A noite de 31 de outubro de 2025 (sexta-feira) foi marcada por emoção e recorde de audiência na televisão aberta brasileira. O jornalista William Bonner despediu-se do Jornal Nacional após 29 anos na bancada e 26 como editor-chefe, encerrando uma trajetória que definiu o padrão de credibilidade e rigor do telejornalismo nacional. Ao lado de Renata Vasconcellos, Bonner anunciou sua nova fase profissional: em 2026, passará a apresentar o Globo Repórter ao lado de Sandra Annenberg, consolidando sua transição para o jornalismo documental.
A mudança integra uma reorganização estrutural no jornalismo da TV Globo, que promoveu Cristiana Sousa Cruz ao cargo de editora-chefe do Jornal Nacional e oficializou César Tralli como novo âncora, com estreia marcada para 3 de novembro. A edição histórica desta sexta-feira reuniu, no último bloco, Bonner, Vasconcellos e Tralli, simbolizando a passagem de bastão entre gerações e o início de um novo ciclo para o mais importante telejornal do país — um marco que encerra uma era no telejornalismo brasileiro e na própria história informacional do Brasil contemporâneo.
O fim como prelúdio de um novo começo
O encerramento da jornada de William Bonner à frente do Jornal Nacional foi mais do que uma troca de comando — representou o fim de um ciclo que moldou o jornalismo televisivo brasileiro desde os anos 1990. Com voz embargada e discurso sereno, Bonner afirmou que deixa o telejornal “com a sensação de missão cumprida e o entusiasmo de quem recomeça”.
“É a aventura de começar algo novo”, declarou ao vivo, diante de milhões de telespectadores. “Torço para que não seja um fracasso fenomenal, mas se for, tudo bem. Eu vou fazer o meu melhor.”
A fala sintetizou o tom leve e humano que o jornalista imprimiu à despedida, pontuada por lembranças e reconhecimentos.
Renata Vasconcellos, sua parceira de bancada desde 2014, emocionou-se ao afirmar que trabalhar com Bonner foi “um privilégio e uma escola”.
“William é um jornalista de referência. A precisão dele com as palavras, a ética no exercício da profissão e o compromisso com a verdade marcaram o jornalismo brasileiro”, afirmou.
Três décadas de um estilo inconfundível
William Bonner ingressou no Jornal Nacional em 1996, substituindo Sérgio Chapelin e Cid Moreira, e consolidou um estilo editorial que combinava formalidade, clareza e sobriedade. Sob sua liderança, o JN enfrentou transformações tecnológicas, crises políticas e mudanças profundas na forma de consumo de informação.
Durante sua gestão, o telejornal passou a adotar um tom mais analítico e menos protocolar, com ênfase em contextualização e linguagem direta.
“O JN sempre teve um papel de curadoria do país. Nós organizamos o caos informativo do dia e mostramos o que de fato importa”, explicou Bonner em entrevista ao O Globo, horas antes da despedida.
Em seu balanço, o jornalista destacou as mudanças no comportamento do público e a necessidade de adaptação do noticiário à era digital.
“Quando comecei, o JN era a principal fonte de informação. Hoje, a informação chega antes, em muitas telas. Nosso trabalho é dar sentido a isso”, afirmou.
A transição cuidadosamente planejada pela Globo
A saída de Bonner vinha sendo discutida internamente desde 2020, quando ele expressou o desejo de dedicar mais tempo à vida pessoal e à família. O diretor de jornalismo da Globo, Ricardo Villela, confirmou que a emissora se preparou por anos para garantir uma transição estável e respeitosa.
“William nos procurou há cinco anos. Ele queria encontrar outro caminho, mas sem ruptura. A saída dele é planejada, ponderada e marca um novo ciclo no jornalismo da Globo”, disse Villela, acrescentando que a emissora “segue comprometida com o jornalismo ético e factual que o público espera”.
Com a mudança, Cristiana Souza Cruz, editora adjunta, assume o posto de editora-chefe do Jornal Nacional, cargo ocupado por Bonner desde 1999. Segundo Villela, ela “representa uma nova geração de liderança, formada dentro da redação e comprometida com a mesma linha editorial que consagrou o telejornal”.
César Tralli assume a bancada e fala em “entregar de corpo e alma”
O jornalista César Tralli, de 54 anos, será o novo âncora do Jornal Nacional. Com 32 anos de carreira, ele já atuou como repórter, correspondente internacional e apresentador do Jornal Hoje e do Hora 1. Tralli descreveu sua chegada ao JN como “a maior responsabilidade profissional da vida”.
“A minha expectativa é de poder dar o meu melhor, continuar dando o meu melhor. Entregar de corpo e alma. Participar ativamente dessa equipe maravilhosa do JN”, declarou. “Tenho absoluta consciência da responsabilidade que esse posto representa e da importância desse telejornal para o país.”
A nova composição da bancada — Tralli e Renata Vasconcellos — foi celebrada internamente. Para os bastidores da Globo, a dupla une o vigor da nova geração à experiência consolidada. Tralli, que mantém forte presença nas redes sociais, afirmou que continuará a “humanizar o jornalismo sem perder a seriedade”.
“Mostro bastidores, família, momentos pessoais — mas não falo de notícias fora da tela. É importante mostrar que há pessoas reais por trás da informação”, disse o jornalista, que é casado com a apresentadora Ticiane Pinheiro e tem mais de 4 milhões de seguidores no Instagram.
Audiência recorde e comoção nacional
A edição de despedida de Bonner alcançou audiência comparável a finais de novela, atingindo 23 pontos de média e picos de 24, segundo o Kantar Ibope. Cada ponto representa 199 mil domicílios na Grande São Paulo.
