voltadas à população negra, 63,2% (86) direcionam esforços para comunidades quilombolas, e 83 cidades possuem políticas para povos de terreiro e comunidades de matriz africana. Em contrapartida, apenas 28 municípios (20,6%) executam ações voltadas à população indígena, embora o Censo 2022 aponte que 98,6% das cidades baianas têm presença indígena.

Orçamento para igualdade racial ainda é exceção

Em 2023, apenas 13 prefeituras (3,1%) da Bahia incluíram previsão orçamentária específica para políticas de igualdade racial. Dentre essas, quatro cidades — Alagoinhas, Camaçari, Feira de Santana e Salvador — conseguiram executar mais de 90% do valor previsto. Outras, como Pojuca e Santa Bárbara, não executaram os recursos, e Catu e Nova Viçosa não souberam informar o montante gasto.

Apesar da baixa proporção, o índice baiano superou a média nacional (1,8%), colocando o estado em 7º lugar no ranking. Estados como Amazonas, Roraima, Sergipe e Tocantins não registraram investimento algum.

Denúncias e políticas complementares

A pesquisa mostra que 134 municípios (32,1%) possuem órgãos responsáveis por receber e acompanhar denúncias de discriminação étnico-racial, uma taxa próxima à média brasileira (31,9%). Além disso, 67 municípios (16,1%) desenvolveram ações voltadas aos povos ciganos, principalmente nas áreas de assistência social (60), saúde (40) e educação (39).

A Bahia é o segundo estado com mais comunidades ciganas permanentes (35), ficando atrás apenas de Minas Gerais (44).

Avanços em transporte e urbanização

O levantamento do IBGE também destaca a expansão do transporte por aplicativo, presente em 48 municípios (11,5%), um crescimento de 84,6% entre 2020 e 2024. Ainda que o número permaneça abaixo da média nacional (26,3%), a Bahia teve o 12º maior crescimento no país.

Entre 2020 e 2024, o número de municípios com ciclovias subiu de 79 para 87 (+10,1%), superando o crescimento médio nacional (+6,0%). Já a oferta de gratuidade total no transporte coletivo existe em 63 cidades (15,1%), sendo diária em 33 delas (7,9%).

Redução de áreas irregulares e moradias precárias

A MUNIC aponta uma redução significativa nas condições habitacionais irregulares. Entre 2020 e 2024, houve queda de 15,1% no número de cidades com favelas, 31,9% em cortiços, 5,9% em loteamentos irregulares e 15,4% em ocupações urbanas.

Apesar disso, 18,9% dos municípios baianos ainda registram presença de favelas ou mocambos, um índice ligeiramente superior à média nacional (18,2%). Em contrapartida, cresceu o número de cidades sem nenhum tipo de assentamento precário, passando de 81 para 109 (+34,6%), o que representa 26,1% dos municípios do estado.

Persistência de déficit histórico

Os resultados da MUNIC 2024 revelam uma contradição estrutural da Bahia: o estado com uma das maiores populações negras do país ainda carece de políticas públicas efetivas para promoção da igualdade racial. Embora avanços pontuais sejam observados — como a criação de secretarias exclusivas e a execução orçamentária em cidades de maior porte —, a ausência de estrutura administrativa em mais de 60% das prefeituras revela a persistência de um déficit histórico de representatividade e investimento social.

A expansão de programas voltados a comunidades quilombolas e de matriz africana demonstra maior sensibilidade cultural, mas a escassez de recursos, especialmente em municípios pequenos, continua a limitar o impacto dessas políticas. A mesma lógica se aplica ao transporte e à habitação, onde avanços pontuais coexistem com desigualdades estruturais.

