Presidente Lula defende integração e paz regional na IV Cúpula CELAC-UE e propõe liderança feminina na ONU

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da Abertura da 4.ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da CELAC e da União Europeia (UE), realizada na Sala Plenária do Centro de Convenções do Hotel Estelar Santamar, em Santa Marta, Colômbia, com a presença de líderes latino-americanos e europeus.
No domingo (09/11/2025), durante a IV Cúpula da CELAC e União Europeia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a integração latino-americana, a cooperação internacional em segurança e uma agenda global de paz e democracia.

Em discurso realizado neste domingo (09/11/2025) na IV Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e da União Europeia (UE), realizada em Santa Marta, Colômbia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o fortalecimento da integração regional e a cooperação entre os blocos para construir uma ordem mundial baseada na paz, no multilateralismo e na multipolaridade.

Lula alertou que a América Latina vive um momento de fragmentação política e institucional, marcado por divisões ideológicas que dificultam avanços concretos. “Voltamos a ser uma região balcanizada e dividida, mais voltada para fora do que para si própria”, afirmou, destacando a necessidade de revitalizar o Acordo MERCOSUL-União Europeia como instrumento essencial de cooperação econômica.

Crise democrática e ameaças do extremismo político

O presidente advertiu que o extremismo político, a manipulação da informação e o crime organizado voltaram a ameaçar a estabilidade da região. Para ele, “a intolerância ganha força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar à mesma mesa”, minando o debate democrático e comprometendo a governabilidade.

Lula ressaltou que a democracia não se fortalece com violações do direito internacional. Segundo ele, “a democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvazia os espaços públicos e destrói famílias e negócios”.

Segurança e cooperação internacional

Na parte dedicada à segurança pública, o presidente enfatizou que nenhum país pode combater o crime transnacional isoladamente. Ele defendeu ações conjuntas, como a renovação do Comando Tripartite da Tríplice Fronteira, entre Brasil, Argentina e Paraguai, e o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, sediado em Manaus.

“Não existe solução mágica para acabar com a criminalidade. É preciso reprimir o crime organizado, estrangular seu financiamento e eliminar o tráfico de armas”, afirmou. Para Lula, ações coordenadas e o intercâmbio de informações são instrumentos decisivos para combater crimes financeiros, o tráfico de drogas, armas e pessoas.

Integração econômica e o Acordo MERCOSUL-União Europeia

Em sua análise econômica, Lula destacou que o Acordo MERCOSUL-UE representa um marco de multilateralismo comercial e poderá integrar um mercado de 718 milhões de pessoas. Ele manifestou otimismo quanto à conclusão das negociações até a próxima cúpula do bloco, prevista para dezembro.

“Temos um enorme potencial de aprofundar nossos laços econômicos. Espero que os dois blocos possam finalmente dizer sim para o comércio internacional baseado em regras, como resposta ao unilateralismo”, afirmou, apontando que a América Latina precisa superar o papel histórico de fornecedora de matérias-primas e mão de obra barata.

COP30 e transição energética

O presidente também mencionou a COP30, realizada na Amazônia, destacando a importância da transição energética e do Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), lançado na Cúpula de Líderes Climáticos. “O TFFF é uma solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas”, declarou.

Segundo Lula, a América Latina pode liderar o processo global de redução da dependência de combustíveis fósseis, ao oferecer fontes seguras e sustentáveis de energia limpa. “Nossa região é fonte confiável de energia e pode acelerar a transformação verde do planeta”, afirmou.

Proposta histórica na ONU e igualdade de gênero

Ao encerrar seu discurso, Lula apresentou uma proposta inédita: a indicação de uma latino-americana para o cargo de Secretária-Geral da ONU. Ele observou que, em quase 80 anos de história das Nações Unidas, nenhuma mulher ocupou o posto máximo da organização.

“É chegada a hora de termos uma latino-americana à frente da ONU. Precisamos enviar ao mundo um sinal de que América Latina, Caribe e Europa estão comprometidos com uma agenda de paz, cooperação e igualdade”, disse o presidente.

A Cúpula e seus objetivos estratégicos

A IV Cúpula CELAC-UE é o décimo encontro birregional desde 1999 e deve resultar na “Declaração de Santa Marta” e no “Mapa do Caminho 2025–2027”, que traçarão diretrizes para projetos conjuntos em segurança, meio ambiente, tecnologia e comércio.

A CELAC, criada em 2010, reúne 33 países latino-americanos e caribenhos e atua na promoção da segurança alimentar, saúde, energia e transformação digital. A Colômbia exerce a presidência pro tempore em 2025, sucedendo Honduras e antecedendo o Uruguai, que assumirá em 2026. O Brasil retomou sua participação plena em 2023, após três anos de afastamento, reafirmando a integração regional como prioridade diplomática.

Mediação e cooperação

O discurso de Lula na Cúpula CELAC-UE reforça sua estratégia de reposicionar o Brasil como ator global de mediação e cooperação, alinhado a uma política externa multilateralista e autônoma. Contudo, a retórica de integração enfrenta obstáculos internos e externos: disputas ideológicas regionais, dependência econômica e resistência europeia ao acordo comercial. A proposta de liderança feminina na ONU surge como símbolo diplomático de reconciliação entre idealismo e pragmatismo político.


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