A repercussão nas redes sociais foi imediata: hashtags como #ObrigadoBonner, #JornalNacional e #FimDeUmaEra ficaram entre os assuntos mais comentados do país por mais de 12 horas. Diversos jornalistas e personalidades manifestaram reconhecimento público.
A apresentadora Sandra Annenberg, sua futura parceira no Globo Repórter, publicou mensagem de boas-vindas:
“Será uma honra dividir o palco com você, Bonner. Seguimos juntos, com o mesmo propósito: contar boas histórias com alma e verdade.”
Do telejornal ao documentário: o novo desafio no Globo Repórter
A partir de fevereiro de 2026, William Bonner passa a integrar o elenco fixo do Globo Repórter, sucedendo nomes como Sérgio Chapelin, Glória Maria e Alexandre Garcia. Sua estreia deve ocorrer em março, com uma reportagem especial gravada em Nova York, explorando “a cidade como organismo vivo e suas transformações invisíveis”, segundo a sinopse preliminar.
O jornalista também será responsável por uma nova série de edições especiais do programa, intitulada “Globo Repórter Personalidades”, dedicada a trajetórias de brasileiros notáveis em diferentes áreas. O formato é inspirado nos documentários biográficos da BBC e da PBS, com abordagem mais imersiva.
Bonner afirmou que vê o novo projeto como “um reencontro com o jornalismo narrativo”.
“Depois de tantos anos no ritmo frenético da notícia diária, é uma oportunidade de mergulhar fundo em histórias humanas e universais”, disse.
A herança de credibilidade e o desafio da era digital
A trajetória de Bonner no Jornal Nacional consolidou um padrão de comunicação que influenciou gerações de jornalistas. Sua linguagem — direta, precisa e contida — moldou o que se convencionou chamar de “padrão Globo de telejornalismo”.
No entanto, o desafio agora é manter essa credibilidade em um contexto fragmentado, em que as redes sociais competem pela atenção e pela narrativa.
“Hoje, a verdade não é mais tão importante. O que importa é a versão. E é aí que o jornalismo precisa resistir”, disse Bonner, em uma das frases mais citadas da noite.
A Globo tem buscado modernizar o formato do Jornal Nacional com o uso de gráficos dinâmicos, linguagem mais conversacional e integração multiplataforma. Ainda assim, o telejornal mantém sua função institucional: ser um ponto de referência nacional em meio à avalanche informacional.
O encerramento de um ciclo na história da televisão brasileira
A saída de William Bonner do Jornal Nacional não é apenas a substituição de um apresentador; é o encerramento de um ciclo histórico que consolidou o telejornalismo como eixo central da vida pública brasileira. O JN, desde sua estreia em 1º de setembro de 1969, atravessou regimes, redemocratizações, crises econômicas e revoluções tecnológicas, mantendo-se como o principal mediador entre o país real e o país televisivo. Bonner, que assumiu a bancada em 1996, foi o rosto dessa continuidade — e, em muitos aspectos, o fiador da credibilidade da televisão aberta em tempos de desinformação.
Durante quase três décadas, o jornalista representou o equilíbrio entre autoridade e serenidade, características que o transformaram em um símbolo institucional da confiança. Sua despedida, portanto, não é apenas pessoal: ela encerra o período em que a TV aberta detinha o monopólio da narrativa nacional. O Jornal Nacional, que antes anunciava os fatos do dia para um país que esperava o relógio marcar 20h30, hoje divide espaço com a instantaneidade das redes sociais e o poder viral das plataformas digitais.
No plano simbólico, essa transição marca a passagem definitiva da era da televisão de massa — caracterizada por uma audiência unificada, centralizada e hierárquica — para uma comunicação descentralizada, personalizada e fragmentada. A figura de Bonner sintetiza essa ponte entre dois mundos: o da autoridade do estúdio e o da volatilidade da era digital. Ele foi o último grande apresentador formado sob o modelo de broadcast nacional, em que o apresentador não era apenas narrador dos fatos, mas também voz moral e mediadora entre Estado, imprensa e sociedade.
Ao anunciar sua ida para o Globo Repórter, Bonner desloca-se do terreno da notícia imediata para o campo do jornalismo interpretativo e documental, sinalizando uma mudança de ritmo e de função social. A emissora, ao integrá-lo ao formato de Sandra Annenberg, reafirma a aposta em conteúdos de credibilidade e apelo emocional, voltados para um público que valoriza a profundidade em meio ao excesso informativo. O Globo Repórter, com mais de 50 anos de existência, mantém viva a tradição do jornalismo que explica o Brasil — e não apenas o noticia.
Há também um elemento geracional nessa transição. O público que cresceu com o Jornal Nacional envelheceu com Bonner. Ao transferi-lo para um programa de caráter reflexivo, a Globo tenta preservar o vínculo afetivo com essa audiência madura, enquanto abre espaço no JN para novas vozes e linguagens que dialoguem com as gerações digitais. É um gesto estratégico: manter a memória enquanto reformula a forma.
Por fim, a despedida de Bonner é também uma declaração sobre o futuro do jornalismo televisivo. Em um ambiente saturado por opinião e ruído, sua postura discreta e rigorosa resgata o valor da precisão e da ética — virtudes que se tornam revolucionárias em tempos de relativismo informativo. A história do Jornal Nacional, portanto, segue viva, mas a era Bonner termina como um marco: a passagem da TV que narrava o país para a TV que compete com ele pela atenção.
*Com informações do Jornal O Globo e Jornal Nacional.

Confira vídeo
Leia +
Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