Principais dados

1. Estruturas de promoção da igualdade racial

  • Municípios com órgão voltado à igualdade racial: 136 de 417 (32,6%)
  • Média nacional: 23,9%
  • Posição da Bahia entre os estados:
  • Estados com maiores índices: Acre (81,8%), Amapá (75,0%), Rio de Janeiro (46,7%)
  • Estados com menores índices: Santa Catarina (8,1%), Tocantins (8,6%), Mato Grosso (14,9%)

Tipo de estrutura:

  • Secretarias exclusivas: 5 (Cachoeira, Campo Formoso, Itaguaçu da Bahia, Salvador, Saubara)
  • Subordinadas a outras secretarias: 122 (89,7%)
  • Ligadas à assistência social: 98

2. Programas e ações afirmativas

Municípios com programas e ações específicas:

  • População negra: 103 (75,7%)
  • Quilombolas: 86 (63,2%)
  • Povos de matriz africana / terreiros: 83
  • População indígena: 28 (20,6%)

Comparativo nacional:

  • Média Brasil – população negra: 67,2%
  • Média Brasil – população indígena: 28,5%

População indígena na Bahia (Censo 2022):

  • Cerca de 230 mil pessoas
  • Presentes em 411 dos 417 municípios (98,6%)

3. Orçamento público e execução financeira

  • Municípios com previsão orçamentária para igualdade racial (2023): 13 (3,1%)
  • Média nacional: 1,8%
  • Posição da Bahia: 7ª
  • Estados com maior índice: Amapá (25,0%), Acre (4,5%), Rio de Janeiro (4,3%)
  • Estados sem recursos previstos: Amazonas, Roraima, Sergipe, Tocantins

Execução orçamentária na Bahia:

  • Acima de 90%: Alagoinhas, Camaçari, Feira de Santana, Salvador
  • Não executaram: Pojuca, Santa Bárbara
  • Não informaram: Catu, Nova Viçosa

4. Denúncias e políticas complementares

  • Municípios com órgão para receber e acompanhar denúncias étnico-raciais: 134 (32,1%)
  • Média nacional: 31,9%
  • Posição no ranking nacional: 13ª
  • Maiores índices: Rio de Janeiro (52,2%), Pernambuco (49,2%), Alagoas (45,1%)

Povos ciganos:

  • Municípios com ações: 67 (16,1%)
  • Maiores áreas de atuação:
    • Assistência social: 60 cidades
    • Saúde: 40
    • Educação: 39
  • Posição nacional: 6ª
  • Comunidades ciganas permanentes: 35 (2º maior número do país, atrás de Minas Gerais com 44)

5. Transporte urbano

Serviços por aplicativo (Uber, 99, etc.):

  • 2024: 48 municípios (11,5%)
  • 2020: 26 municípios
  • Crescimento: +84,6%
  • Média nacional: 26,3%
  • Crescimento nacional: +66,9%
  • Posição da Bahia: 12ª

Outros meios de transporte (2020–2024):

  • Vans: queda de 364 → 350 (-3,8%)
  • Táxis: leve aumento de 317 → 318 (+0,3%)
  • Mototáxis: 316 → 317 (+0,3%)
  • Municípios sem transporte: aumento de 12 → 19 (+58,3%)

Gratuidade total no transporte coletivo:

  • 63 municípios (15,1%)
  • Diária: 33 (7,9%)
  • Média nacional (diária): 11,7%

Ciclovias:

  • 2020: 79 municípios
  • 2024: 87 municípios
  • Crescimento: +10,1%
  • Média nacional: +6,0%

6. Habitação e urbanização

Redução de áreas precárias (2020–2024):

  • Favelas: 93 → 79 (-15,1%)
  • Cortiços: 94 → 64 (-31,9%)
  • Loteamentos irregulares: 304 → 286 (-5,9%)
  • Ocupações urbanas: 91 → 77 (-15,4%)

Comparativo nacional:

  • Queda média Brasil – favelas: -3,1%
  • Cortiços: -9,2%
  • Loteamentos: +0,8%
  • Ocupações: -7,9%

Municípios sem favelas, cortiços ou ocupações:

  • 2020: 81
  • 2024: 109 (+34,6%)
  • Representam 26,1% das cidades da Bahia
  • Média nacional: 28%

avanços pontuais

  • A Bahia apresenta avanços pontuais em políticas de igualdade racial e redução de moradias precárias.
  • Apenas 1 em cada 3 municípios tem estrutura administrativa voltada à igualdade racial.
  • Baixo investimento orçamentário limita a efetividade das ações.
  • Transporte e mobilidade urbana mostram expansão moderada, com destaque para o crescimento de aplicativos e ciclovias.
  • Indicadores habitacionais sinalizam melhora, mas ainda coexistem desigualdades estruturais.

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