BC mantém juros básicos em 15% ao ano pela terceira vez consecutiva em 2025

O Banco Central manteve a Selic em 15% ao ano pela terceira vez consecutiva, justificando a decisão pela inflação acima da meta e pelas incertezas externas. O IPCA acumulado em 12 meses está em 5,17%, e o BC prevê crescimento de 2% para a economia em 2025. O Copom mantém postura cautelosa e admite a possibilidade de novas altas, caso o cenário inflacionário piore.
Banco Central mantém cautela diante da inflação e incertezas externas.

O Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (05/11/2025) manter a Taxa Selic em 15% ao ano, pela terceira reunião consecutiva do Comitê de Política Monetária (Copom). A decisão, tomada por unanimidade, reflete o cenário de desaceleração da economia brasileira e de inflação ainda acima da meta oficial, em meio à instabilidade dos mercados globais.

Em comunicado divulgado após o encontro, o BC afirmou que o ambiente externo segue incerto, especialmente devido à política monetária dos Estados Unidos e aos reflexos sobre as condições financeiras internacionais. O texto destacou que, embora a atividade econômica doméstica venha se enfraquecendo, a inflação permanece resistente, o que impede cortes na taxa de juros.

“O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. O comitê avalia que a manutenção do nível corrente da taxa de juros por período prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, declarou o Copom.

O colegiado também não descartou novas altas na Selic “caso julgue apropriado”, reforçando o tom conservador da política monetária. A taxa atual é a mais elevada desde julho de 2006, quando atingiu 15,25% ao ano.

Inflação ainda acima da meta definida para 2025

A Selic é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para conter a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em setembro, o IPCA avançou 0,48%, influenciado pelo aumento na conta de energia elétrica, acumulando alta de 5,17% em 12 meses, acima do teto da meta contínua de 4,5%.

Apesar disso, o IPCA-15 de outubro, considerado uma prévia do índice oficial, ficou abaixo das expectativas de mercado, pressionado pela queda nos preços dos alimentos, que recuam há cinco meses consecutivos.

Desde janeiro, o Brasil adota o modelo de meta contínua de inflação, que estabelece uma meta de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o BC busca manter o IPCA entre 1,5% e 4,5%, avaliando os resultados mensalmente e não apenas ao fim de cada ano.

Segundo o Relatório de Política Monetária divulgado em setembro, o BC revisou para 4,8% a projeção do IPCA em 2025, mas alertou que o resultado final dependerá do comportamento do dólar, da inflação de serviços e do cenário externo. O próximo relatório será apresentado em dezembro.

Já o Boletim Focus, compilado semanalmente pelo BC junto a instituições financeiras, aponta expectativa de inflação em 4,55% para o fim de 2025 — abaixo da projeção anterior de 4,8%.

Juros altos freiam economia e encarecem crédito

A manutenção da Selic em 15% ao ano tem efeitos diretos sobre o custo do crédito e o ritmo da economia. Juros elevados desestimulam o consumo e o investimento, contribuindo para conter a demanda agregada e reduzir pressões inflacionárias. Por outro lado, freiam o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e agravam o custo do endividamento de famílias e empresas.

De acordo com o próprio BC, a previsão de crescimento da economia brasileira foi rebaixada de 2,1% para 2% em 2025, enquanto o mercado projeta avanço de 2,16% no PIB. A Selic também serve de referência para as demais taxas de juros, influenciando operações de crédito, investimentos e títulos públicos negociados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic).

Ao manter a taxa em patamar elevado, o Banco Central busca garantir credibilidade à política monetária e ancorar as expectativas de inflação. Entretanto, o prolongamento do aperto monetário pode elevar o custo fiscal do país, já que a dívida pública é fortemente indexada à Selic.

Contexto internacional e prudência monetária

A decisão do Copom ocorre em meio à volatilidade dos mercados globais, marcada pela política de juros restritivos nos Estados Unidos e pela desaceleração da economia chinesa, que afetam o fluxo de capitais e o câmbio em países emergentes. O real tem oscilado em função dessas incertezas, e o Banco Central mantém postura vigilante diante de possíveis pressões externas sobre a inflação.

Economistas observam que o BC opta por uma estratégia de prudência prolongada, preservando a convergência da inflação à meta sem comprometer a estabilidade financeira. A tendência, segundo analistas, é que os juros permaneçam altos até meados de 2026, quando o ciclo de aperto monetário deverá começar a ser revertido, caso a inflação siga em trajetória de queda.

Dilema estrutural da política monetária

A manutenção da Selic em 15% ao ano evidencia o dilema estrutural da política monetária brasileira: a necessidade de controlar a inflação sem comprometer a recuperação econômica. Embora o BC atue dentro de seu mandato, a rigidez prolongada da taxa básica de juros levanta questionamentos sobre o equilíbrio entre estabilidade e crescimento, especialmente num contexto de estagnação do crédito e desemprego elevado.

O modelo de meta contínua, adotado para aperfeiçoar a previsibilidade da política monetária, ainda enfrenta desafios de comunicação e compreensão por parte do mercado e da sociedade. Além disso, o alto custo da dívida pública decorrente da Selic elevada reforça o debate sobre coordenação entre política fiscal e monetária, um tema que tende a dominar as discussões econômicas em 2026.


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