Criado para promover a integração e reduzir assimetrias regionais na América do Sul, o Banco de Desenvolvimento FONPLATA consolidou-se como instituição financeira multilateral estratégica e, em 2025, ampliou sua atuação no Brasil ao firmar um empréstimo internacional de US$ 64 milhões com a Prefeitura de Feira de Santana, destinado a obras estruturantes de infraestrutura urbana, drenagem, mobilidade e prevenção de desastres.
O Banco de Desenvolvimento FONPLATA, anteriormente denominado Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Rio da Prata, é uma organização internacional multilateral formada por Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. A instituição foi oficialmente estabelecida em 12 de junho de 1974, a partir de um processo diplomático iniciado ainda no final da década de 1960, com a assinatura do Tratado da Bacia do Prata, em 1969.
O banco iniciou suas operações em 1977, com sede em Sucre (Bolívia), e em 2002 transferiu sua estrutura administrativa para Santa Cruz de la Sierra, onde permanece até hoje. Desde sua origem, o FONPLATA tem como missão financiar projetos de pequena e média escala, priorizando áreas rurais, regiões de fronteira e centros urbanos com déficits estruturais, atuando de forma complementar às instituições nacionais de desenvolvimento.
Ao longo das últimas décadas, o FONPLATA passou por um processo gradual de fortalecimento institucional e modernização da governança. Em 2010, foi aprovado um novo modelo de gestão, com a criação do cargo de Presidente-Executivo, medida que ampliou a capacidade decisória e técnica da instituição. Na sequência, a elaboração de planos estratégicos de longo prazo e aumentos sucessivos de capital reforçaram sua capacidade de financiamento.
Consolidação financeira e acesso ao mercado internacional
O ano de 2016 representou um marco para o FONPLATA, com a obtenção da primeira classificação internacional de grau de investimento. Desde então, a instituição passou a acessar de forma recorrente o mercado internacional de capitais, emitindo títulos em países como Suíça e Japão, o que permitiu diversificar fontes de recursos e reduzir custos de captação.
Atualmente, o banco possui rating A− pela Standard & Poor’s, com perspectiva estável, e A2 pela Moody’s Investors Service, classificações que o posicionam entre as instituições multilaterais financeiramente sólidas da região. Em 2018, a modificação do Convênio Constitutivo consolidou formalmente a instituição como Banco de Desenvolvimento FONPLATA, abrindo espaço para alianças estratégicas e futura ampliação do quadro de países membros.
A atuação do banco concentra-se majoritariamente em infraestrutura, conectividade regional, desenvolvimento urbano e meio ambiente, além de projetos voltados ao desenvolvimento produtivo e social. Desde 2019, o FONPLATA também exerce papel relevante na integração regional ao assumir a administração fiduciária do Fundo para a Convergência Estrutural do MERCOSUL (FOCEM).
Nos últimos anos, a instituição incorporou agendas contemporâneas ao seu portfólio. Em 2022, implementou um Quadro de Dívida Sustentável, alinhado à Agenda 2030 da ONU e ao Acordo de Paris, e aprovou o Plano Estratégico Institucional 2022–2026, estruturado em objetivos interligados de crescimento, sustentabilidade e inclusão. Em 2023 e 2024, lançou linhas específicas voltadas a gênero, juventude e integração regional, além de autorizar aumento do capital e a incorporação de novos membros até 2027.
Do perfil institucional à operação em Feira de Santana
É nesse contexto de expansão e fortalecimento que se insere a operação firmada com a Prefeitura de Feira de Santana, na Bahia. Na sexta-feira (12/12/2025), o prefeito José Ronaldo de Carvalho assinou um contrato de financiamento internacional de US$ 64 milhões — cerca de R$ 346 milhões — com o Banco de Desenvolvimento FONPLATA, destinado à execução de um amplo pacote de obras estruturantes de infraestrutura urbana.
A formalização ocorreu por videoconferência com a diretoria do banco, sediada em Santa Cruz de la Sierra, e contou, pelo lado do FONPLATA, com a participação dos executivos Luciana Botafogo, Michel Ungo, Oscar Carvallo e Marco Diniz. Representando o município, estiveram presentes secretários e dirigentes estratégicos da administração, reforçando o caráter técnico e institucional da operação.
Segundo a prefeitura, os recursos serão aplicados em drenagem e macrodrenagem, mobilidade urbana, pavimentação, requalificação viária, urbanização de bairros e na duplicação da Avenida Artêmia Pires Freitas. O financiamento também inclui a implantação do CEMADEN Municipal (Centro de Monitoramento de Desastres Naturais), estrutura voltada ao acompanhamento em tempo real e à emissão de alertas preventivos para enchentes e alagamentos.
O prefeito José Ronaldo destacou que o contrato é resultado de meses de trabalho técnico e da aprovação legislativa da Câmara Municipal, ressaltando que os projetos apresentados ao banco evidenciaram a capacidade institucional do município e a necessidade de enfrentar problemas urbanos históricos, especialmente relacionados a alagamentos e gargalos de mobilidade.
Cronograma e desafios da execução
De acordo com o secretário municipal de Planejamento, Carlos Brito, a abertura dos processos licitatórios está prevista para 26 de janeiro, antecedendo a emissão das Ordens de Serviço. As primeiras frentes de trabalho devem contemplar obras de drenagem e macrodrenagem em bairros como Queimadinha, Campo Limpo, Baraúnas e Feira X, além da duplicação da Avenida Artêmia Pires Freitas e da implantação do CEMADEN Municipal.
A contratação do financiamento internacional posiciona Feira de Santana entre os municípios brasileiros que recorrem a bancos multilaterais de desenvolvimento para viabilizar investimentos de grande porte em um cenário de restrição fiscal. A efetividade da operação, contudo, dependerá da capacidade de execução, do rigor técnico nas licitações e do cumprimento de prazos, fatores determinantes para que o financiamento se traduza em ganhos concretos para a população.
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