O escritor e ex-deputado Joaci Góes voltou a criticar a construção da Ponte Salvador-Itaparica, classificando o projeto como uma “prioridade questionável” diante das carências sociais e estruturais da Bahia. Em artigo publicado na Tribuna da Bahia em 06 de novembro de 2025, Góes recorda texto anterior de sua autoria, intitulado “A fantástica ponte de Itaparica”, publicado originalmente no jornal A Tarde em 27 de outubro de 2011, para reforçar o argumento de que o investimento bilionário na obra “representa um equívoco de prioridades”.
Crítica à recorrência da promessa política
Joaci Góes inicia o artigo observando que, em 19 anos de governos do PT na Bahia, a promessa de construção da ponte tem sido usada como carro-chefe eleitoral, reaparecendo a cada nova campanha. Ele afirma que o atraso na execução, longe de ser um fracasso, “milita em favor dos interesses coletivos”, já que desviar recursos para uma obra “faraônica” poderia agravar a escassez de investimentos em educação, saúde, saneamento e segurança pública.
Comparação internacional e custo social
Para fundamentar sua posição, Góes relembra a experiência pessoal de ter cruzado a Ponte Oresund, que liga a Suécia à Dinamarca, inaugurada em 2000. Ele destaca que a estrutura, com extensão semelhante à projetada entre Salvador e Itaparica, só foi construída após os países escandinavos resolverem suas demandas sociais básicas.
“Foram 18 anos de planejamento até que prioridades maiores fossem atendidas satisfatoriamente”, escreve o autor, contrapondo a realidade nórdica à situação brasileira.
Segundo Góes, o investimento estimado de R$ 7 bilhões na ponte baiana ignora um cenário de colapso nos serviços públicos essenciais. Ele questiona:
“Como justificar a construção de uma obra tão cara quanto adiável, quando salta aos olhos que vivemos numa sociedade onde a saúde, a educação e a segurança pública entraram em colapso?”.
Viabilidade econômica e transparência
O autor também questiona a viabilidade financeira do projeto e o silêncio das entidades de classe sobre o tema. Ele menciona planos apresentados pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), segundo os quais a ponte seria financiada por um fundo formado a partir da valorização imobiliária da Ilha de Itaparica. Góes, no entanto, ironiza a proposta:
“Ideias que no papel fazem sentido, mas na prática não se sustentam”.
Ao alertar sobre o risco de endividamento público e sobre a falta de clareza quanto aos futuros investidores e consórcios, o autor afirma que o ônus recairá inevitavelmente sobre o contribuinte.
“A ponte será bancada por mim e por você, que não temos o poder de decidir sobre a aplicação de nosso dinheiro”, adverte.
Metáfora social e crítica política
Em um trecho de forte carga simbólica, Joaci Góes compara o investimento à atitude de uma família de classe média-baixa que, após receber pequena herança, decide comprar uma lancha. A metáfora ilustra o contraste entre necessidade e ostentação, sintetizando a crítica do autor ao que considera insensatez administrativa e eleitoralismo.
Questões merecem reflexão
A reflexão proposta por Joaci Góes ultrapassa a discussão técnica da engenharia civil e atinge o cerne da gestão pública responsável. O autor expõe um dilema recorrente na política baiana: o uso de megaprojetos como símbolos de progresso em detrimento da eficiência e da justiça social. Sua crítica, retomada 14 anos após o texto original, adquire nova relevância em 2025, quando o governo estadual reafirma o compromisso com a execução da obra.
A permanência das mesmas dúvidas — custo, prazo, transparência e prioridade — revela uma contradição estrutural entre o discurso desenvolvimentista e a realidade socioeconômica do Estado. Ao denunciar a “desnecessária gastança”, Góes convoca o debate público sobre o verdadeiro significado de progresso em uma sociedade ainda marcada pela desigualdade.
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